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Desenvolvimento

- Publicada em 21 de Dezembro de 2015 às 16:18

Cooperativismo aponta novos rumos para o mundo

Longevidade, educação e renda, os três indicadores que formam o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, estão no alvo dos países que buscam progresso a longo prazo. Conquistar uma boa nota nesses quesitos não é uma tarefa fácil, mas há quem se destaque no ranking em função de um modelo diferente de economia: o cooperativismo. Nas cidades que possuem cooperativas, o IDH é superior ao da média dos demais municípios, resultado dos ganhos gerados que ficam nas localidades em que estão instalados os empreendimentos. Quando o cooperativismo avança economicamente, puxa consigo seus associados e a economia local, que também crescem.No Rio Grande do Sul, 2,6 milhões de gaúchos associados ao cooperativismo são diretamente beneficiados por esse modelo. Mas indiretamente, os efeitos são ainda maiores: se considerado o núcleo familiar dos cooperados como sendo composto por três pessoas, o impacto chega a quase 69% do total da população do Estado.
Longevidade, educação e renda, os três indicadores que formam o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, estão no alvo dos países que buscam progresso a longo prazo. Conquistar uma boa nota nesses quesitos não é uma tarefa fácil, mas há quem se destaque no ranking em função de um modelo diferente de economia: o cooperativismo. Nas cidades que possuem cooperativas, o IDH é superior ao da média dos demais municípios, resultado dos ganhos gerados que ficam nas localidades em que estão instalados os empreendimentos. Quando o cooperativismo avança economicamente, puxa consigo seus associados e a economia local, que também crescem.No Rio Grande do Sul, 2,6 milhões de gaúchos associados ao cooperativismo são diretamente beneficiados por esse modelo. Mas indiretamente, os efeitos são ainda maiores: se considerado o núcleo familiar dos cooperados como sendo composto por três pessoas, o impacto chega a quase 69% do total da população do Estado.
Entre os anos de 2010 e 2014, o faturamento gerado pelas cooperativas gaúchas cresceu 68,2%, passando de R$ 18,5 bilhões, em 2010, para 31,2 bilhões no ano passado, de acordo com o Sistema Ocergs-Sescoop/RS. O aumento registrado em 2014 foi de 10,68%. Para se ter uma noção do quanto esse número é significativo, basta comparar com o PIB gaúcho, cuja variação entre 2013 e 2014 foi zero. O PIB nacional ficou bem próximo disso, com alta de 0,1%.
Até mesmo a economia chinesa, com seus surpreendentes crescimentos, registrou, em 2014, uma evolução do PIB de 7,14%, inferior aos resultados do cooperativismo gaúcho. De acordo com o Sistema Ocergs-Sescoop/RS, 65% das cooperativas estão concentradas nos ramos agropecuário, crédito e saúde. Destes, o mais expressivo em número de empreendimentos é o agropecuário, que registrou crescimento de 6% em 2014 na comparação com 2013. Por trás desses números, há uma dicotomia: os modelos econômicos são distintos, e a principal diferença está nas pessoas. Apesar de tudo isso, o modelo não está imune à crise e enfrenta entraves. Enquanto reúne a força das milhares de mãos que o fortalece, o cooperativismo precisa vencer suas próprias fragilidades para consagrar-se como resposta às crises do capitalismo.

