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- Publicada em 03 de Dezembro de 2015 às 21:33

Custos e gargalos do transporte no Brasil

Um cenário sintético dos desafios logísticos, seus custos e gargalos no Brasil passa obrigatoriamente por três aspectos surgidos na história de desenvolvimento do País e seu modelo socioeconômico:
Um cenário sintético dos desafios logísticos, seus custos e gargalos no Brasil passa obrigatoriamente por três aspectos surgidos na história de desenvolvimento do País e seu modelo socioeconômico:
- Concentração de regiões produtoras e demandantes.
- Custo da estrutura x valor da mão de obra.
- Baixa competitividade multimodal.
Concentração de regiões industriais e de população
A histórica concentração populacional e industrial no Sudeste (com mais de 40% da população e 55% do PIB) é um fator de peso na dinâmica econômica brasileira. Como consequência, a maior parte da produção sai dessa região para ser distribuída em todo o País. Se agregarmos o Sul, a fatia do PIB vai a 65%.
Chamamos esse fluxo de distribuição de radial, porque ele se espalha a partir de um centro, sem permear ou interligar todo o País.
Não obstante a falta de estrutura logística, essa configuração econômica traz uma questão: o caminhão que "sobe" para outras regiões carregado de produtos de alto valor agregado (eletrônicos, alimentos, cigarro, combustível etc.) tem poucas opções para um retorno rentável - a maioria volta com pescado, sal ou grãos, dependendo da região.
Como resultado, um ciclo difícil de quebrar: poucos operadores para atender regiões menos rentáveis, e fretes altos para sair do eixo Sul-Sudeste.
Se compararmos com os Estados Unidos - mencionado aqui por conta das dimensões similares ao Brasil -, encontraremos um modelo cruzado. Embora nos EUA a concentração populacional seja maior na Costa Leste, na Oeste encontramos o estado mais rico do país e do mundo (o PIB californiano é maior do que o brasileiro); o Texas (e sua produção de combustível) no meio do caminho ao Sul; Detroit, em forte recuperação no Nordeste; e cinturões agrícolas no meio do país, entre outras características que ajudam a irradiar as demandas por transporte e logística.
Custo da Estrutura x Valor da Mão de Obra
Se pegarmos um Centro de Distribuição, não necessariamente novo, de uma grande rede varejista norte-americana, encontraremos 100 baias para carga e descarga, sendo que 30 estarão livres. Por aqui, um CD construído nas décadas passadas terá 10, 20, 30 docas, todas ocupadas e dezenas de caminhões na fila (com um custo de R$ 30,00 a R$ 60,00 por hora parada).
O que ocorreu nos EUA foi trabalhar com cenários e demandas futuras - investiu-se na estrutura uma única vez e, quando a alta vier, ela já estará pronta para absorver o crescimento. Assim, ocupa-se esse lugar com mão de obra, bastante valorizada, somente com a demanda existente.
No Brasil, era comum construir para prover a demandava do momento, talvez um pouco mais - o custo alto para estruturas frente ao valor muito baixo da mão de obra fez com que a busca por produtividade focasse no trabalho manual ou braçal.
Resumindo, enquanto lá era mais barato construir do que pagar salários para caminhoneiros parados e operários em excesso, aqui a conta ficava menor colocando mais funcionários em instalações menores - muitas vezes atualizadas ou ampliadas com "puxadinhos" - e motoristas aguardando em fila.
Saia do CD rumo à costa brasileira e verá a mesma situação nas estradas congestionadas e nos próprios portos. Afinal, se o Brasil possui, segundo dados do Ministério dos Transportes (informações de dezembro de 2014), 1,7 milhão de quilômetros de estradas, vale destacar que, de acordo com o próprio ministério, somente 9,5 mil quilômetros estão duplicados, sem contar as não pavimentadas.
Porém, o custo da mão de obra triplicou nos últimos anos, fazendo do modelo pouca estrutura x trabalho humano intenso inviável. Talvez por isso a situação estrutural esteja dando sinais de mudança. Grandes CDs são vistos no interior do País, além de alguma movimentação nos portos - ainda que a situação das estradas continue a mesma em sua grande maioria.
Baixa competitividade multimodal
Além dos fatores apontados como formadores do alto custo com mais frequência - impostos, preço de combustíveis, pedágios, seguros -, existe a falta de competitividade entre diferentes modais.
Tivéssemos uma estrutura hidroferroviária mais desenvolvida, veríamos uma maior pressão por custos melhores. Exemplo: enquanto em outros países o custo de um frete ferroviário chega a ser 40% menor do que no caminhão, aqui essa diferença não passa de 5%, porque os trens têm muita demanda e pouca capacidade para atender tanta carga.
Essa falta de competição afeta o próprio transporte rodoviário, uma vez que menos concorrência multimodal tem como
consequência maior inércia desse segmento, fazendo com que players se desenvolvam menos que o possível, estancados por um cenário que não muda.
No curto prazo
Em ambientes em que a complexidade se dá pelos fatores listados acima, a solução encontrada para desfazer o nó do transporte é o aumento da produtividade pela gestão e controle. Não podemos mais deixar as movimentações de cargas à própria sorte, acreditando que os obstáculos e riscos são intransponíveis ou impossíveis, ao menos, de mitigar.
Posto isso, o desafio do gerenciamento logístico é enorme, assim como seu papel. Cabe a ele lubrificar essa engrenagem um tanto emperrada do transporte brasileiro, fazendo com que custos altos e gargalos deem lugar a previsibilidade, custos adequados e motoristas cumprindo padrões. Há diversos meios e modos de fazê-lo, mas isso é assunto para uma próxima oportunidade.
Engenheiro, diretor de Operações da AngelLira, empresa especializada em gerenciamento de riscos e de logística do Brasil (www.angellira.com.br)

