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Empresas & Negócios

- Publicada em 31 de Dezembro de 2015 às 16:36

Economia solidária cresce como uma alternativa ao capitalismo

 Paul Singer - Fernando Frazão Agência Brasil   Porto Alegre (RS) - O economista Paul Singer participa do Fórum Social Temático 2014 (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Paul Singer - Fernando Frazão Agência Brasil Porto Alegre (RS) - O economista Paul Singer participa do Fórum Social Temático 2014 (Fernando Frazão/Agência Brasil)


FERNANDO FRAZÃO/ABR/JC
Marina Schmidt
Além da recessão, a mais recente crise do capitalismo abriu espaço para a reflexão sobre a busca de um novo modelo econômico, capaz de aliar o desenvolvimento social aos ganhos financeiros. Para o economista e secretário nacional de Economia Solidária, Paul Israel Singer, a resposta passa pelo cooperativismo.
Além da recessão, a mais recente crise do capitalismo abriu espaço para a reflexão sobre a busca de um novo modelo econômico, capaz de aliar o desenvolvimento social aos ganhos financeiros. Para o economista e secretário nacional de Economia Solidária, Paul Israel Singer, a resposta passa pelo cooperativismo.
JC Empresas & Negócios - Diante de cenário econômico mundial de baixo crescimento, como estão as cooperativas?
Paul Singer - Eu posso responder falando sobre um tipo específico de cooperativismo que está crescendo muito no mundo inteiro, não só no Brasil, que é a economia solidária. A economia solidária se realiza mediante cooperativas. Até onde eu acompanho, não há nenhuma crise no cooperativismo, de uma forma geral. Tão pouco para a economia solidária. As regras da economia solidária são literalmente as mesmas do cooperativismo. Temos no Brasil cerca de 30 mil empreendimentos da economia solidária, todos cooperativas.
Empresas & Negócios - Uma cooperativa têxtil, por exemplo, pode pagar um preço diferenciado pela entrega do algodão orgânico. Porém, o custo de produção é maior. Como se tornar competitiva dessa forma?
Singer - Você deve estar se referindo à Justa Trama, que é uma cadeia de cooperativas: a matéria-prima é o algodão orgânico cultivado por uma cooperativa localizada no Nordeste, e esse algodão é colhido e depois trabalhado por várias co-
operativas ao longo do caminho, até o Rio Grande do Sul. É um empreendimento bastante representativo da economia solidária. Tudo o que a cooperativa recebe é discutido em assembleia: como esse dinheiro será dividido. Essa é a forma da economia solidária funcionar no mundo inteiro.
Empresas & Negócios - Como esses empreendimentos conseguem competir?
Singer - Em primeiro lugar, uma cooperativa não tem preços. O preço, em uma cooperativa industrial ou que produz roupa, é o preço do trabalho. E o custo do ponto de vista do trabalho é absolutamente flexível. Por exemplo, na Unidas Venceremos (Univens) - uma das cooperativas associadas à Justa Trama - há mais de 20 costureiras que se reúnem em comunidade há vários anos, e vendem o que produzem, provavelmente, de uma forma semelhante a de outras empresas que não são da economia solidária. Quando você tem uma empresa capitalista, ela tem que manter o pagamento do salário no mesmo nível, porque o trabalhador nunca vai aceitar ganhar menos, porque o proprietário da empresa precisa disso: há um contrato de trabalho que precisa ser cumprido. Eu diria que o salário, nesse caso, não é um custo variável. Nas cooperativas, é o contrário: são os próprios trabalhadores que definem quanto querem e quanto podem cobrar. Não acredito que o custo das cooperativas é maior do que o das empresas privadas.
Empresas & Negócios - O que falta para que essa proposta se consolide como alternativa ao capitalismo?
Singer - Nós, economia solidária, somos a única alternativa ao próprio capitalismo, com todas as suas contradições e à quantidade enorme de crises que ele ocasiona. Não tem outra alternativa: o socialismo ficou na memória, é uma espécie de sonho, mas o que se imaginava sobre o socialismo foi repudiado no mundo inteiro desde 1991 e não tem mais sentido dizer que se irá repetir. Então, a alternativa que está surgindo, efetivamente é a economia solidária.
Empresas & Negócios - Há também uma maior transparência na economia solidária, considerando que as cooperativas abrem os números para os associados?
Singer - Para os próprios membros da cooperativa, isso se traduz em democracia. Para quem aprecia a democracia, é o modelo ideal. Ninguém manda, ninguém obedece. Todas as decisões importantes de uma cooperativa são tomadas em assembleia. A relação das cooperativas da economia solidária no Brasil é extremamente boa com a vizinhança. São operários, operárias, que estão em regiões com população de ganho baixo. Quando a cooperativa ganha mais dinheiro, usa parte do dinheiro para beneficiar a parte mais pobre da vizinhança. Eles fazem parte da comunidade, e isso é muito comum. Eu conheço muitos casos em que a cooperativa construiu uma escola ou ofereceu cursos para crianças e adultos. Eu diria que é uma relação de empatia bastante boa.
Empresas & Negócios - Esse atual cenário em que estamos vivendo, com a propagação de que vivemos uma crise, pode gerar uma projeção maior do cooperativismo e da economia solidária?
Singer - Sim. Embora eu não possa dizer que os que estão diretamente envolvidos na criação das crises aceitem isso. As crises são basicamente devido à especulação financeira. Aí, sem dinheiro, a economia não funciona. As economias no mundo inteiro dependem de um dinheiro que normalmente é criado mediante crédito bancário. Os bancos, de uma forma geral, são muito poderosos por isso mesmo, porque todo mundo depende de crédito para ter acesso a recursos. O crédito hoje é um instrumento importante, mas também é um instrumento para a crise, que muitas vezes ocorre devido ao endividamento excessivo. A crise de 2008 provocou, fundamentalmente, uma quebra bancária enorme, a maior da história. Bancos não só norte-americanos, mas também europeus, financiaram pessoas pobres naquela ocasião mediante empréstimos hipotecários, amparados na ideia de que o imóvel era uma garantia, de modo que o banco não teria nada a perder. Isso foi um fracasso estonteante, simplesmente porque essa forma de financiamento resultou em uma bolha imobiliária: o preço de todos os imóveis crescia sempre, o que significava que investir na construção geralmente parecia ser um bom negócio, só que, como toda bolha, ela se esgota. Quer dizer, essas pessoas bastante pobres que conseguiram um empréstimo tinham uma dívida que equivalia ao seu imóvel, de repente caem os preços, e a garantia passa a valer menos do que a dívida. A lógica foi parar de pagar esses empréstimos.
Empresas & Negócios - No modelo cooperativista, há um foco maior nas pessoas?
Singer - Para mim, uma cooperativa que tiver capital no sentido capitalista é uma falsa cooperativa. Ela tem que estar voltada para a distribuição da riqueza.
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