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- Publicada em 26 de Novembro de 2015 às 23:05

Sensibilidades de Antônio Carlos Côrtes e Luiz Armando Vaz


DIVULGAÇÃO/JC
Cronistas, quase sempre, adoram falar em primeira pessoa, contemplar o próprio umbigo, dar opiniões pessoais e apresentar visões pessoais sobre tudo e todos. Hoje, a crônica se tornou, na maior parte do tempo, pequeno artigo de opinião. Felizmente, esse não é o caso do advogado, radialista, escritor e homem de cultura Antônio Carlos Côrtes, que acaba de lançar sua segunda coletânea de crônicas, chamada Rua da Praia 40º (Palmarinca, 136 páginas, [email protected]), acompanhada de dezenas de fotos de Luiz Armando Vaz.
Cronistas, quase sempre, adoram falar em primeira pessoa, contemplar o próprio umbigo, dar opiniões pessoais e apresentar visões pessoais sobre tudo e todos. Hoje, a crônica se tornou, na maior parte do tempo, pequeno artigo de opinião. Felizmente, esse não é o caso do advogado, radialista, escritor e homem de cultura Antônio Carlos Côrtes, que acaba de lançar sua segunda coletânea de crônicas, chamada Rua da Praia 40º (Palmarinca, 136 páginas, [email protected]), acompanhada de dezenas de fotos de Luiz Armando Vaz.
Côrtes, que já foi presidente do Conselho Estadual de Cultura e, atualmente, integra a instituição, lançou em 2014 a coletânea de crônicas Bailarina do sinal fechado (Palmarinca, 102 páginas) falando de samba, Carnaval, Porto Alegre, Copa do Mundo, holocausto, vuvuzela, Ospa, advocacia, busca do texto perfeito e outros temas, mostrando como gosta de mesclar sua sensibilidade e suas experiências de vida vivida com o saber acadêmico e a cultura popular.
Em Rua da Praia 40º, que tem bela arte da capa do arquiteto e artista plástico Vinícius Vieira, Côrtes novamente trata de temas que tocam altamente sua sensibilidade, como a Rua da Praia, o Centro de Porto Alegre, o Guaíba, o samba, o Carnaval, a música e os músicos (inclusive, e principalmente, o irmão baterista, Elias), o deputado Carlos Santos, as questões da cultura e da cidadania negras, o Parque da Redenção e muitos temas mais que os rio-grandenses tanto prezam.
Os textos de Côrtes são generosos, afetuosos e solidários, como ele é. O autor não está preocupado com vaidades e gloríolas passageiras. Na página 18, escreve que ninguém é mestre de nada, que somos todos alunos mais antigos. Na página 77, está declarado que, desde criança, educado por dona Isolina e seu Egydio, ele segue o caminho do amor ao próximo.
Está escrito na orelha do livro: "Antônio Carlos Côrtes e Luiz Armando Vaz palmilham, desde os anos 70, alegrias da cultura do Carnaval. Côrtes pelo microfone de rádio e televisão. Vaz pela lente mágica da fotografia, buscando, não só o melhor ângulo, mas arte pura. Ambos por este trabalho conjunto procuram desfilar na avenida da vida, desde a concentração, sem atravessar o ritmo, chegando à dispersão com muita história em forma de crônicas para contar. Até porque a fotografia nos revela, discretamente, variedade de tons sem perder a emoção e a sensibilidade. Texto e fotografia se complementam em parceria que não desafina".
É isso mesmo. Os textos de Côrtes e as fotos de Vaz desfilam com a elegância, o sincronismo e as fantasias de bom gosto e belo acabamento, como as de competentes porta-bandeira e mestre-sala.

Lançamentos

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DIVULGAÇÃO/JC
  • A voz que canta que voz que fala - Poética e política na trajetória de Gilberto Gil (Ateliê Editorial, 360 páginas), do jornalista Pedro Henrique Varoni de Carvalho, viaja pela trajetória de Gilberto Gil e, consequentemente, pela trajetória poética e política do Brasil.
  • Manoelito de Ornellas - Jornalista, professor e escritor emérito - 1903-1969 - Vida e obra de um ex-presidente da ARI (Editora Megalupa, ARI, Fundação Ulysses Guimarães, 104 páginas) da professora-doutora em Teoria Literária e escritora Maria Alice da Silva Braga, revela a rica vida de Manoelito, grande rio-grandense e grande brasileiro.
  • Amora - Contos (não-editora, 258 páginas), da escritora Natalia Borges Polesso, autora de Recortes para álbum de fotografia sem gente (contos, Prêmio Açorianos 2013) e Coração à corda (poemas) traz histórias narrando relações entre mulheres em que buscam o maravilhamento e o sossego de quem quer viver com honestidade.