Nova Lei dos Motoristas triplicou uso de drogas pelos profissionais

Operação em Mato Grosso do Sul detecta uso generalizado de substâncias tóxicas

Operação em Mato Grosso do Sul detecta uso generalizado de substâncias tóxicas


JOÃO MATTOS/JC
Uma operação realizada na Central de Abastecimento de Mato Grosso do Sul (Ceasa-MS) e no posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) da BR-163 apontou que 33% dos caminhoneiros submetidos aos exames toxicológicos usaram algum tipo de droga, com prevalência para a cocaína. Quanto aos motoristas testados na Ceasa, constou-se 56% de positividade. Os exames ocorreram nos dias 6 e 7 de outubro e foram realizados pelo Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul (MPT-MS) com apoio da PRF, do Instituto de Análises Laboratoriais Forenses (Ialf) da Secretaria de Segurança Pública do estado e do laboratório americano Labet.
Em comparação com dados obtidos antes da sanção da nova Lei do Descanso (Lei nº 13.103/15), houve um aumento de resultados positivos para uso de drogas, o que reflete a precarização das condições de trabalho de motoristas a partir da nova legislação. Os testes de queratina, realizados a partir da coleta de cabelo e pelos, constataram ainda que mais de 80% dos caminhoneiros usuários de cocaína possuem perfil de dependentes químicos.
O procurador do Trabalho Paulo Douglas de Almeida Moraes ressaltou a grave conclusão apontada no exame. "Os testes demonstram que a nova legislação legitimou a negação da dignidade dos motoristas, na medida em que uma expressiva parcela destes trabalhadores precisa usar drogas para suportar a desumana carga de trabalho dela exigida. Os motoristas representam uma categoria reduzida à condição análoga à de escravo, em especial daqueles motoristas que transportam carga viva e perecíveis."
O teste de queratina atende à Lei nº 13.103/15, que regulamentou as condições de trabalho dos motoristas profissionais e prevê a realização de exames toxicológicos com período mínimo de detecção de 90 dias para substâncias psicoativas que causam dependência ou comprometa a capacidade de direção.
Segundo Moraes, a realização de testes toxicológicos associados à exigência de sobrejornada é uma perigosa contradição.
"As alterações na legislação promovidas através dessa lei representaram retrocesso sem precedentes para os direitos trabalhistas. A nova legislação, em termos práticos, autoriza a jornada de até 12 horas diárias e, em diversas hipóteses, não há qualquer limite de jornada."
Ele finaliza esclarecendo que as novas regras desvirtuaram a Lei nº 12.619/2012, que ficou conhecida como "Lei do Descanso", que assegurava aos motoristas tempo maior de repouso, vedação do pagamento por comissão e efetiva limitação de jornada.