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LAVA JATO

- Publicada em 24 de Novembro de 2015 às 18:26

PF prende pecuarista amigo de Lula

Custodiado por agentes federais, empresário José Carlos Bumlai embarca para Curitiba, sede da Lava Jato

Custodiado por agentes federais, empresário José Carlos Bumlai embarca para Curitiba, sede da Lava Jato


EVARISTO SA/AFP/JC
A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã de ontem, em Brasília, o pecuarista José Carlos Bumlai na 21ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Passe Livre - uma alusão ao livre acesso do amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto. A nova etapa inclui investigações de pagamento de propina e fraude em licitações na contratação de navios-sonda pela Petrobras.
A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã de ontem, em Brasília, o pecuarista José Carlos Bumlai na 21ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Passe Livre - uma alusão ao livre acesso do amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto. A nova etapa inclui investigações de pagamento de propina e fraude em licitações na contratação de navios-sonda pela Petrobras.
Ao todo, além da prisão preventiva de Bumlai, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão e seis de condução coercitiva em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Lins (SP), Piracicaba (SP), Campo Grande e Dourados (MS). Bumlai iria depor na tarde desta terça-feira na CPI do Bndes e estava em um hotel próximo ao Palácio da Alvorada quando foi detido. Ele foi levado para a Superintendência da PF em Curitiba.
O pecuarista foi citado na Lava Jato pelo lobista Fernando Baiano, apontado pelo Ministério Público como operador do PMDB que intermediava o pagamento de propinas aos agentes públicos que sangravam os cofres da Petrobras.
Em depoimento de delação premiada, Baiano disse ter repassado R$ 2 milhões a uma nora do ex-presidente a pedido de Bumlai. Segundo as investigações, os valores eram referentes a uma comissão a que o pecuarista tinha direito e, na transação, foi simulado um contrato de aluguel de equipamentos e emitidas notas fiscais falsas. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa já havia dito, em depoimento, que José Carlos Bumlai “era um contato muito próximo de Fernando Baiano”.
O pecuarista Bumlai, próximo do então presidente, foi favorecido por financiamentos do Bndes e tinha livre acesso ao Palácio do Planalto no governo petista. Um recado na portaria do principal prédio da administração pública federal determinava: “O sr. José Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento na portaria principal do Palácio do Planalto, devendo ser encaminhado ao local de destino, após prévio contato telefônico, em qualquer tempo e qualquer circunstância”.
No governo do petista, além do trânsito livre, Bumlai tinha autorização para intermediar negócios bilionários de interesse da administração federal. Ele foi encarregado, por exemplo, de montar um consórcio de empresas para disputar o leilão de construção da hidrelétrica de Belo Monte, uma obra prioritária do governo federal, orçada originalmente em 25 bilhões de reais. Bumlai não só formou o consórcio como venceu o leilão para construir uma das maiores hidrelétricas do mundo. Mas a atuação do pecuarista, uma espécie de lobista VIP, também resvalou em suspeitas de que estava usando a influência e o acesso consentido ao palácio para fazer negócios privados, como a compra de turbinas para a usina de Belo Monte com um grupo de chineses.
De acordo com a PF, os investigados nesta fase devem responder pelos crimes de fraudes a licitação, falsidade ideológica, falsificação de documentos, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

'Não há nenhuma prova contra o ex-presidente', afirma Moro

Na decisão que mandou prender o pecuarista José Carlos Bumlai, o juiz Sérgio Moro ressaltou que não há nenhuma prova contra o ex-presidente Lula no empréstimo de R$ 12 milhões do banco Schahin ao pecuarista que, segundo os investigadores e com base em delações dos próprios executivos do banco, teria sido para repassar dinheiro ao PT.
“Não há nenhuma prova de que o ex-presidente estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução”, aponta o magistrado.
Para o juiz, Bumlai “teria se servido, por mais de uma vez e de maneira indevida, do nome e autoridade do ex-presidente para obter benefícios”.
Mesmo assim, a PF e a força-tarefa da Lava Jato devem investigar se o governo do ex-presidente Lula beneficiou o pecuarista José Carlos Bumlai em contratos com a administração pública. Embora Lula não seja formalmente alvo de investigação, ele foi frequentemente citado pelo próprio Bumlai como a autoridade que poderia destravar impasses - desde a manutenção do ex-diretor Nestor Cerveró na Petrobras até a confirmação de um contrato de sondas pelo grupo Schahin. Por ora, a ofensiva dos investigadores deve se focar em empréstimos de instituições financeiras, como o Bndes, utilizados para o esquema de corrupção, mas a PF não descarta apurar se o Palácio do Planalto, sob a gestão Lula, interferiu em contratos operados por Bumlai.
Em sua delação premiada, o lobista Fernando Baiano disse que, na tentativa de emplacar um contrato entre a empresa OSX, do ex-bilionário Eike Batista, com a Sete Brasil, empresa gestada no governo Lula para construir as sondas de exploração do petróleo do pré-sal, o empresário José Carlos Bumlai foi acionado para interceder junto a Lula. Em troca, o pecuarista teria recebido comissão de R$ 2 milhões, que acabaram repassados a uma nora do ex-presidente para a quitação da dívida de um imóvel.

