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Teatro

- Publicada em 23 de Dezembro de 2015 às 22:16

O melhor do ano - de muitos anos

"Fechamos o ano com chave de ouro", expressou Eva Sopher ao fim do espetáculo Irmãos de sangue, que a Companhia Dos à Deux apresentou no Theatro São Pedro, neste último fim de semana e de temporada. Mais que isso, foi o melhor espetáculo do ano - mais ainda: o melhor espetáculo de muitos anos. A plateia, que não chegou a lotar o teatro, explodiu em aplausos como eu não via há muito tempo: mais do que merecidos. André Curti e Artur Luanda Ribeiro, atores, coreógrafos dramaturgos e diretores, realizaram um trabalho extremamente contundente e emotivo, que evidencia a importância do coletivo para a criação cênica.
"Fechamos o ano com chave de ouro", expressou Eva Sopher ao fim do espetáculo Irmãos de sangue, que a Companhia Dos à Deux apresentou no Theatro São Pedro, neste último fim de semana e de temporada. Mais que isso, foi o melhor espetáculo do ano - mais ainda: o melhor espetáculo de muitos anos. A plateia, que não chegou a lotar o teatro, explodiu em aplausos como eu não via há muito tempo: mais do que merecidos. André Curti e Artur Luanda Ribeiro, atores, coreógrafos dramaturgos e diretores, realizaram um trabalho extremamente contundente e emotivo, que evidencia a importância do coletivo para a criação cênica.
Por isso, os atores Raquel Iantas e Daniel Leuback e mais o manipulador de bonecos; a figurinista e criadora de marionetes Natacha Belova; os iluminadores Bertrand Perez e Artur Luanda Ribeiro; os cenógrafos André Curti e Artur Luanda Ribeiro, o contrarregra Jessé Natan; enfim, toda a equipe está imensamente de parabéns. Não há nada que sobre, nada há que falte na apresentação vista semana passada no Theatro São Pedro.
O espetáculo se inicia como uma espécie de crônica despretensiosa. Depois, abre-se numa perspectiva mais cômica e, imperceptivelmente, aprofunda-se poeticamente. Seguimos cada cena, primeiro com curiosidade; depois com alegria e, enfim, com suspense emocional: não podemos perder nada. Raras vezes um espetáculo é tão densamente povoado de gestos, de sons, de luzes, de respiros, suores, risos e lágrimas: e tudo isso, sem uma única palavra. Os espectadores que compareceram ao Theatro São Pedro neste fim de semana passado certamente foram abençoados. Foi o melhor presente de Natal, de encerramento de ano, de renovação na crença do humano e do artístico: não se sabe o que admirar e louvar mais. Se a criatividade ou a habilidade em transformar a criatividade em uma cena possível.
Voltamos à essência da imagem, só que uma imagem sem mediação maquínica, quer dizer, o que acontece no palco, acontece, sim, à nossa frente, sem falsificações. Apenas as habilidades dos intérpretes, como a passagem da velha para a jovem personagem da mãe e vice-versa, mais ao final do espetáculo. Ou as brincadeiras quase clownescas, como quando a mãe se prepara para sair e, de repente, os filhos estão a puxá-la por tiras que escapam de suas roupas, transformando-a numa espécie de animal a ser conduzido e controlado pela dependência de seus filhos.
Cada um dos artistas possui técnica invejável e por isso seus corpos são capazes de expressar plenamente aquilo que deve ser expressado, sem o auxílio da palavra. Por outro lado, o trabalho complementar da trilha sonora e da iluminação é simplesmente admirável: as luzes desenham espaços e poesia no ar do palco, colorindo-o e projetando-o em nossa imaginação, enquanto a música sugere e interpreta algumas situações que poderiam se tornar ambíguas. Os figurinos são significativos, e os bonecos são profundamente expressivos, tanto que, num primeiro momento, a gente não se dá conta de serem bonecos.
Eis um espetáculo feito com inteligência e sensibilidade, mas sobretudo, com dedicação, certamente muito ensaio e muita pesquisa, mas também muita intuição e muita experiência. Idéias não nascem do nada, mas da experiência que vem do aprendizado, da observação, da disponibilidade. Raras vezes vi um conjunto tão harmonioso, em todos os sentidos, em que a sintonia de movimentos, na verdade, apenas traduz a harmonia de compreensão do que seja um espetáculo desta qualidade.
A temporada de artes cênicas em nossa cidade está encerrada. Ainda no final de semana passado, assistiu-se à Cia. de Dança Municipal e, com isso, encerramos o ano. Com chave de ouro - como disse Eva Sopher.
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