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Mercado de capitais

- Publicada em 29 de Dezembro de 2015 às 21:46

Processo de impeachment gera reflexos na Bovespa

Segundo analistas, os investidores enxergaram com bons olhos a possibilidade da queda de Dilma Rousseff

Segundo analistas, os investidores enxergaram com bons olhos a possibilidade da queda de Dilma Rousseff


MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/JC
O mercado de capitais parece ter comprado a ideia de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Na primeira quinzena de dezembro, pelo menos três episódios relacionados à crise política geraram efeitos imediatos na Bolsa de Valores brasileira. Entre os dias 1 e 9 deste mês, o Ibovespa chegou a acumular alta de 2,19% - uma breve trégua em meio às perdas acumuladas em 12 meses que ontem ultrapassavam o patamar de 13,5%.
O mercado de capitais parece ter comprado a ideia de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Na primeira quinzena de dezembro, pelo menos três episódios relacionados à crise política geraram efeitos imediatos na Bolsa de Valores brasileira. Entre os dias 1 e 9 deste mês, o Ibovespa chegou a acumular alta de 2,19% - uma breve trégua em meio às perdas acumuladas em 12 meses que ontem ultrapassavam o patamar de 13,5%.
No dia 3 de dezembro, por exemplo, o primeiro pregão após o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciar o acolhimento do pedido para a abertura do processo contra Dilma, foi marcado por fortes altas. O destaque ficou por conta dos papéis de empresas com participação estatal, como Petrobras e Eletrobras. As diversas classes de ativos dessas companhias subiram acima de 2%.
Nas ações preferenciais da petrolífera nacional - PETR4 -, a elevação foi ainda mais expressiva e alcançou 6,12% em apenas um dia. O dólar, por sua vez, caiu abaixo de R$ 3,80 (mais precisamente, cotado a R$ 3,7488 na venda). Para os especialistas, estes são os primeiros sinais de que os investidores enxergaram com bons olhos a possibilidade de queda da presidente do País.
"O mercado respondeu positivamente ao pedido de impeachment que passou a tramitar na Câmara dos Deputados. A bolsa subiu, o dólar baixou, e os juros futuros, que vinham mostrando elevação, desabaram", explica o agente autônomo de investimentos e sócio da Monte Bravo Investimentos Filipe Portella. O analista também comenta que os juros DI para janeiro de 2017 caíram 2 pontos-base (15,69%) naquela ocasião.
Portella lembra que a comissão de deputados ainda terá que emitir parecer sobre a abertura efetiva do processo no Congresso Nacional. A decisão de afastar a presidente só poderá ser tomada com o apoio de 342 parlamentares. Depois, o parecer teria de ser votado em plenário. Além disso, em caso de decisão favorável ao impeachment, a questão seria apreciada pelo Senado, e Dilma se afastaria do cargo até o término do julgamento.
Neste contexto, no dia 9 de dezembro, o mercado já refletiu de forma bastante otimista o que muitos consideraram a "primeira vitória" da comissão de impeachment. Ou seja, a formação do grupo de deputados foi majoritariamente composta por parlamentares da oposição em uma sessão recheada de polêmicas, em Brasília. O fato, de maneira isolada, teve mais força do que o próprio rebaixamento da perspectiva da nota de credito do País, divulgada pela Moody's, na mesma data.
Na cauda do cometa impeachment, e indiferentes ao parecer negativo da agência de classificação de risco, os ativos PETR3 e PETR4 subiram 10,77% e 7,29%, respectivamente. Os papéis ELET3 e ELET6 também foram alavancados em 4,39% e 3,02%. Já o dólar desvalorizou 1,20% sobre o Real.
Por outro lado, os movimentos inversos às expectativas do mercado, registrados no panorama político, também reproduzem resultados negativos no ambiente acionário. Um dos exemplos ocorreu em 7 de dezembro, quando a votação da comissão de impeachment foi adiada, e Dilma recebeu o apoio de cerca de 30 juristas. Naquele dia, PETR4 e PETR3 despencaram -4,39% e -5,37%. O dólar voltou a subir (0,53%), enquanto as elétricas permaneceram próximas da estabilidade, com ELET3 subindo 0,18 e ELT6 caindo 0,29%.

