Cerca de 100 famílias integrantes do Movimento de Luta dos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam no sábado um antigo prédio pertencente ao governo do Estado no Centro de Porto Alegre, localizado na esquina das ruas Andrade Neves e General Câmara. A ocupação, denominada "Lanceiros Negros", marcou o aniversário de 171 anos do Massacre de Porongos, última batalha da Guerra dos Farrapos, na qual, durante ataque surpresa do exército imperial, cerca de 150 escravos negros foram colocados na linha de frente para defender os farrapos, com a promessa de serem libertados. Quase todos foram mortos.
Vindas de áreas de risco, essas famílias, majoritariamente compostas por pessoas negras, perderam parte dos seus pertences nas enchentes e não têm condições de pagar aluguel. Nessas condições, o grupo decidiu ocupar a edificação, abandonada há mais de dez anos, e reivindicar que o local sirva de moradia popular. "Mesmo com todo o movimento de higienização e limpeza étnica de Porto Alegre, promovido pelos governos e os megaeventos, exigimos nosso espaço, o Centro da Capital, que, inclusive, também foi território de nossos antepassados", aponta Nana Sanches, coordenadora da ocupação. A homenagem aos Lanceiros Negros marca as reivindicações dos porto-alegrenses pertencentes a povos de matriz africana. "Reivindicamos a atualidade da luta dos Lanceiros e de todo o povo negro por uma vida digna, pelo acesso à cidade e contra todo o racismo existente em nossa sociedade", defende Nana.
Em nota, o MLB garantiu estar agindo dentro da legalidade e que não aceitará despejo, remoção, intimidações ou truculência por parte da Brigada Militar. O direito à moradia digna é assegurado na Constituição Federal. Na Constituição Estadual, também está previsto que o governo deve combater a especulação imobiliária e os vazios urbanos.