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indústria naval

- Publicada em 21 de Janeiro de 2016 às 21:14

Angra dos Reis espelha a crise da Petrobras

 01062011 PLATAFORMA P 56 DURANTE FASE DE CONSTRUÇÃO, NO ESTALEIRO BRASFELS, EM ANGRA DOS REIS RJ FOTO AGÊNCIA PETROBRAS

01062011 PLATAFORMA P 56 DURANTE FASE DE CONSTRUÇÃO, NO ESTALEIRO BRASFELS, EM ANGRA DOS REIS RJ FOTO AGÊNCIA PETROBRAS


AGENCIA PETROBRAS/DIVULGAÇÃO/JC
Desde o fim de novembro, o dia dos trabalhadores do estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, litoral Sul do Rio, começa com uma espécie de roleta-russa. As catracas eletrônicas ganharam a nova função de apontar a sorte dos 6,5 mil funcionários. Os mais afortunados recebem o sinal verde para seguir com suas funções, mas há 2 mil empregados que vão ver a "arma" disparar ao puxar o "gatilho". Já houve cerca de 600 vítimas, segundo o sindicato local.
Desde o fim de novembro, o dia dos trabalhadores do estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, litoral Sul do Rio, começa com uma espécie de roleta-russa. As catracas eletrônicas ganharam a nova função de apontar a sorte dos 6,5 mil funcionários. Os mais afortunados recebem o sinal verde para seguir com suas funções, mas há 2 mil empregados que vão ver a "arma" disparar ao puxar o "gatilho". Já houve cerca de 600 vítimas, segundo o sindicato local.
A história de funcionários que souberam seu destino como num jogo de azar assusta os que ficam. "Na última leva, ninguém ficou sabendo. Chegou na hora, bloqueou o crachá e foi demitido. Agora, todo mundo fica com medo de chegar ali e estar bloqueado", conta Daniel Castilho, que trabalha como esmerilhador e hoje convive com a insegurança sobre o futuro.
A roleta-russa do Brasfels é uma das faces reais do desmonte que ameaça a indústria naval, na esteira da crise que vem levando a Petrobras a cortar investimentos. A estatal, principal cliente dos estaleiros, vinha enfrentando dificuldades financeiras desde 2013. Em março de 2014, a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, apontou o envolvimento da empresa em um esquema bilionário de corrupção. Contratos com fornecedores ficaram sob investigação, e muitos foram suspensos.
No último ano, a alta do dólar e a queda no preço do petróleo complicaram ainda mais a situação da petroleira, que já reduziu duas vezes seu plano de investimentos 2015-2019 desde junho do ano passado. O último corte, anunciado na semana passada, eliminou US$ 32 bilhões da previsão de aportes, sinalizando que a estatal deverá apertar ainda mais o cinto no plano de 2016-2020.
A Sete Brasil, empresa criada para mandar construir localmente e operar navios-sonda para a Petrobras, também sob suspeita na Lava Jato, está, desde o fim de 2014, sem dinheiro para pagar os estaleiros e perdeu acesso a financiamentos cruciais para levar as obras adiante. Como se não bastasse, a petroleira cancelou encomendas que nem sequer haviam saído do papel e eram esperança de receita para a Sete Brasil no futuro.
Os trabalhadores de Angra ainda resistiram durante um tempo. Antes, foram demitidos funcionários dos estaleiros Atlântico Sul (em Pernambuco), Ecovix (Rio Grande do Sul) e Mauá (também no Rio). Em meados de dezembro, a lista cresceu ainda mais: o Estaleiro Ilha S.A. (Eisa) e sua subsidiária Eisa Petro Um, no Rio, fecharam as portas, demitiram 3 mil e pediram recuperação judicial. Ao todo, os estaleiros dispensaram 17,8 mil trabalhadores em 2015 em todo o País, de acordo com o Sinaval, entidade que representa a indústria naval.
Arthur Barbosa da Silva, de 66 anos, trabalhava como supervisor de projetos no Brasfels. No dia 2 de fevereiro, completaria 50 anos no estaleiro, que começou se chamando Verolme e trocou de dono em 2000. "Foi meu primeiro emprego. É uma vida. Senti um pouco de tristeza por causa disso, estou muito acostumado com o ambiente de trabalho. Estou um pouco amuado, mas acho que a gente acostuma com a vida aqui fora. Vou tentar isso."
Diante da sentença das catracas eletrônicas do Brasfels, trabalhadores agora desempregados tiveram de repensar o futuro. Um ex-funcionário, que pediu para não ser identificado por medo de represálias, conta que cortou despesas em casa e já pensa em vender o carro. "Meu plano era ter filho neste ano. Minha mulher estava havia três semanas sem tomar remédio (contraceptivo). Essa ideia agora está suspensa."
As demissões no estaleiro desenterraram um filme antigo, com cara de anos 1980, que agora passa pela cabeça dos gestores e dos habitantes de Angra. Antes de se tornar Brasfels, o Verolme ficou desativado por cerca de cinco anos. "Todo aquele comércio de Jacuecanga (bairro onde está instalada a unidade) morreu. Existiam as lojas, mas não o comércio. Essa é a nossa preocupação: de que haja uma crise sem precedentes no estaleiro, no setor naval, e tudo isso volte a acontecer", afirma o secretário municipal de Atividades Econômicas, Marcelo Oliveira.
A prefeitura calcula que há cinco trabalhadores indiretos para cada funcionário da construção naval. Se as 2 mil demissões anunciadas forem concretizadas, pelo menos outras 10 mil pessoas terão seus empregos ameaçados. Nos cofres da cidade, os tempos de vacas magras já chegaram. Entre janeiro e novembro de 2015, o Brasfels deixou de pagar R$ 990 mil em ISS à prefeitura, o equivalente a 20% da fatura que foi paga em 2014.