'Se ele fez alguma coisa, não foi com meu aval', disse o petista

Assessores diretos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistiram nesta terça-feira na tese de que ele foi surpreendido pela prisão de José Carlos Bumlai, de quem é amigo, pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato.
A interlocutores, o ex-presidente tem repetido: “se ele (Bumlai) fez alguma coisa, não foi com meu aval”. Segundo o discurso de um colaborador de Lula, “não se pode nem confiar no que o marido faz, o que dirá um amigo”.
Apesar da preocupação, a recomendação é que se acompanhe com calma o desdobramento das investigações. Na opinião de auxiliares, há conflito de informações. De acordo com as investigações, a suspeita é que Bumlai tenha repassado ao PT o dinheiro de um empréstimo efetuado junto ao Banco Schahin.
De acordo com representantes do grupo Schahin, para provar que falava sério, Bumlai marcou um encontro entre os executivos do banco e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que atualmente cumpre pena por sua participação no esquema do mensalão.

Versões de filho do ex-presidente foram 'contraditórias e vazias'

Em representação encaminhada à Justiça Federal na Operação Zelotes, a Polícia Federal (PF)considerou “contraditórias e vazias” as “versões” apresentadas por um filho do ex-presidente Lula, Luis Claudio da Silva, e pelo lobista Mauro Marcondes para explicar um pagamento de R$ 2,5 milhões à empresa LFT Marketing Esportivo entre 2014 e 2015, pertencente a Luis Claudio.
Na mesma representação, a PF também pediu a prisão do lobista Francisco Mirto Florêncio da Silva, um “colaborador” de Marcondes, que teria, segundo uma anotação descoberta pela PF, realizado "investigação" clandestina sobre um dos procuradores da República que atuam no caso Zelotes, José Alfredo de Paula Silva.
A anotação é datada de abril de 2010, época em que José Alfredo investigava, em inquérito civil, as negociações para a compra, pelo governo Lula, de 36 caças para a FAB (Força Aérea Brasileira), ao custo de até US$ 10 bilhões, segundo o Ministério Público. Mirto foi preso por ordem judicial nesta terça-feira.
A LFT Marketing pertence ao filho do ex-presidente e os R$ 2,5 milhões foram pagos por Marcondes na mesma época em que o lobista recebeu dinheiro de duas empresas automotivas interessadas em obter benefícios fiscais do governo Lula.
No depoimento que prestou à PF, Luis Claudio alegou que os recebimentos se deviam a serviços prestados por ele na área de marketing esportivo.
Na representação entregue à Justiça, o delegado da PF responsável pela Zelotes, Marlon Cajado, afirmou que as declarações prestadas por Luis Claudio e Marcondes em vez de "elucidar os reais motivos dos pagamentos" na verdade serviram “para gerar mais celeuma, já que não há uma definição precisa sobre quais e quantos serviços foram de fato contratados, quais eram os reais objeto de estudos e ao que eles se destinavam”.
Segundo o delegado, não foi encontrada nenhuma documentação, nas buscas e apreensões realizadas pela PF nas sedes da LFT e da Marcondes e Mautoni, “que desse mínimo lastro ao serviço contratado”.
Na representação, o delegado solicitou ordem judicial para novas buscas na sede da Marcondes e Mautoni a fim de “aprofundar a investigação acerca da contratação da empresa LFT Marketing e outros contratos escusos”.