O quarto protesto de taxistas realizado este ano no Rio de Janeiro contra o aplicativo Uber, que deu um nó no trânsito na semana passada - fechando os túneis Santa Bárbara e Rebouças, a Autoestrada Lagoa-Barra, a Praça da Bandeira e ruas como a Pinheiro Machado, em Laranjeiras -, foi liderado por André de Oliveira, de 36 anos, que sequer é dono de autonomia. Ele trabalha há dois anos com licença de motorista auxiliar. André do Táxi, como é conhecido, também concorreu em 2014 pelo Solidariedade (SD) a uma vaga de deputado federal, mas suas pretensões acabaram esbarrando na Justiça eleitoral.
Na prestação de contas de sua campanha, aparecem como principais doadores (pessoas físicas), o atual secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, e o deputado estadual Jorge Felippe Bethlem (PSD), filho do ex-secretário municipal Rodrigo Bethlem e neto do vereador Jorge Felippe, presidente da Câmara do Rio.
Na sua ficha da Polícia Civil, o líder do movimento tem três anotações criminais: duas acusações de violência e ameaça contra a mulher (Lei Maria da Penha); e outra relativa a uma suposta fraude contra a Caixa Econômica Federal. André do Táxi foi ainda barrado pela Lei da Ficha Limpa, tendo a candidatura negada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Mesmo assim concorreu, sub judice e no processo, que transitou em julgado após as eleições e o TSE manteve a decisão que negou o registro. Bethlem disse que as doações dadas a André do Táxi foram legais e registradas no TRE. Segundo ele, "é legítimo que qualquer categoria profissional queira ter representação política".
André do Táxi, que preside a Associação de Assistência aos Motoristas de Táxi do Brasil, no entanto, disparou em sua defesa. "Sou motorista de táxi há 13 anos, e há dois estou dedicado em tempo integral à associação. Sei que tenho vários homônimos com uma série de processos. Na última vez que fui tirar certidão negativa, consegui o 'nada consta'".
Considerado por colegas como o mais "articulado" dos taxistas, por evitar hostilidades com repórteres e lidar com desenvoltura com autoridades, não é consenso entre os manifestante. "Toda a chance que tem, ele aparece. É um político. Eles (André e as autoridades) já se conhecem, é uma carta marcada. Nunca o vi num táxi", disse um taxista que participava do protesto e que pediu anonimato.
Também houve protestos de taxistas na quarta-feira da semana passada em outras capitais, como São Paulo e Brasília. No Rio, foi organizado contra a liminar judicial que impede o Detro e a Secretaria municipal de Transportes de punir motoristas do Uber. Às 6h, havia cerca de 800 manifestantes, mas, durante o trajeto, o ato foi perdendo a adesão, até finalizar com 50 participantes às 16h30, em frente ao Tribunal de Justiça.
O grupo saiu da prefeitura, na Cidade Nova. No trajeto até o Palácio Guanabara, em Laranjeiras, fechou o Túnel Santa Bárbara e ocupou por duas horas e 45 minutos a rua Pinheiro Machado, no sentido zona Sul. Devido à lentidão, motoristas e passageiros demoraram para chegar a seus destinos e perderam compromissos. Morador da Freguesia, em Jacarepaguá, o administrador Hércules Carvalho levou três horas num ônibus até a Gávea, onde trabalha. Um trajeto que normalmente dura a metade do tempo.
Como outros passageiros, ele teve ainda que desembarcar dentro do Túnel Rafael Mascarenhas, e seguir a pé. "Não dá para fechar o trânsito todo por causa de uma categoria que, a cada dia, dá argumentos para a população pegar outro tipo de transporte. Qualquer protesto é valido, desde que não afete o ir e vir." O gestor de investimentos Moises Swirski, foi outro que perdeu o voo. Ele estava no Leblon e só conseguiu chegar ao Santos Dumont porque pegou carona com um amigo. Ele remarcou a passagem para São Paulo, porque a companhia tomou conhecimento do protesto. "Os táxis não estavam pegando passageiros."
Um grupo de taxistas foi recebido pelos secretários estaduais de Transportes, Carlos Roberto Osorio, e de Governo, Affonso Henriques Monnerat. A comissão foi informada que a Procuradoria não recorreria contra a liminar. No TJ, esteve com o presidente Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, para falar do que considera "aspectos ilegais" do Uber. Haverá novas reuniões com Osorio.