Número de empreendimentos se reduz, mas faturamento cresce

Perius diz objetivo é transformar cooperativados em agroindustriais

Perius diz objetivo é transformar cooperativados em agroindustriais


JONATHAN HECKLER/JC
Quando Vergiliu Perius assumiu a presidência do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, em 2006, encontrou um universo composto por mais de 1,1 mil cooperativas. De lá para cá, esse número baixou para 440 empreendimentos. A redução não indica que o segmento está perdendo a expressividade. Pelo contrário, é um sinal de uma mudança considerada promissora pelo dirigente. "Defendemos que as cooperativas busquem cada vez mais a renovação, que se transformem em agroindústrias", revela.
Com estruturas de beneficiamento, os investimentos são maiores, porém os lucros também tendem a crescer. Por isso, a propensão é que as cooperativas sejam reduzidas em número, mas ampliadas em tamanho. Perius explica que a solicitação para abertura de uma cooperativa passa pela análise da entidade, que tem elevado as recusas. "Quando recebemos um novo pedido, avaliamos a viabilidade e identificamos se há uma outra cooperativa com as mesmas características", conta.
A sugestão tem sido para que grupos que pensem em se estruturar se juntem a cooperativas que já estejam em funcionamento. A tendência, aponta Perius, está em linha com os grandes modelos observados no mundo. Segundo o monitor Mundial
Co-operative, as 300 maiores cooperativas do mundo têm um volume de negócios combinado de US$ 2,2 trilhões. O dirigente acredita que o futuro do setor será construído por cooperativas maiores, com ampla participação de mercado e que tenham estruturas industriais capazes de gerar produtos diversificados. "O futuro é a agroindústria", reforça.
Diante do cenário econômico pouco favorável aos negócios, de uma maneira geral, Perius classifica o modelo cooperativista como promissor, pois é fortalecido pela presença das pessoas. Essa característica, defende, cria um contexto em que todos somam esforços e se ajustam para contornar os problemas. É semelhante ao que ocorre em uma residência, quando a renda da família cai, e o impacto é compartilhado por todos. O mesmo ocorre quando há ganhos, e os benefícios são divididos. Ele justifica, no entanto, que o cooperativismo também sente o impacto da crise e que pode, neste ano, registrar uma taxa de crescimento menor do que a do ano passado. Apesar disso, o segmento ainda deve figurar com um desempenho superior ao da economia tradicional.
Mesmo em um ano de retração, como foi 2015, as cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul tiveram um acréscimo significativo no seu faturamento, aponta um levantamento da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro/RS). O setor agropecuário, no cooperativismo do Rio Grande do Sul, é composto por 138 empreendimentos e mais de 293 mil associados, segundo o Sistema Ocergs-Sescoop/RS. 
O presidente da Fecoagro/RS, Paulo Pires, concorda que a expressividade dos empreendimentos é maior hoje, mesmo com um número reduzido de cooperativas. "Reduzimos um pouco o número de cooperativas, mas para nossa satisfação, nos últimos cinco anos, experimentamos um bom momento de preços de commodities e não houve estiagem entre 2013 e 2015. A média linear de crescimento foi em torno de 7%."
A tendência de concentração de cooperativas, que é um fenômeno mundial, também deve continuar, segundo ele. Pires salienta a importância da intercooperação, que é a união das cooperativas dentro de um mesmo ramo de atividade. "Eu acho que é a grande saída. Temos a missão de fazer com que esse modelo seja cada vez mais competitivo", afirma. "Convergir e juntar pessoas que pensam de forma parecida é a essência do cooperativismo."
Para o próximo período, de acordo com Pires, o faturamento das cooperativas agropecuárias deve aumentar, especialmente em função do crescimento de 16% da safra de soja do Rio Grande do Sul, onde o setor teve uma acréscimo de 10% na participação da originação da oleaginosa. Outro ponto que pode favorecer o crescimento do setor são os investimentos em assitência técnica. "Entretanto, esse faturamento maior não representa obrigatoriamente resultados superiores, pois teremos a elevação dos custos de produção", observa.
Ao avaliar o atual cenário econômico, o presidente da Fecoagro pondera que a o cooperativismo deve ser observado como modelo que traz respostas aos dilemas que a sociedade ainda não conseguiu solucionar. "Essa crise gera um certo questionamento quanto ao sistema capitalista mundial e o cooperativismo, com seu olhar mais humano, está aí para mostrar que consegue dar escala aos pequenos."

