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- Publicada em 03 de Dezembro de 2015 às 22:45

Uma família desintegrada pelo Khmer

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DIVULGAÇÃO/JC
À sombra da figueira (Geração Editorial, 360 páginas, R$ 49,90, tradução de Sandra Martha Dolinsky) é um romance que marca, com raro brilho, a estreia da escritora e professora universitária da Universidade de Cornell Vaddey Ratner, nascida no Camboja. O livro foi finalista do Pen/Hemingway em 2013; Escolha do Livro do Ano pelo Indies Choice Book e traduzido para nove línguas.
À sombra da figueira (Geração Editorial, 360 páginas, R$ 49,90, tradução de Sandra Martha Dolinsky) é um romance que marca, com raro brilho, a estreia da escritora e professora universitária da Universidade de Cornell Vaddey Ratner, nascida no Camboja. O livro foi finalista do Pen/Hemingway em 2013; Escolha do Livro do Ano pelo Indies Choice Book e traduzido para nove línguas.
A narrativa mostra a saga poética de uma família desintegrada pelo terrível regime imposto pelo Khmer Vermelho no Camboja, Sudeste da Ásia, em 1975. Liderada pelo sádico Pol Pot, considerada a ditadura mais sanguinária do século, executou um plano insano: transformou o país num modelo comunista agrário, ainda que às custas do extermínio de milhares de pessoas. Um terço da população morreu no processo, numa barbárie sem precedentes na história. Um exército de homens incultos e fanáticos esvazia cidades e leva populações inteiras para o interior, onde elas trabalharão como escravas e serão torturadas e mortas, se consideradas improdutivas.
A personagem principal do romance é Raami, princesinha de 7 anos, filha do Rei Sisowath. A origem imperial do pai o leva à morte, mas ele consegue salvar a família. Raami e a mãe ficam para contar a história, num país dominado pela pobreza. Elas comem folhas e insetos. Raami sofre tanto que não consegue falar. O reino doméstico anterior ao "holocausto cambojano" é descrito com lirismo, mostrando a culinária, vestimentas, a flora, a fauna e o "paraíso" onde a menina vivia com a mãe e o pai, que era poeta, e em meio a empregados e a hábitos aristocráticos.
Sonhos infantis e bombardeios andam juntos. A origem da revolução do Khmer foi a desigualdade social e os privilégios das monarquias, uma das quais representada pela família do pai de Raami. No início, o pai de Raami acreditou nos ideais revolucionários, mas aí os extremistas violentos passaram a perseguir intelectuais e matar pessoas de óculos, porque "liam demais".
Acima de tudo, a narrativa, através da voz sensível de uma menina e de um relato poético e belo, mostra o melhor e o pior dos seres humanos, num contexto de ditadura, terror, brutalidade e sobrevivência. Muito além de memórias e de situações familiares e históricas, o romance bem construído, em termos de forma e conteúdo, vale por ser literatura de alto nível e por mostrar que, mesmo diante de situações como a do Camboja, é possível, sempre, manter um fio de esperança e de amor, algo que nos permita acreditar da luz do sol do dia seguinte. O custo emocional da sobrevivência é alto, não há dúvida, mas histórias como essa mostram a grandeza do humano.

Lançamentos

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DIVULGAÇÃO/JC
O azul mediterrâneo (Buqui, 184 páginas), da advogada e coach Evelyn Cademartori, relata com brilho, emoção e detalhes a reveladora viagem à Itália. Mescla delicadamente informações sobre Florença, Siena, Nápoles, Roma e outros lugares lindos com reflexões sobre seu amadurecimento pessoal.
O fantasma da ópera - Le fantôme de LÓpera (Landmark, 462 páginas), de Gaston Leroux, edição bilíngue português-francês, em capa dura, traz o clássico romance francês, originalmente publicado em 1910. É uma das histórias de amor e terror mais famosas do século XX.
Do arrebatamento (Editora Gazeta, 88 páginas), da escritora e tradutora Cristina Macedo, mestre em literatura e ocupante da cadeira 23 da Academia Literária Feminina do RS, apresenta poemas sobre as emoções do amor, as labaredas de sexo e muita sensibilidade sobre as coisas do tempo.

