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Aviação

- Publicada em 05 de Novembro de 2015 às 22:06

Rombo no setor aéreo chega a R$ 7 bilhões

Eduardo Sanovicz apela por ajuda da União

Eduardo Sanovicz apela por ajuda da União


EDUARDO OGATA/ABEAR/DIVULGAÇÃO/JC
Situação do País e alta do dólar reduziram o volume de passageiros e elevaram os custos das companhias brasileiras. As empresas aéreas brasileiras deverão fechar 2015 com um rombo de caixa de R$ 7 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). Trata-se de um cenário oposto ao da indústria global, que se prepara para ter lucros recordes de US$ 25 bilhões neste ano. "Além de crise e câmbio, as empresas brasileiras sofrem porque o País não é competitivo. O combustível é um dos mais caros do mundo", disse Peter Cerda, vice-presidente de América Latina na Associação Internacional de Transporte Aéreo.
Situação do País e alta do dólar reduziram o volume de passageiros e elevaram os custos das companhias brasileiras. As empresas aéreas brasileiras deverão fechar 2015 com um rombo de caixa de R$ 7 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). Trata-se de um cenário oposto ao da indústria global, que se prepara para ter lucros recordes de US$ 25 bilhões neste ano. "Além de crise e câmbio, as empresas brasileiras sofrem porque o País não é competitivo. O combustível é um dos mais caros do mundo", disse Peter Cerda, vice-presidente de América Latina na Associação Internacional de Transporte Aéreo.
As empresas brasileiras sofreram um choque de custos com a alta do dólar, já que 60% das suas despesas estão em moeda norte-americana, como combustível e leasing de aeronaves. Para ter rentabilidade, elas teriam de elevar o preço da passagem, o que não vem acontecendo. O preço pago pelo quilômetro voado na Gol foi 3% menor no terceiro trimestre, segundo o banco Morgan Stanley. As vendas de passagens áreas caíram porque o cliente corporativo, que paga tarifas maiores, está viajando menos. Os maiores clientes - o governo, as construtoras, a indústria de óleo e gás e mineração - enfrentam uma grave crise econômica. No curto prazo, as empresas aéreas tentaram substituir esses passageiros por turistas, com preços abaixo do custo do assento.
A visão das empresas é de que isso é insustentável no médio prazo e é melhor voar menos do que continuar operando no vermelho. "A aviação brasileira vai encolher, para manter as empresas em operação", afirmou o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz.
O setor reagiu com pedidos ao governo. Sanovicz visitou quatro ministérios em outubro - Fazenda, Planejamento, Energia e Secretaria de Aviação Civil (SAC). Entre os pedidos, está a revisão do preço do combustível. A SAC respondeu que está avaliando as propostas.
O mercado financeiro colocou em xeque a capacidade financeira das empresas aéreas de voltar a dar resultado positivo. As quatro maiores empresas latinas - Latam, Gol, Avianca e Copa - perderam US$ 13 bilhões do seu valor de mercado desde janeiro de 2014, e hoje valem 68% menos. Se a crise avançar, fusões e aquisições podem ser a saída para a sobrevivência das empresas, dizem fontes de mercado.
Por enquanto, elas estão reforçando o caixa. Em setembro, a Gol captou empréstimos de US$ 300 milhões e mais US$ 146 com dois acionistas - a família Constantino e a companhia aérea norte-americana Delta - em uma operação que elevou a fatia da Delta na Gol para 9,48%. A empresa tinha R$ 2 bilhões em caixa em junho, mas é a mais exposta ao mercado brasileiro e foi a que mais perdeu valor.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a Gol já estuda fazer uma operação de venda e "rearrendamento" de aviões e pode captar até US$ 400 milhões. Se a crise se agravar, a empresa poderá vender participações maiores à Delta, mas, no curto prazo, a opção está descartada pelos controladores da aérea, justamente porque o valor da empresa está depreciado. A Delta é avaliada em US$ 40 bilhões.
Já a Latam, dona da TAM e da LAN, tinha US$ 1,6 bilhão em caixa em junho, mas seu risco financeiro é considerado pelos analistas de mercado menor do que o da Gol. A razão é que a Latam tem mais condições de fazer caixa com voos em mercados mais rentáveis, como Chile, Peru e Colômbia, e tem acesso aos mercados de capital externo.
A Azul e a Avianca não divulgam sua posição de caixa. O presidente da Azul, Antonoaldo Neves, disse que a empresa encerrou o segundo trimestre de 2015 "com o maior caixa de sua história", formado em parte pelos US$ 100 milhões captados com a venda de 3% da Azul à United Airlines este ano. Segundo ele, a empresa tem opções para levantar capital se necessário, como a venda do seu programa de milhagem, o Tudo Azul, a fundos de private equity.
A Avianca Brasil viu fracassar uma proposta para que a Avianca colombiana investisse na empresa, segundo a Bloomberg. As duas têm os mesmos controladores, os irmãos José e Germán Efromovich, mas a colombiana tem outros acionistas. José Efromovich disse que a Avianca Brasil "tem caixa para enfrentar a crise se ela não perdurar. Mas o caixa não é eterno".