Cotrijui busca reestruturação

Com 58 anos de história, a Cotrijui Cooperativa Agropecuária e Industrial (Cotrijui) é um dos principais empreendimentos do modelo cooperativista no Estado. O que a coloca nesse patamar são os seus mais de 19 mil associados e o alto faturamento, que deve chegar a
R$ 500 milhões em 2015. Mas, há cerca de três anos, começaram a ser divulgadas as primeiras informações sobre a crise enfrentada. O presidente da cooperativa, Vanderlei Fragoso, cuja gestão foi iniciada em 2013, conta que só percebeu os problemas quando teve acesso aos dados. "A primeira medida foi procurar trazer uma segurança ao nosso produtor com uma mudança de comportamento na gestão."
Sanar uma dívida superior a R$ 1,2 bilhão tem sido um desafio difícil de vencer. A direção da Cotrijui busca firmar acordos junto aos credores. A reestruturação, avalia Fragoso, é possível, sobretudo diante de uma boa safra de soja, mas exige apoio dos produtores - parte deles figura entre credores com valores a receber. O cenário, que, em um primeiro momento, foi de descrença, está se revertendo. "A direção vem fazendo um trabalho importante para tentar reativar a cooperativa. Sabemos da dificuldade que ela está enfrentando e o problema que ela está tendo para se reestruturar", comenta o presidente do Sindicato Rural de Ijuí, Ércio Eickhoff.
O principal esforço é conquistar a confiança da produtor. "Acredito que, se a cooperativa fizer um acordo para quitar todos os débitos, terá ainda mais força", projeta. Ele tem verificado que em face da crise econômica, os produtores estão tendo mais confiança no sistema cooperativista, e isso favorece a Cootrijuí.
Para Eickhoff, o período mais crítico da crise passou. "Agora, tudo depende do trabalho e da eficiência da direção", acredita, ao lamentar que, até 2012, não havia dados claros sobre os problemas de gestão enfrentados. "A Cotrijui não divulgava o problema que enfrentava. A direção que assumiu começou a detalhar, e só aí soubemos da gravidade da situação", relata. Segundo ele, agora há mais transparência. "A intenção parece bastante clara, assim como as propostas para resolver o problema, mas saldo devedor da cooperativa ainda é bastante alto", analisa, afirmando que é difícil prever um cenário, mas torcendo para que a crise tenha ficado no passado.

Laticínios deram suporte aos produtores em dificuldade

Para Sauthier, modelo levou o setor a ganhar projeção nacional

Para Sauthier, modelo levou o setor a ganhar projeção nacional


VIRGINIA SILVEIRA/DIVULGAÇÃO/JC
Dedicado há 34 anos à atividade leiteira, Ingo Weber, da região de Tapera, sempre teve interesse em trabalhar no sistema cooperativo. "Na cooperativa, temos força, técnicos, conseguimos negociar a produção", conta sobre o desejo que conseguiu realizar há um ano e meio, quando se associou à Cooperativa Santa Clara. Ele lembra que antes, quando entregava o leite para uma empresa do ramo, era obrigado a aceitar o preço que ofereciam. Weber já projeta expansão da produção, fruto do contexto mais favorável que encontrou como cooperado. "Entregamos 22 mil litros, mas nosso objetivo é chegar 35 mil em três meses."
Aos 80 anos, o presidente da Cooperativa Santa Clara, Rogério Bruno Sauthier, é uma das pessoas que mais conhece o modelo cooperativista no Estado. "Como todas as empresas estão em evolução, as cooperativas prosperam da mesma forma. Quem aprimora sua gestão vai subsistir e crescer", avalia. "É um sistema bom, valoriza as pessoas, não só o capital."
Neste ano, as cooperativas gaúchas do setor mostraram também o impacto social que promovem. No primeiro trimestre de 2015, quando o Estado enfrentava a crise de pagamento envolvendo as indústrias, 7 mil propriedades estavam fora da atividade por falta de pagamento. Nesse mesmo período, as cooperativas incluíram 3.310 famílias de produtores ao sistema, segundo a Ocergs.