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Moda

- Publicada em 14 de Dezembro de 2015 às 00:10

Passado, presente e futuro alinhavados entre agulhas

 Helen Rödel escolheu Porto Alegre, cidade onde começou o trabalho com moda para instalar sua primeira loja temporária. Até então ela vendia apenas pelo e-commerce e sob medida.

Helen Rödel escolheu Porto Alegre, cidade onde começou o trabalho com moda para instalar sua primeira loja temporária. Até então ela vendia apenas pelo e-commerce e sob medida.


FOTOS MARCO QUINTANA/JC
Construir uma peça à mão, a partir de fios, é como mágica para a estilista gaúcha Helen Rödel, que se especializou em crochê e tricô manuais. O mundo das linhas e das costuras é um playground. “Minha mente encontra fascínio nesta estrutura”, diz. Natural de Lajeado, escolheu Porto Alegre, cidade onde iniciou seu trabalho com moda, para instalar sua primeira loja temporária, no início do mês.
Construir uma peça à mão, a partir de fios, é como mágica para a estilista gaúcha Helen Rödel, que se especializou em crochê e tricô manuais. O mundo das linhas e das costuras é um playground. “Minha mente encontra fascínio nesta estrutura”, diz. Natural de Lajeado, escolheu Porto Alegre, cidade onde iniciou seu trabalho com moda, para instalar sua primeira loja temporária, no início do mês.
Com sua empatia ímpar, conversou com a coluna durante uma tarde de sábado, regada a água aromatizada e muito carinho com todos que passavam para visitar o espaço. A designer já teve suas peças desfiladas na semana de moda da Islândia (Iceland Fashion Week), no Dragão Fashion Brasil, em Fortaleza (CE), e na Casa de Criadores, em São Paulo (SP). Também exibiu em Shanghai, na China, e criou acessórios para Ellus e 2nd Floor. Em 2015, desenvolveu parceria com a marca Têca por Helô Rocha para o São Paulo Fashion Week.
Como começou a marca?
Era uma colecionadora de imagens. Desde muito cedo, reunia revistas de moda para escolher figuras, desenhos. Era um exercício de autoconhecimento, no qual aplicava as imagens que gostava muito. Fazia recortes e tudo começou assim. De alguma forma mais lúdica, pelo viés do vestuário, começou também com a minha mãe. Desde cedo queria aprender com ela a cozinhar, limpar a casa, bordar, tricotar, costurar, fazer tricô e crochê. Fazíamos suéteres para a toda a família. Íamos até o Bergamaschi (tradicional loja de artigos de armarinho, localizada em Lajeado), repleto de prateleiras imensas e cheias de fios, era um divertimento sem tamanho. Escolher materiais e cores para uma criança é sempre divertido, e no contato com as técnicas tive noção da infinitude das possibilidades.
De que forma isso te moldou como estilista?
Quando voltei a encontrar o crochê na minha vida, percebi que existia uma plataforma de desenvolvimento têxtil infinita e subutilizada, ancorada em alguns estigmas. Entendi que havia um universo que poderia explorar a minha maneira, com olhos de hoje, amando elementos do passado e com um olhar para o futuro. Uma conexão de três tempos com uma técnica ancestral. Percebi isso com um grande playground onde poderia ser muito livre. E entendi que seria um favor para a técnica, de atualização destas técnicas, na época tricô e crochê, hoje muito mais o crochê.
Como defines teu trabalho?
É muito divertido o exercício de se colocar na vanguarda a partir de uma vivência de hoje e das coisas que estão introjetadas em mim. No crochê foi uma libertação plena, pois vinha da malharia retilínea, do tricô à máquina, plataforma com a qual ganhei muitos concursos. A malharia retilínea é também uma técnica de infinitas possibilidades, que tu começas sem uma base têxtil e a constrói. Isso me parece muito mágico, a agulha, o fio, as mãos ou a máquina construindo. Minha mente encontra fascínio nesta estrutura, que é diferente da construção têxtil por tecido plano. Sendo uma menina que tentou na malharia retilínea e praticamente foi expelida desta indústria, não muito afeita a jovens designers sonhadores, caí no colo do crochê, onde percebi que poderia ir até o armarinho, testar e construir independente da indústria, de um esquema comercial.
A marca está se profissionalizando?
No início o foco era justamente se conhecer enquanto designer, enquanto marca, saber o que a iríamos trazer de importante, quais seriam os valores. Pela humanidade dela, os princípios são os próprios valores dos fundadores (Helen e o marido e sócio Guilherme Thofehrn) e, agora, com a entrada da Simone Gavillon (nova sócia) como um terceiro pilar. Ela veio da Lojas Renner, tem o conhecimento da indústria, e entra em uma estrutura que sempre foi pautada no autodidatismo, no empirismo, só que com muita verdade e vontade. A Simone traz a visão da corporação em uma estrutura que precisa crescer, com espaço para se expandir, mas que precisa de força.
