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Teatro

- Publicada em 12 de Novembro de 2015 às 23:06

Evocação da guerra civil

A contraditória figura do caudilho Gumercindo Saraiva, depois de ter passado por livros e pelo cinema, chega, enfim, ao teatro. A façanha é de Júlio Zanotta, que escreveu e dirige este A guerra civil de Gumercindo Saraiva, referenciando os acontecimentos de entre 1892 e 1894, quando Gumercindo é morto traiçoeiramente, depois de ter comandado guerrilhas que se insurgiram contra Floriano Peixoto, percorreram milhares de quilômetros de ida e de volta, entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, numa série de façanhas até hoje polêmicas. Para muitos, um bandido. Para outros, um destemido herói. Na verdade, um dos últimos caudilhos que perambularam pela pampa, sem se dar conta de que seu tempo havia terminado. O governicho de Júlio de Castilhos não era um acaso: refletia as mudanças sociais, o surgimento das cidades, o processo de urbanização, o fim da política coordenada pelos grandes proprietários rurais. Gumercindo Saraiva ilustra fielmente uma época em que as fronteiras ainda não estavam claramente traçadas, ainda que politicamente elas já tivessem sido fixadas. Herói e facínora, bandido e mocinho, sua figura ainda hoje marca significativamente o final do século XIX na história da província.
A contraditória figura do caudilho Gumercindo Saraiva, depois de ter passado por livros e pelo cinema, chega, enfim, ao teatro. A façanha é de Júlio Zanotta, que escreveu e dirige este A guerra civil de Gumercindo Saraiva, referenciando os acontecimentos de entre 1892 e 1894, quando Gumercindo é morto traiçoeiramente, depois de ter comandado guerrilhas que se insurgiram contra Floriano Peixoto, percorreram milhares de quilômetros de ida e de volta, entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, numa série de façanhas até hoje polêmicas. Para muitos, um bandido. Para outros, um destemido herói. Na verdade, um dos últimos caudilhos que perambularam pela pampa, sem se dar conta de que seu tempo havia terminado. O governicho de Júlio de Castilhos não era um acaso: refletia as mudanças sociais, o surgimento das cidades, o processo de urbanização, o fim da política coordenada pelos grandes proprietários rurais. Gumercindo Saraiva ilustra fielmente uma época em que as fronteiras ainda não estavam claramente traçadas, ainda que politicamente elas já tivessem sido fixadas. Herói e facínora, bandido e mocinho, sua figura ainda hoje marca significativamente o final do século XIX na história da província.
Júlio Zanotta deve ter experimentado um fascínio muito grande por esta personagem. A guerra civil de Gumercindo Saraiva não é apenas uma peça de teatro produzida com imenso cuidado e carinho, mas é, evidentemente, um sonho do dramaturgo. A produção, que vem cumprindo temporada na chamada sala de máquinas do Museu do Trabalho, é esmerada, escolhendo intérpretes que nem sempre são atores de acabamento dramático, mas que assumiram com evidente convicção as personagens que representam. Gaio Fontella, por exemplo, incorpora Gumercindo, e é surpreendente sua similitude com a verdadeira figura histórica, conforme algumas imagens que encontrei na internet. É como se o guerrilheiro tivesse se reincorporado. Seu irmão, Aparício, é interpretado por Tito Ravaglia, que tem uma bela estampa, excelente voz e mobilidade muito forte no espaço cênico concretizado para a encenação. O mesmo vale para Pablo Parra, que vive Juca Tigre.
Aliás, a opção de Zanotta pela forma do musical, com as composições assinadas por Henrique Pasqual, que também dirige musicalmente a performance, Henrique Muller e Jonas Dornelles, com música ao vivo, com a participação da cantora Cibele Branco (excelente voz e personalidade na interpretação), é um dos grandes achados da produção. A trilha sonora constrói uma narrativa épica, marcial, que mobiliza a atenção do público. A sala das máquinas, que recebe alguns tablados, funciona como um belo espaço cênico, pois a dificuldade em transitar em meio às máquinas é metáfora da dificuldade de então, de se transitar em meio ao matagal e às tropas do governo. O médico Ângelo Dourado, a quem se deve talvez a narrativa mais fiel e isenta de paixões de todos os acontecimentos, é vivido por Rosa Lima, que se soma ao restante do elenco, Pablo Parra, Fernanda Santhos, Graziela Gallichio (que vive uma bela personagem louca) e Lidi Hoffmann.
A encenação, sabiamente, assume uma multiplicidade de vozes em sua narrativa: assim, também se multiplicam os pontos de vista em torno da personagem; não há nem o bandido, nem o herói. Existe a figura humana, contraditória, mas admirável, que soube deixar sua marca na história.
A destacar-se, ainda, a produção de um belo álbum de imagens, realizadas por Cavalcanti (Cava), sobre o tema, assinando ele, igualmente, painéis que marcam o espaço cênico e lhe dão um clima efetivamente desafiador. Poucas vezes assistimos, em Porto Alegre, a um trabalho autoral tão claramente definido e identificado. Zanotta, que, há muitos anos, assinou a direção de O café, libreto operístico de Mário de Andrade, num teatrinho que se espremia na Ramiro Barcelos, entre a Farrapos e a Cristóvão, volta a seus melhores tempos. Um belo e emocionante espetáculo.
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