Movimento no mercado é semelhante ao deflagrado durante o período eleitoral

O posicionamento do mercado diante do ambiente político não chega a ser uma novidade. Algo semelhante já havia ocorrido em um movimento bastante claro, delineado a partir de março de 2014. Naquela ocasião, sempre que a presidente Dilma Rousseff oscilava negativamente na corrida eleitoral, o principal índice acionário do País - o Ibovespa - reagia com altas também puxadas pelos papéis de Petrobras e Eletrobras.
Para os analistas, isso ocorria porque as duas companhias concentram algumas das características que mais colaboram com a intensificação dos ranços do mercado contra a atual presidente. Agora, seja pela corrupção na Petrobras, seja pelo intervencionismo no setor elétrico, as duas estatais tendem a continuar refletindo de maneira mais potencializada os desdobramentos da tramitação do impeachment em 2016.
Durante a campanha presidencial, em 2014, a influência do resultado das urnas foi capaz de reverter até mesmo um cenário de queda generalizada nas ações ordinárias da Petrobras (PETR3), provocado pelos escândalos de desvio de recursos na companhia. No auge da crise, em março, os ativos tinham variação negativa de 21,95%, cotados a
R$ 12,48, após terem encerrado 2013 próximos a R$ 16,00.
Depois de seis pesquisas de intenção de votos, as altas acumuladas devolveram ganhos de 26,15% até de junho do mesmo ano. Na Eletrobras (ELET3), não foi diferente. Com os abalos eleitorais, a companhia elétrica nacional superava os 50% de alta na cotação dos papéis ordinários no mesmo período.
De lá pra cá, os papéis da petrolífera desabaram. No acumulado de 2015, as ações preferenciais PETR4 exibem desempenho negativo de 28,2%, de R$ 9,33 no dia 2 de janeiro a R$ 6,69 em 28 de dezembro. Do pico registrado em 2015, R$ 14,38, em 5 de maio, o tombo do papel já supera os 53% em pouco mais de sete meses. Em menor escala, as ações ordinárias - PETR3 - acumulam perdas de 4,33% em igual período. Mas, da maior cotação, também obtida em maio (R$ 15,66), a queda ultrapassa os 45%.

Mudança na presidência da República traria efeitos profundos para o Ibovespa

Uma velha máxima do mercado indica que a bolsa de valores sempre antecipa os acontecimentos econômicos. Nesse aspecto, atualmente, o Ibovespa vem patinado em razão da precificação prévia do que se espera para 2016. A exemplo do que ocorreu em 2015, quando foram revisadas as expectativas de crescimento para o PIB no decorrer do ano, um andamento mais tranquilo do ajuste fiscal ao longo de 2016 já seria responsável por promover alguns avanços para as projeções de PIB em 2017.
É o que aponta o sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho. Ele afirma que - enquanto não houver um desenlace do "imbróglio político" - é difícil vislumbrar uma arrancada da confiança dos agentes econômicos. A tese, segundo ele, não é válida apenas para a bolsa de valores e se aplica também ao cenário de investimentos.
Por isso, Bianchi traça dois cenários possíveis. No primeiro, Dilma não sofre o impeachment, sai fortalecida por superar um processo delicado e retoma as condições necessárias para comandar as reformas fiscais.
Já na hipótese contrária, em que o eventual impeachment se confirma, um novo governo, liderado pelo vice, Michel Temer (PMDB), poderia de fato construir uma base de coalização com objetivo e força política para implantar o ajuste fiscal tão celebrado pelos agentes do mercado. Nesse caso, segundo Bianchi, o impacto positivo na bolsa seria ainda mais profundo. "Isso, sim, daria um novo ânimo para bolsa. Com o Temer, por mais que não se conheçam as suas intenções, apenas o fator de mudança já bastaria para reativar o otimismo. Uma mudança de rumos reestabeleceria essa confiança de imediato", afirma Bianchi.
Em outras palavras, se em 2016 não ocorrerem revisões negativas para a economia em 2017, a bolsa deve ter desempenho positivo. Para Bianchi, se isso for confirmado em um cenário de inflação mais branda, com juros em queda, já no segundo semestre do próximo ano o panorama se tornaria mais positivo para a renda variável.
Por outro lado, até que a situação tome corpo, a previsão é de grandes picos de volatilidade provocadas pelo impeachment.