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Mercado de Capitais

- Publicada em 27 de Dezembro de 2015 às 19:01

Renda fixa se fortalece frente à bolsa

Apenas 26 papéis negociados na BM&FBovespa alcançaram, em 2015, uma rentabilidade superior ao CDI

Apenas 26 papéis negociados na BM&FBovespa alcançaram, em 2015, uma rentabilidade superior ao CDI


NELSON ALMEIDA/AFP/JC
Superar a renda fixa investindo em ações de empresas brasileiras vem se tornando uma tarefa cada vez mais difícil. Em 2015, o cenário de recessão econômica, inflação alta e instabilidade política prejudicou o desempenho das companhias nacionais e trouxe forte volatilidade ao mercado acionário. As aplicações conservadoras, por outro lado, ficaram ainda mais vantajosas com o aumento da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 14,25% ao ano - o maior patamar desde 2006.
Superar a renda fixa investindo em ações de empresas brasileiras vem se tornando uma tarefa cada vez mais difícil. Em 2015, o cenário de recessão econômica, inflação alta e instabilidade política prejudicou o desempenho das companhias nacionais e trouxe forte volatilidade ao mercado acionário. As aplicações conservadoras, por outro lado, ficaram ainda mais vantajosas com o aumento da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 14,25% ao ano - o maior patamar desde 2006.
Como consequência, apenas 26 papéis conseguiram retorno superior ao CDI (Certificado de Depósitos Interfinanceiros), balizador da rentabilidade da renda fixa. É a mesma quantidade verificada em 2011 e longe do pico em 2012, quando 77 ações conseguiram o feito, segundo estudo da provedora de informações financeiras Economática.
O levantamento considerou ações com giro diário de mais de R$ 5 milhões, integrantes ou não do Ibovespa - principal índice da Bolsa. A liderança ficou com a Braskem, que, apesar do envolvimento na Operação Lava Jato, se valorizou 74,18% no acumulado do ano. "É uma empresa com fundamentos muitos positivos e que se beneficia com a alta do dólar", diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV corretora.
Em meio à recessão mais severa desde 1990, quase nenhum setor escapou do desaquecimento econômico e dos reflexos sobre o valor de mercado das companhias. "As empresas que se alavancaram (aumentaram o endividamento) fortemente para crescer se prepararam para um cenário que não se realizou e agora estão com uma dívida que não cai com a economia", diz Michel Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper.
Uma das exceções ficou por conta das empresas do setor de papel e celulose, beneficiado pela desvalorização do real em relação ao dólar e pelo aumento do preço da commodity no mercado internacional. Não por acaso, a Fibria ocupa a vice-liderança do ranking, com valorização de 71,28% até 23 de dezembro, e é seguida de perto por Suzano e Klabin. Desempenho bem diferente do principal índice da Bolsa, que deve fechar o ano com queda de mais de 10%. "Além do fator cambial, a dinâmica de preços e a demanda para o setor de papel e celulose têm avançado de maneira sustentada, mesmo com a desaceleração da China", afirma Nicolas Takeo, analista da corretora Socopa.
Na avaliação de Viriato, do Insper, o grosso do impacto cambial sobre essas companhias já ocorreu, mas ainda é possível colher frutos. "O dólar subiu mais de 50% neste ano e pode ser que continue se valorizando no curto prazo, o que vai favorecer esses papéis."
Fora do setor de papel e celulose, um emaranhado de ações de companhias de diversos segmentos também apresentou boa rentabilidade. Em comum, elas mesclam boa gestão ou estão em áreas que sofrem menos com a retração do consumo. São as ações conhecidas como defensivas, grupo que inclui RaiaDrogasil, Cetip, Santander e BM&FBovespa. "Os segmentos mais conservadores, como o financeiro e o de alimentos e bebidas, acabam se saindo melhor quando o mercado enfrenta forte volatilidade. De maneira oposta, eles não se beneficiam tanto quando há forte expansão econômica", afirma Viriato
Para os investidores que estão de olho em 2016, Viriato lembra a máxima das aplicações em renda variável. "Não necessariamente as 'empresas vencedoras' do passado serão as do futuro."
Apesar do 2015 bastante desafiador para o mercado acionário, há quem veja espaço para um otimismo moderado. Na avaliação de Gesley Florentino, analista da Gradual, o lado positivo da atual conjuntura é que, ao menos, já há um consenso de que a retração econômica vai se repetir em 2016. "Pelo menos os ativos estão começando a ficar mais precificados, depois de eventos como o rebaixamento da nota de crédito do Brasil e a elevação da taxa de juros nos EUA. Acredito que pode ser um ano melhor para a bolsa", afirma.
Para Viriato, a recomendação é dosar a mão na hora de aplicar em ações. "Faz sentido diversificar alguma parte da carteira, mesmo em um cenário de juros altos. Se optar por isso, o investidor deve procurar papéis de companhias mais conservadoras."

Das 57 empresas do Ibovespa, 38 têm valor de mercado maior do que patrimônio líquido

Entre as 57 empresas com ações que compõem o índice Ibovespa, 38 têm a relação de valor de mercado versus patrimônio líquido maior que um, significando que o mercado paga por elas mais do que valem contabilmente, mostra levantamento da Economatica.
Em posição contrária, 19 das 57 empresas presentes no índice operam com valor de mercado inferior em uma vez ao do patrimônio líquido, com investidores pagando menos do que efetivamente valem. Nesse grupo estão Petrobras e Banco do Brasil, pelas quais o mercado paga 35% e 52%, respectivamente, de seu valor contábil.
Entre as 20 empresas com melhor posicionamento, o setor de papel e celulose é o mais bem representado, com três empresas, seguido pelo setor de abatedouros, com duas empresas. A Economatica identificou que a Natura é a empresa com a melhor relação valor de mercado versus patrimônio líquido, em 12,2 vezes. A segunda colocada é a Lojas Americanas, com 11,4 vezes.
Já a companhia com a pior relação negativa é a Gol, em -0,25 vezes, uma vez que o patrimônio da empresa está negativo. De acordo com a Economatica, em segundo lugar nesse ranking está a Gerdau Metalurgia, com o valor de mercado em relação ao patrimônio negativo em 0,1 vezes, indicando que o mercado paga por ela somente 10% de seu valor contábil. O setor de energia elétrica, com quatro empresas, é o que tem mais representantes entre as empresas menos valiosas para o mercado, seguida pelo setor de siderurgia, com três empresas.
No cálculo, a Economatica utilizou o patrimônio líquido das empresas no dia 30 de setembro de 2015, que é o último número entregue a CVM pelas empresas.