Ônibus serão suspensos em dias de conflito

Nos últimos 12 meses, a Capital contabiliza 14 ônibus queimados em diferentes situações. Os cinco últimos e mais uma lotação foram incendiados na noite de terça-feira, em diferentes pontos da zona Sul, após a morte de um jovem pela Brigada Militar, supostamente envolvido com o tráfico de drogas. Diante da situação, a recomendação do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre é para que os ônibus não circulem em locais onde estejam ocorrendo conflitos.

Esse tipo de ação já vinha sendo noticiada em outras cidades do País e, ao que parece, pode se tornar uma prática frequente também na Capital, como forma de afronta ao Poder Público e à população, demonstrando a força das organizações criminosas e a rapidez de articulação. Uma hora após a morte do jovem, os coletivos foram queimados em diferentes bairros em um curto espaço de tempo - cerca de duas horas e meia. Nesta quinta-feira, os ônibus voltaram a circular normalmente na zona Sul, com policiamento reforçado nas garagens e em algumas rotas.

O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre, Adair da Silva, diz que reuniões vêm sendo realizadas com a BM desde os ataques para tentar prevenir novas situações. "Vamos mapear os locais com maior risco. A zona Sul se tornou um local preocupante. Na zona Norte, a violência era constante, mas, nos últimos meses, o trabalho da BM e nosso movimento por segurança reduziu em 50% os assaltos. Na zona Sul, continuam. Não podemos colocar em risco a vida dos trabalhadores e passageiros. A partir de agora, sempre que houver confronto entre a BM e os criminosos, suspenderemos a circulação dos ônibus", afirma.

Segundo Adair, na noite de quarta-feira, dois jovens ameaçaram incendiar mais um ônibus que circulava pela Lomba do Pinheiro. O sindicato, então, orientou a suspensão da circulação. "Não adianta pedirem para que nós continuemos o serviço. A integridade física das pessoas precisa ser preservada. Estamos trabalhando com a polícia para que o trajeto seja seguro. O que aconteceu foi lamentável, e os trabalhadores estão assustados", ressalta o presidente.

O comandante do Policiamento da Capital, tenente-coronel Mário Ikeda, considera que a posição do sindicato de ficar atento às situações de conflito e suspender a circulação quando houver risco de represália é válida, mas que precisa ser avaliada em cada caso. Segundo Ikeda, na situação ocorrida em setembro, quando dois ônibus e uma lotação foram queimados no Morro Santa Teresa, partiu de moradores revoltados com a morte de uma pessoa. "Independentemente de ser morador de uma região, o ato é um crime. Nesta semana, a ação foi articulada por uma facção criminosa, e nos preocupa a rapidez com que tantos veículos foram queimados. Estamos trabalhando com a repressão para não ocorrer novamente, pois gera sensação de insegurança e prejudica a sociedade como um todo", considera.

Segundo Ikeda, ao mesmo tempo que a criminalidade tem se tornado mais visível, a repressão da polícia se intensifica. A corporação vem observando que as quadrilhas envolvidas com o tráfico estão aumentando porque o consumo de entorpecentes também está crescendo. "Fazemos apreensões diárias de quantidades cada vez maiores de drogas e de armamentos. O tráfico também gera diversos crimes conexos, como o latrocínio, os homicídios e o roubo de veículos, que servem como caixa para os grupos", ressalta.