Woody Allen, 80 anos

Woody Allen fez 80 anos dia 1 de dezembro. Concordo com ele, sou radicalmente contra a morte e quero a imortalidade em vida. Campai, vida longa, eterna para ele, para nós e para a gurizada da Academia Brasileira de Letras. Concordo com a piada do Woody, do cara que diz para o psicanalista: "Meu irmão anda dizendo que é uma galinha". "Ele não está legal, traz ele aqui, vamos ajudá-lo." "Não posso doutor, preciso dos ovos." É uma loucura!!! Quando e se eu crescer, gostaria de ser um piá como ele, Woody Allen, que, depois de 45 filmes, não sei quantos livros, peças, músicas, filhos, enteados, mulheres e processos, segue tocando clarinete com a banda, trabalhando em Manhattan e pelo mundo e, acho, traçando aquele sanduíche que vem com meia tonelada de pastrami, aquele do Carnegie Deli, 854, 7th Ave, Midtown, em Nova Iorque. Vai lá!
Há quem diga que os melhores filmes que Allen fez são os do século passado. Os críticos e as bilheterias deste século não concordam muito com a tese, ao que parece. O fato é que ele é criativo, ousa, faz diferente. Ah, para quem gosta muito dele, pode encontrá-lo na Padre Chagas, tomando café. É que o Woody é a cara do dr. Manuel Piterman, que vai lá sempre. Só que o Manuel é bem, bem mais moço. Os dois são meio geniais. Woody como cineasta, e Manuel, como advogado. Woody Allen diz, modesto, que é um humorista do Brooklin que deu certo. Eu digo que conheço o Manuel Piterman há muitas e muitas décadas e que ele, causídico do Bom Fim, do Moinhos e da Bela Vista, deu certo.
Morei na Felipe Camarão 16 anos, conheci bem Moacyr Scliar e seus livros, tomei café no Bar Bom Fim e no Bar João, ouvi e ouço Nei Lisboa, andei no Bar Alaska e no Clube de Cultura, assino há uns 10 anos uma coluna no jornal Fala Bom Fim, do querido Milton Gerson, intitulada Memórias do Gut-Goi. Normal eu festejar os 80 do Woody Allen, não é? Bem que ele podia oferecer guefilte fish com vinho para a gente. Em ocasiões festivas a religião permite bebida alcóolica. Mas será que o Woody vai abrir a mão? Pois, é, Woody, diz que Deus criou os goi (gentios) porque alguém tem que comprar no varejo....He, he, piadão de presente de aniversário! Pode pegar para ti, de graça!
Woody Allen não para. Bota os neurônios a funcionar senão o alemão pode pegar a cabeça dele. Nada de aposentado ou aposentos. Um filme por ano, uma nova série de TV que dirigirá para a Amazon e por aí vai. Ele disse que se acha sortudo por ter um público. Seu público também tem sorte de ainda ter um diretor-autor de cinema irrequieto atuante e dezenas de filmes para ver e rever, sempre com aquele jazz maravilhoso. Jazz, a melhor coisa que os Estados Unidos ofereceram para o mundo, sempre um prazer repetir. Woody Allen deve pensar como seu colega oitentão, grande artista e filósofo-pensador Ziraldo, que refletiu: terceira idade é a pqp!

a propósito...

Dizem que o Woody, quando saía de casa à noite para tocar clarinete com os amigos, pedia para o motorista de seu Rolls-Royce branco parar uns dois quarteirões antes do local, e, aí, chegava a pé, para não esnobar os colegas músicos. Ao que eu saiba, não há estrelismo para o clarinetista Woody Allen. Ele é mais um da banda e, como bom jazzista, tem plena consciência de que a música é muito mais importante que o músico. Será que ele acha que o cinema é mais importante que o cineasta? Será que ele pensa como Akira Kurosawa que, ao ganhar um Oscar especial aos 80 anos, disse que isso o animaria a tentar saber mais sobre cinema? Parabéns, Woody! (Jaime Cimenti)