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Teatro

- Publicada em 17 de Dezembro de 2015 às 23:01

Bibi Ferreira, a atriz que canta

Sábado retrasado, enquanto Marília Pêra, aos 72 anos de idade, falecia no Rio de Janeiro, a atriz Bibi Ferreira, com 93 anos, apresentava-se em espetáculo dedicado à música de Frank Sinatra, no Teatro Bourbon Country, parte de turnê nacional que vem realizando com este espetáculo. Marília Pêra e Bibi Ferreira haviam se encontrado, ainda no início do ano, em um espetáculo, A atriz, criado a partir de texto de Marília e dirigido por Bibi a pedido daquela. Reeditavam parcerias raras, como em My fair lady, dos anos 1960, quando ambas estiveram em cena juntas. Considerando-se atriz que canta, e não uma cantora, em sentido estrito, Bibi Ferreira considera Frank Sinatra o maior cantor do século XX, e por isso, ousadamente, enquanto mulher, resolveu interpretar algumas de suas canções.
Sábado retrasado, enquanto Marília Pêra, aos 72 anos de idade, falecia no Rio de Janeiro, a atriz Bibi Ferreira, com 93 anos, apresentava-se em espetáculo dedicado à música de Frank Sinatra, no Teatro Bourbon Country, parte de turnê nacional que vem realizando com este espetáculo. Marília Pêra e Bibi Ferreira haviam se encontrado, ainda no início do ano, em um espetáculo, A atriz, criado a partir de texto de Marília e dirigido por Bibi a pedido daquela. Reeditavam parcerias raras, como em My fair lady, dos anos 1960, quando ambas estiveram em cena juntas. Considerando-se atriz que canta, e não uma cantora, em sentido estrito, Bibi Ferreira considera Frank Sinatra o maior cantor do século XX, e por isso, ousadamente, enquanto mulher, resolveu interpretar algumas de suas canções.
Na verdade, Bibi não canta só composições de Sinatra, e isso é um dos tantos acertos do espetáculo. Confesso que, num primeiro momento, temia pelo que pudesse acontecer em cena. Ainda guardo lembrança negativa da última vez em que vi Procópio Ferreira, seu pai, no palco do Theatro São Pedro, interpretando Molière, de maneira constrangedora, diante da idade. Bibi, ao contrário, teve - ela mesma ou sua equipe; ou ela e sua equipe - primeiro, o bom senso de idealizar um espetáculo de duração compatível com as possibilidades da atriz, pouco mais de uma hora de duração. Mas que hora! Simplesmente emocionante!
Daí, entra o segundo acerto da equipe: o maestro Flávio Mendes, que rege o grupo orquestral (fala-se em 21 músicos, mas certamente no palco do Bourbon não esteve um naipe tão numeroso, embora isso não tenha afetado a qualidade do espetáculo, por certo), transforma-se em narrador, repartindo esta função com um jovem ator, neto de Paulo Gracindo (infelizmente, não há ficha de produção e não consegui os nomes dos intérpretes em cena, além da própria atriz e do maestro).
Terceiro acerto: o jovem ator e o veterano maestro repartem a apresentação, com bom humor, equilíbrio e inteligência: é, claramente, uma escolha absolutamente pessoal da atriz, mas, ao mesmo tempo, observando algumas referências históricas e, muitas vezes, algumas revelações sobre fatos pouco conhecidos ou praticamente inéditos. Os roteiristas do trabalho, deste modo, devem ter lido muitas biografias, ouvido muitos discos, lido muitos documentos, até chegar a esta linha de desenvolvimento para o espetáculo e seleção das peças musicais. Este é o quarto acerto, a que se segue outra qualidade: a história de Frank Sinatra mescla-se com a própria história da música popular e dos shows da música popular norte-americana. Assim, fala-se em Bing Crosby, lembra-se Elvis Presley e, enfim, dedica-se um bom tempo a Antonio Carlos Jobim. Outro acerto extraordinário é que, nestes casos, composições destes artistas também são interpretadas por Bibi, como no caso de Elvis, o que levanta a plateia diante da vitalidade e da personalíssima interpretação de Bibi.
Mas há muito mais coisas: Bibi revela detalhes de sua vida - relações, por exemplo, com Aloysio de Oliveira, o fantástico poeta que escreveu a maior parte das versões das canções de trilhas sonoras dos grandes desenhos animados de Walt Disney no Brasil, a propósito de Dindi, que teria sido uma homenagem a ela, Bibi, mas como a sílaba "bi" não seria "sonora", Aloysio trocou-a por "di", e assim nasceu este grande sucesso que seria, igualmente, gravado por Sinatra. E assim vai o show. Bibi tem, atrás de si, uma banqueta. Mas ela praticamente não se senta, ao longo de todo o espetáculo, no máximo, encosta-se nela, e assim vai o trabalho, que empolga e centraliza nossas atenções.
Enfim, a música: no início, embora preparos certamente realizados no camarim, Bibi vai com calma: os arranjos não exploram os tons mais graves ou agudos. São canções mais calmas e de ritmos mais tranquilos. Mas, na medida em que o espetáculo avança, a voz se "abre", como se diz, a potência da voz - tradicional de Bibi - se reapresenta, e o espetáculo se conclui com três músicas em bis, daí buscadas no show sobre Edith Piaf, e então a gente chora de emoção e aplaude a atriz, agradecendo-lhe a coragem, a dedicação e a ousadia. Simplesmente inesquecível.
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