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Empresas & Negócios

- Publicada em 22 de Dezembro de 2015 às 14:51

Mercur quer mudar o jogo da lógica comercial

 Diretor geral da Mercur, Breno Strussmann. Crédito Mercur divulgação

Diretor geral da Mercur, Breno Strussmann. Crédito Mercur divulgação


MERCUR/DIVULGAÇÃO/JC
Guilherme Daroit
Tentar algo novo não é exatamente um problema para a Mercur. Afinal de contas, em seus mais de 90 anos, a empresa familiar, com sede em Santa Cruz do Sul, acumula um portfólio gigante, com mais de 5 mil produtos para educação, saúde e aplicação industrial. Criada como uma recapadora de pneus, a companhia já fez de tudo um pouco, de bolas de tênis a chinelos, quase sempre a partir da borracha - matéria-prima, também, de seu principal produto, a borracha de apagar, que tornou a empresa conhecida no País e representa hoje 20% das vendas.
Tentar algo novo não é exatamente um problema para a Mercur. Afinal de contas, em seus mais de 90 anos, a empresa familiar, com sede em Santa Cruz do Sul, acumula um portfólio gigante, com mais de 5 mil produtos para educação, saúde e aplicação industrial. Criada como uma recapadora de pneus, a companhia já fez de tudo um pouco, de bolas de tênis a chinelos, quase sempre a partir da borracha - matéria-prima, também, de seu principal produto, a borracha de apagar, que tornou a empresa conhecida no País e representa hoje 20% das vendas.
Desde a década passada, porém, a experimentação cresceu em escala, tentando mudar a própria lógica comercial. Como a própria Mercur define, a empresa optou por colocar o bem-estar das pessoas à frente, com o negócio como uma consequência. Desde então, criou direcionamentos que vão desde o fim dos incentivos à venda até a redução de diferenças salariais e a valorização de insumos naturais.
Há 15 anos na Mercur, o diretor-geral Breno Strussmann comenta sobre os desafios dessa mudança, sem data para acabar. "A transformação em uma empresa perfeita não existe", argumenta o executivo da empresa que mantém, hoje, quase 800 funcionários.
JC Empresas & Negócios - De que forma funcionam os direcionamentos adotados?
Breno Strussmann - Nosso entendimento é de que existe um compromisso com um mundo bom para todos. Eu preciso olhar, portanto, para as causas e consequências que a cadeia de produção tem com a natureza. É um processo que põe esse olhar à frente, e, por consequência, o negócio depois, uma visão diferente do que vinha sendo feito. Essa conscientização começou em 2007, e a elaboração de direcionamentos voltados às questões humano-socioambientais, em 2009. Enumeramos uma série de critérios, como ser uma empresa carbono neutro, a minimização de impactos em toda a cadeia de produção, promover ocupação e renda para colaboradores e entorno, reduzir as diferenças entre maior e menor salário, criar espaços de aprendizagem. Abolimos também os testes com organismos vivos, entre outros.
Empresas & Negócios - Esse processo de mudança gerou alguma dificuldade?
Strussmann - É um processo que vai estar sempre em andamento, pois não é uma fórmula ou um modelo. É um constante aprendizado. No desenvolvimento de um produto, por exemplo, nos deparamos com uma série de dificuldades, pois não necessariamente um produto renovável vai ajudar no que a pessoa precisa. Há uma série de contradições que, quando você começa essa caminhada, vai se deparar. É um processo lento, difícil, que faz com que as pessoas passem a abdicar de interesses que antes julgavam relevantes. Traz conflitos pessoais, conflitos dentro da organização e nas relações, que hoje, no mundo convencional dos negócios, buscam apenas o lucro. Quando você inverte a ordem, precisa ter muita paciência para que isso seja feito de uma maneira emancipadora, e não opressora.
Empresas & Negócios - Que tipo de atitude a Mercur tomou para "inverter a ordem"?
Strussmann - A Mercur opta, por exemplo, por não realizar promoções nem programas de incentivo, porque isso é empurrar mercadoria para o usuário final sem que ele tenha necessidade. Isso coloca em xeque o mercado promocional, o fazer negócio por fazer negócio. Mas a Mercur é uma empresa como qualquer outra. Nosso telhado é de vidro, temos várias coisas que são contraditórias e continuarão sendo, porque a transformação da empresa em uma empresa ideal, perfeita, não existe. Constantemente vamos nos dar conta de várias coisas que precisam ser feitas de forma diferente.
Empresas & Negócios - Mas a Mercur continua visando ao lucro para se manter, não?
Strussmann - O que a Mercur enxerga como essencial é que passa a ter uma relação colaborativa, e não mais competitiva, como no mercado convencional. Não há como evitar essa plataforma competitiva, mesmo porque nossos projetos também se alimentam dela em termos de investimento. A questão é como se faz isso, qual intenção ela coloca, ao invés do interesse. Descobrir como o lucro pode vir a ser a consequência onde a prioridade é o cuidado com o meio ambiente e as pessoas. A Mercur precisa cuidar de seu resultado econômico, e continua apresentando resultados dentro da expectativa, mesmo descontinuando linhas como as borrachas plásticas, os licenciados infantis, os negócios com indústrias fumageiras, armamentistas, de jogos de azar, de agrotóxicos.
Empresas & Negócios - A redução da diferença entre os salários tem surtido resultado?
Strussmann - Quando você começa a enxergar o que é uma relação opressora ou emancipadora, você vê que a distância que existe entre uma remuneração vertical e outra, que tenta ser cada vez mais horizontal, é muito grande. É uma relação colaborativa. Meu trabalho é decorrente de várias etapas anteriores e será em decorrência de etapas posteriores. Assim, passa a ser uma distribuição mais compartilhada do que é o resultado da organização. Tenho a sensação de que os colaboradores, hoje, sabem que o clima, de maneira geral, traz satisfação e bem-estar. Sente-se isso na expressão das pessoas. Até no protagonismo e na maneira com que elas se dedicam ao trabalho: são mais participativas e reconhecidas.
Empresas & Negócios - Houve algum modelo a ser seguido?
Strussmann - Temos algumas referências, claro, mas quase toda nossa caminhada se deu de maneira espontânea. E a Mercur também não se considera e nem quer ser um modelo, ela busca a sua construção na medida em que entende o que é adequado para ela, do jeito que ela é.
Empresas & Negócios - A tendência é de expandir ou reduzir o portfólio?
Strussmann - A Mercur quer identificar as necessidades reais dos usuários finais. Não temos nenhum objetivo de expandir a linha de produtos, mas, se entendermos que há como propiciar acessibilidade com um produto que ainda não temos, vamos estudar com a comunidade de uso. Queremos evitar o mais do mesmo.
Empresas & Negócios - Há preferência pela borracha natural? Existe oferta suficiente?
Strussmann - Um dos direcionamentos da organização é ter, um dia, toda a linha produzida com insumos renováveis. Ainda temos linhas de borrachas plásticas, mas, gradualmente, o objetivo é sair disso. Antes, importávamos tudo, mas, hoje, compramos a sintética no Estado, e trazemos a natural do interior de São Paulo e da região amazônica. Caso optássemos totalmente pelo látex, conseguiríamos, pois há oferta suficiente. É algo que encarece o produto final, mas que tem outro valor agregado. Não é percebido no produto, mas compensa socioambientalmente.
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