Quais são os pilares da marca?
Acho que a humanidade é o primeiro, sustentabilidade em todos os aspectos. Jamais faríamos coisas nas quais não acreditamos. Outro pilar é liberdade criativa e olhar o genuíno dentro de si. O que eu, enquanto indivíduo, tenho de unicidade para ofertar para o mundo. Acredito que cada um tem algo muito especial e único para oferecer. É uma busca e por isso o movimento conceitual no princípio, para identificarmos o que era a marca. Não estou criando algo apenas para meu bel prazer, não é simplesmente uma satisfação minha.
Como está a grife hoje?
Nos últimos três meses produzimos 500 peças. Conseguimos escalar o crochê com a criação dos acessórios (cintos, clutches, bolsas e colares), porque essa linha é a democratização da marca. Enquanto peças únicas, tenho um produto muito caro, que não pode ser adquirido por todos, além da questão das diversas silhuetas femininas. Com os acessórios, alcanço todos. O planejamento estratégico se iniciou em janeiro, com implementação de métodos, ferramentas. A partir de maio iniciamos o desenvolvimento dos produtos, definimos o que seria a linha e o que iria representar em relação à marca, o que iria cristalizar em relação ao que já temos. Os acessórios são compostos de vários signos que apareceram ao longo do tempo, pontos marcantes que pertencem a minha história e que, por vezes, remontam os suéteres feitos com minha mãe. A ideia foi trazer estes signos e cristalizar em uma linha de acessórios estonteantes, robustos e coloridos.
Quais as novidades?
Neste momento, temos o lançamento de duas linhas: a coleção de vestidos brancos e negros de festa e os acessórios, ambas disponíveis na nossa loja online. Já tive pontos de venda em muitos lugares, mas hoje fora do e-commerce só vendemos na loja Luisa Via Roma, em Florença, Itália (uma das multimarcas mais importantes do mundo). Nos concentramos na loja temporária em Porto Alegre. Materializar a loja online em um espaço físico foi um desafio. E era muito importante que fosse em Porto Alegre. O ambiente virtual é fascinante pelo poder de conexão, mas não podemos deixar de admitir que falta a questão do tato, ele se perde dentro da internet. O crochê é sensorial, feito em alto e baixo relevo, é importante tocá-lo. Materializar nossa loja online foi um dos objetivos de constituir a loja temporária em Porto Alegre.
Como é tua equipe?
Trabalho com 10 a 15 artesãs neste momento, um número bem expressivo, porque o núcleo era de seis profissionais. A produção quintuplicou, algo também muito expressivo, e com pronta-entrega. Se compras os acessórios na loja online, em poucos dias recebes em casa. Já os vestidos de festa a ideia é ter um mostruário online que tu encomenda, lança as medidas, pois consigo customizar a peça. Evidente que há um padrão P, M e G, balizadores importantes, mas é possível fazer ajustes específicos.
Como está o processo de internacionalização?
O Guilherme acabou de voltar de uma expedição de Paris, onde surgiram muitas oportunidades. Como pertencentes ao Projeto BtoBe (Brazilians to Be), da Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos), que é a junção de Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) e Apex, temos muitas oportunidades de internacionalização. Mas como a equipe era muito pequena e as oportunidades muito difíceis de serem abraçadas, traçaremos o planejamento do próximo ano e decidiremos mais adiante quais oportunidades aceitaremos. O mercado europeu é muito profissionalizado, queremos fazer algo plenamente confiantes. Nossa geração dominou o trabalho, não fazemos mais nada que não acreditamos. A busca pelo dinheiro tem muitos prejuízos, a começar pelas pessoas que estão nas fábricas de tecidos, de costura. E não queremos isso, é a função de uma geração inteira que está em busca de fazer algo além do que se espera.
A coluna é voltada para mulheres empreendedoras. Terias um recado para elas?
Me tornei uma empreendedora por vontade de fazer minha história acontecer. Acho que o mais importante é trazer para o trabalho os valores que nos são mais preciosos e a condição que o torne mais confortável. Tentar fazer o trabalho sem ser violento consigo. O próprio tempo das coisas está tão veloz que nos violenta. O tempo pode ser muito opressor. A sabedoria está em ser vigilante, parar e olhar o entorno, colocar as coisas na balança e ver o que faz sentido, pois as oportunidades são muitas. Entender os seus limites em termos de não se violentar, mas também ultrapassar seus limites e tentar ir além. Observar no que se é polivalente, mapear as vontades e talentos. Ir além faz com que a gente se reconheça mais.
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