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Argentina

- Publicada em 24 de Novembro de 2015 às 15:47

La Nación noticia reação contrária a seu editorial

Jornalistas realizaram um ato de repúdio em plena redação

Jornalistas realizaram um ato de repúdio em plena redação


LA NACION/AFP/JC
Um editorial do jornal La Nación defendendo uma anistia a repressores condenados por crimes cometidos durante o regime militar argentino (1976-83) causou forte reação entre políticos, jornalistas e leitores da publicação, de linha conservadora. O próprio jornal voltou a manifestar-se ontem, um dia após a publicação, noticiando o ato de repúdio promovido pelos funcionários e dizendo que o texto reflete "exclusivamente a posição editorial do jornal, e não a de seus jornalistas".
Um editorial do jornal La Nación defendendo uma anistia a repressores condenados por crimes cometidos durante o regime militar argentino (1976-83) causou forte reação entre políticos, jornalistas e leitores da publicação, de linha conservadora. O próprio jornal voltou a manifestar-se ontem, um dia após a publicação, noticiando o ato de repúdio promovido pelos funcionários e dizendo que o texto reflete "exclusivamente a posição editorial do jornal, e não a de seus jornalistas".
O editorial, intitulado "No más venganza", (Chega de vingança) afirma que os julgamentos dos crimes de lesa-humanidade promovidos nos anos do kirchnerismo foram atos de "vingança" e chama os opositores do regime militar de "terroristas". Afirma ainda que os repressores que se encontram encarcerados, a maioria em idade avançada, estariam sendo maltratados. O texto ainda celebra a eleição de um novo presidente como oportunidade para "sepultar" as "ânsias de vingança" alimentadas pelas políticas de direitos humanos de Néstor e Cristina Kirchner - que anularam indultos e estimularam investigações.
Em sua edição de ontem, a publicação pediu também desculpas à senadora Norma Morandini, que foi citada no editorial por conta de um artigo em que falava na necessidade de reconciliação na área de direitos humanos. Norma, que teve dois irmãos desaparecidos durante a ditadura, diz que o jornal distorceu seu pensamento. "Quando falo em reconciliar, não é com os repressores, mas sim com a sociedade. Me vi envolvida em uma mentira."
O ex-chefe de gabinete do governo Cristina Kirchner, Jorge Capitanich, declarou que o editorial era "abominável". Já a deputada Victoria Donda (Progressistas) argumentou que os donos do jornal foram "irresponsáveis" ao comparar aqueles que morreram nos centros clandestinos aos terroristas que atacaram Paris no dia 13 de novembro. Já a presidente da associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, considerou o editorial "desatinado, injurioso e ofensivo", afirmando que os repressores presos são "pessoas muito perigosas, que não estão arrependidas".
Na tarde de segunda-feira, os jornalistas do La Nación, realizaram um ato de repúdio em plena redação. Soltaram um comunicado e tiraram uma foto com cartazes dizendo: "eu repudio o editorial". "Nunca vi nada parecido aqui, foi uma reação muito contundente", disse à reportagem o jornalista da seção de política Jorge Liotti.
A polêmica surgiu no dia seguinte à eleição de Mauricio Macri, que deu declarações polêmicas sobre o tema dos direitos humanos, afirmando que o kirchnerismo havia criado um sistema de "currais", beneficiando grupos de direitos humanos que se alinham ao governo. Apesar de declarar que manterá os julgamentos em curso, Macri não dá detalhes sobre o que pretende fazer com relação aos repressores presos nem se novos julgamentos terão início. O presidente eleito tem o apoio de entidades e advogados que pedem a anistia e a interrupção dos processos em curso. Na ditadura argentina, desapareceram 20 mil pessoas e mais de 500 bebês foram sequestrados.

Acordos comerciais são prioridade do presidente recém-eleito

Melhorar a relação com o Brasil e acelerar acordos para liberar o comércio com a União Europeia (UE) e com a Aliança do Pacífico são alguns dos pontos já definidos pelo presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, em sua política externa. Um dia após ser eleito, ele reafirmou a promessa de propor ao Mercosul acionar a cláusula democrática contra a Venezuela em razão dos políticos presos pelo governo Maduro. Nas palavras do argentino, o líder venezuelano age com "abuso e perseguição" contra seus opositores.
"Acredito que é evidente que se aplique essa cláusula, porque as denúncias são claras e contundentes. Não são uma invenção. Os testemunhos de Lilian Tintori, mulher de Leopoldo Lopez, são claros sobre o que está acontecendo na Venezuela. Não tem a ver com o compromisso democrático que assumimos." A mulher do venezuelano, que foi condenado a 14 anos de prisão em um julgamento controverso, esteve na Argentina no domingo e acompanhou o resultado da apuração na sede da coligação Cambiemos.
O tema pode ser o primeiro ponto de atrito entre o Brasil e a Argentina sob a gestão de Macri, uma vez que o governo de Dilma Rousseff vem mantendo silêncio sobre a política venezuelana. Em seu discurso, porém, Macri tentou minimizar contradições. "Queremos construir e afiançar boas relações com todos os governantes da América Latina e com o mundo. A Argentina precisa intercambiar culturalmente e economicamente com todos os países, buscando melhores oportunidades", afirmou.
Ainda na noite de segunda-feira, o partido chavista divulgou um comunicado oficial para condenar Macri por criticar o governo da Venezuela e tentar expulsá-lo do Mercosul por abusos de direitos humanos.
A nota do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) é a primeira reação do chavismo às duras críticas do recém-eleito. "As declarações do presidente-eleito, Mauricio Macri, são condenáveis e lamentáveis já que representam um ato de ingerência interna nas eleições parlamentares", diz a nota do PSUV, assinada pelo economista Rodrigo Cabeza Morales, vice-presidente da sigla para temas internacionais.
Entre os temas também abordados por Macri, está a intenção de avançar na facilitação comercial com a UE - com quem o Mercosul discute há anos um acordo de livre comércio - e com a Aliança do Pacífico, com o objetivo de aumentar o intercâmbio. Macri afirmou ainda que proporá o cancelamento do acordo com o Irã, costurado pela presidente Cristina Kirchner com o objetivo, segundo o governo, de interrogar suspeitos do ataque a bomba em Buenos Aires, em 1994.
O acordo foi alvo de investigação do promotor Alberto Nisman, encontrado morto em janeiro em caso ainda sem solução. Ele acusava Cristina de encobrir supostos envolvidos em troca de vantagens comerciais.