Petros é contra pedido de recuperação judicial da Sete Brasil

A decisão da Petros, fundo de pensão da Petrobras, de votar contra a entrada em recuperação judicial da Sete Brasil desencadeou uma guerra de versões entre os sócios da empresa, criada para intermediar a contratação de sondas para o pré-sal no País. A polêmica expõe as divergências entre os sócios sobre o futuro incerto da Sete. Depois da reunião de sócios, a Petros justificou o voto contrário alegando não ter recebido informações relevantes para que votasse pelo pedido de recuperação.
A Sete Brasil, contudo, por meio de nota, informou que todos os pedidos de informações feitos pelos sócios do FIP Sondas (cotistas que detêm 95% do capital da empresa) "foram atendidos pela empresa, que segue disponível a novas demandas". Poucas horas depois, a Petros, também através de uma nota, reiterou que a Sete "não respondeu às informações solicitadas de forma suficiente". Segundo a fundação, as respostas fornecidas não foram "consistentes".
Diante do impasse, a Petros afirma que aguarda a complementação dos dados solicitados. De acordo com um executivo próximo às negociações, ontem a direção da Sete Brasil enviou um e-mail ao FIP Sondas, perguntando se existia alguma pendência de resposta a algum cotista. O FIP Sondas teria respondido que não. Para o executivo, a Petros teria votado contra a recuperação judicial da Sete apenas para atender aos interesses da Petrobras, que está adiando, desde o ano passado, o fechamento de um novo acordo de encomenda de sondas.
A Petrobras, que também é sócia da Sete, enfrenta dificuldades financeiras e reduziu seu plano de investimentos para os próximos anos. A estatal negocia a redução das encomendas de sondas das 28 originalmente previstas para 14. "A Sete tem caixa apenas para os próximos seis meses. A Petrobras quer matar a Sete por asfixia", disse a fonte.
Na semana passada, a Petrobras confirmou que iniciou as negociações para vender sua participação de 63% na sua subsidiária Petrobras Argentina. A estatal tem a meta de vender US$ 14,4 bilhões em ativos durante este ano. Ela pretende se desfazer de fatias da BR Distribuidora e da Transpetro, além de alguns campos de petróleo.