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Trabalho

- Publicada em 30 de Dezembro de 2015 às 18:02

Trabalho doméstico se torna menos atrativo

Em 2014, domésticas com idade entre 18 e 29 anos representavam 14%; em 2004 eram 30%

Em 2014, domésticas com idade entre 18 e 29 anos representavam 14%; em 2004 eram 30%


JOÃO MATTOS/JC
Nos últimos 10 anos houve um envelhecimento da categoria de trabalhadoras domésticas. Em 2004, as domésticas com idade entre 18 e 29 anos representavam 30% da categoria e, em 2014, o percentual caiu para 14%. O número pode indicar que a ocupação perdeu atratividade entre as mulheres mais jovens. Elas têm tido a chance de estudar mais e entram no mercado de trabalho em outras ocupações.
Nos últimos 10 anos houve um envelhecimento da categoria de trabalhadoras domésticas. Em 2004, as domésticas com idade entre 18 e 29 anos representavam 30% da categoria e, em 2014, o percentual caiu para 14%. O número pode indicar que a ocupação perdeu atratividade entre as mulheres mais jovens. Elas têm tido a chance de estudar mais e entram no mercado de trabalho em outras ocupações.
A análise está no estudo Pnad 2014 - Breves Análises, uma nota técnica feita com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e lançado nesta quarta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
"Há duas questões que vão afetar o setor daqui para frente. Um é o envelhecimento dos empregados. Com as melhorias nas condições econômicas, o setor se tornou pouco atrativo. Esse é um fator de estruturação, porque vai escasseando a mão de obra e a capacidade de negociação das trabalhadoras melhora", disse o diretor de estudos e políticas sociais do Ipea, André Calixtre. A outra questão é a PEC das Domésticas que, segundo ele, vai impulsionar a estruturação do setor, ao garantir direitos.
De acordo com a nota técnica do instituto, "a estrutura de proteção social do emprego doméstico tem melhorado ao longo dos últimos 10 anos, no entanto, permanece mais precária do que a média dos outros empregos". O texto cita os avanços legislativos com a aprovação recente da PEC das Domésticas e da Lei Complementar 150/15, que regulamenta a atividade e cujos efeitos devem refletir nas pesquisas dos próximos anos.
Outra transformação analisada é a da estrutura familiar dos brasileiros nos últimos 10 anos, que mostra arranjos diferentes do tradicional modelo formado por um casal com filhos. Os domicílios ocupados por casal com filhos diminuíram 10 pontos percentuais entre 2004 e 2014, passando de 54,8% para 44,8%. Esse modelo familiar cedeu lugar aos lares formados por casais sem filhos, com homens ou mulheres sozinhos e por lares chefiados exclusivamente por mulheres.
André Calixtre avalia que a queda de 10 pontos percentuais no período representa uma mudança rápida e profunda. "Temos uma sociedade mais moderna e aberta do que há 10 anos. Os arranjos familiares mudaram radicalmente. Está cada vez mais difícil compreender dentro do domicílio de quem é a renda principal e de quem é a renda secundária. Há uma mudança estrutural no modo de vida das pessoas", disse.
O estudo mostra que cresceu o número de domicílios em que os casais não pretendem ter filhos. Enquanto em 2004 representavam 12,4%, em 2014 eram 20,2%.
A análise do Ipea aponta que a base estruturante dos avanços sociais que vêm sendo feitos desde 2003 permanecem. Há crescimento real da renda do trabalhador, diminuição de desigualdades e aumento da escolaridade. Os dados da Pnad mostram uma redução na taxa da pobreza extrema que caiu 29,8% de 2013 para 2014.

Dados sociais surpreenderam positivamente o Ipea

Em análise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o Ipea afirma que a evolução dos dados sociais surpreendeu positivamente no ano passado, quando a economia ficou praticamente estagnada, mas que números como os do mercado de trabalho já antecipavam o "cenário crítico" de 2015.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no ano passado houve uma redução da pobreza extrema no País em todas as medições feitas, processo que foi acompanhado pela redução da desigualdade. A parcela da população com renda mensal per capita de até R$ 77,00, limite adotado no programa Brasil Sem Miséria do governo para medir a extrema pobreza, ficou em 2,48%, ante 3,53% do ano anterior e 3,21% em 2012. O índice de Gini, que mede a desigualdade, caiu de 0,525 para 0,515 no mesmo período (quanto menor o número, menor a desigualdade).
Em 2014, o Ipea gerou polêmica ao represar a divulgação da avaliação dos dados do ano anterior que mostraram uma interrupção do processo de redução da miséria no País. Segundo o órgão, a queda foi "estatisticamente insignificante". "A Pnad 2013 levantou muitas dúvidas e nós precisávamos esperar um segundo ano para ver o que estava acontecendo na sociedade brasileira", afirmou André Calixtre, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea.
Segundo ele, os dados levantados pelo IBGE no ano passado mostram que a rede de proteção social montada nos últimos anos deu resiliência à sociedade para enfrentar um cenário conjuntural adverso. "A força dessa musculatura ainda está para ser avaliada, evidentemente não é uma força ilimitada", acrescentou, ressaltando que a evolução dos indicadores em 2015 só ficará mais clara no ano que vem. Para o Ipea, os dados do emprego são um dos que mais suscitam preocupação.
Os dados da Pnad mostraram um aumento do desemprego (de 6,5% para 6,9%) e da informalidade (de 39,66% para 39,93%) no mercado de trabalho no ano passado. O crescimento do rendimento médio ficou abaixo de 1% (já descontada a inflação) pela primeira vez desde pelo menos 2005, início da série avaliada.
"Isso mostra sinais de estresse no mercado de trabalho anteriores à crise que se iniciaria ao final de 2014 e por todo o ano corrente", afirmou o Ipea no relatório. A Pnad também apontou que, ano passado, houve um aumento no número absoluto de crianças entre cinco e 14 anos trabalhando - de 839,6 mil em 2013 para 897 mil - após uma década de redução.
Para o Ipea, é preciso ainda aguardar para ver se o aumento foi uma flutuação pontual. O instituto também ponderou que, no campo, o aumento foi acompanhado por uma redução das jornadas do trabalho infantil (de 15,5 horas para 14,4 horas).