Restos da voragem do tempo

Se os meus queridos seis leitores fazem questão de ler um texto levezinho, bem arrumadinho, engravatadinho, com sujeito, verbo, predicado e tudo em perfeita beleza, delicadeza e ordem formal, como num soneto parnasiano, bem, hoje, aí, peço que me desculpem e leiam outra coluna, ou, se quiserem, me sigam. Quem gosta de palavras, sonhos e pensamentos livres, me siga.
Essa conversa aí de cima me foi inspirada pelo livro mais recente do psicanalista e escritor Luiz-Olyntho Telles da Silva, Iluminura turca e outras crônicas (EDA, 176 páginas, [email protected]). Iluminuras compunham as páginas de livros, comumente as dos manuscritos medievais, para orná-los com flores, pássaros, ramos e traços delicados.
Em Meu nome é vermelho, do Nobel de Literatura Orham Pamuk, ele fala que o trabalho de iluminuras não deveria deixar vestígios de identidade do autor, ao contrário daquele que é denunciado pelo estilo, um defeito que permite, em cada objeto, distinguir quem o pintou.
Nos seus textos, Luiz-Olyntho, com burilada técnica, trabalhando alma, conteúdo, forma, palavras e arabescos, mundividências, significado e significante, forma, estilo e visão do mundo, nos leva para vislumbres sobre a história, ou, como ele diz, crônicas que recuperam restos da voragem do tempo. Restos do qual a perplexidade não se apodera.
O autor reflete que falamos de futebol, mulheres, guerras, política e outros temas, ou mesmo do modo como antigamente socávamos fumo num cigarrinho de palha, mas sempre nos deparamos com algum ponto da ordem do inefável. Escrevemos para salvar ao menos um resto da voragem do tempo. Ou, quem sabe, para tentar colocar ordem no caos, digo eu.
Sem ligar para cronologias, regras ou formalismos, as crônicas de Luiz-Olyntho mesclam vida real com filmes, livros, sensações, emoções, pensamentos, almas, viagens, pessoas, pai e mãe, filhos, amigos, rodoviária, memórias, transitoriedade permanente , Charlie Chaplin, tablao flamenco, vizinhos, Ano-Novo, Natal, leituras e mil coisas mais, tudo bem relacionado e não relacionado, igual nossas vidinhas pós-modernas indefiníveis, sem contornos, estilhaçadas, imersas em eterno presente, mas, ao mesmo tempo, nos lembrando do passado e sempre de olho no futuro que já chegou faz tempo.
Lendo Iluminura turca e outras crônicas quem sabe, como está na página 154, poderemos refletir que se tudo é transitório, temos de deduzir da transitoriedade sua permanência e ver a arte transcender os tempos, manter a esperança de ver o sonho freudiano realizado: passados os efeitos devastadores das doloridas perdas da humanidade, cumprindo um luto, talvez ainda por 200 anos, mesmo já não sendo os mesmos, mais maduros, valorizando a educação primária, poderemos voltar a uma relação estável com os objetos e, inspirados em Thiago de Mello, conseguiremos confiar no homem, como um menino confia em outro menino.

A propósito...

Diz Dulcinea Santos na orelha: "Quando o escritor põe o estilo a serviço de uma mundividência, seja na crônica, no conto, no romance, no poema, já não mais está aí o homem, o artista, o autor! Pelo trabalho da mímese, transforma-se em narrador fictício. Como Luiz-Olyntho diz do Saturno, de Goya: a história pode sempre ser reescrita com uma reflexão pessoal. Ao mencionar essa genial obra da pintura, o que ele nos diz claramente é que o aspecto estético da obra artística é meio, e não fim desta. Uma visão moderna do conceito de estilo. A crônica é um vislumbre sobre a história. Fascinado pelo horror e pelo inusitado, o cronista relata o resto do qual a perplexidade não se apodera".