Brasil é único país da América Latina com corte na oferta de voos em 2015

Claudia Sender está implantando uma redução de 10% na malha doméstica da TAM em 2015

Claudia Sender está implantando uma redução de 10% na malha doméstica da TAM em 2015


MOACYR LOPES JÚNIOR/FOLHAPRESS/JC
O Brasil é o único país latino que vai encerrar 2015 com redução na oferta de voos comerciais. Em dezembro, a queda no volume de passagens aéreas à venda no mercado, de acordo com projeções da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), que consideram voos domésticos e internacionais, será de 3%. Essa é uma reação das aéreas ao pior cenário para o setor nos últimos 10 anos. Com o dólar alto e a economia em recessão, as empresas operam no vermelho e os investidores colocam em xeque a viabilidade financeira das companhias.
O Brasil responde por cerca de um terço do tráfego aéreo da América Latina, que fechará o ano com expansão de 5% da capacidade, segundo dados dos sete maiores mercados. O maior crescimento será no México (13%), seguido de Colômbia (12%) e Chile (11%). No mercado brasileiro, o corte de oferta já começou. Em setembro, o volume de assentos oferecido caiu 1,74% em relação ao mesmo período de 2014, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A redução vem das líderes TAM e Gol, enquanto as empresas menores, Azul e Avianca, apenas desaceleram um movimento de expansão.
Nos próximos meses de 2015 e 2016, a retração deve ser ainda maior. A presidente da TAM, Claudia Sender, disse que, até o fim de novembro, terá implementado a redução de 10% na malha doméstica. "Vamos avaliar os próximos passos conforme tivermos mais clareza, especialmente sobre o patamar de câmbio. Somos parte de um grupo multinacional (a Latam, com sede no Chile) e podemos transferir capacidade para mercados mais fortes", afirmou.
A Gol prevê corte de 2% a 4% na capacidade no segundo semestre deste ano. "Vivemos o pior cenário para aviação brasileira da história da Gol. A única alternativa gerenciável é reduzir oferta", disse o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, no início do mês. A Gol deverá ampliar esse movimento em 2016, com redução de frota. A companhia aluga entre três e quatro aviões por ano para empresas europeias durante o verão, baixa temporada no Brasil. Ano que vem o número de aviões "alugados" deve ficar entre nove e 12.
Segundo estimativas do sócio da Bain&Company, André Castellini, há um excesso de oferta nos voos nacionais entre 15% e 20%. Duas fontes do setor estimam que é necessária a retirada de "pelo menos 10%" do volume de assentos disponíveis nos voos domésticos para que as companhias possam operar com lucro. O movimento de redução de oferta em um mercado competitivo gera uma queda de braço entre as empresas.
"Em uma rota em que há excesso de oferta, TAM, Gol e Azul, por exemplo, têm um voo diário com prejuízo. A rota poderia ser rentável se uma delas saísse. Mas quem vai sair? Isso vai beneficiar quem fica", explica uma fonte. "Mas, se ninguém quiser sair, todo mundo vai queimando caixa." Desde 2012, a Gol e a TAM tentam recuperar sua rentabilidade parando de ampliar a frota e abandonando rotas deficitárias. A Azul e a Avianca continuaram a trazer aviões para o País - a oferta delas cresceu 125% e 180% de setembro de 2011 para o mesmo mês deste ano, período em que as duas líderes cortaram juntas quase 15% dos seus assentos.
Com a crise econômica se agravando, a Azul e a Avianca já falam em mudar de estratégia. A Azul tem frota suficiente para ampliar em 15% sua oferta de passagens aéreas nacionais em dezembro, mas está voando menos e vai aumentar sua capacidade em apenas 3,9%, explica o presidente da Azul, Antonoaldo Neves. Em 2016, a previsão é de que o impacto na oferta varie de uma redução de 1% até uma alta de 3%.
"Nossos jatos poderiam voar 12 ou 13 horas por dia, mas voam 10 horas. Não é eficiente. Podemos nos desfazer de aeronaves", afirmou. A empresa poderá antecipar a devolução de cerca de 15 aeronaves Embraer 190 que eram da Trip, empresa comprada por ela em 2012. Mesmo assim, Neves afirma que a empresa vai manter os planos de recebimentos de oito Airbus A320 no fim de 2016.
A Avianca deve expandir em 15% a oferta neste ano, segundo o presidente da empresa, José Efromovich. O motivo é que a companhia deu sequência à substituição dos Fokker 100, com 100 assentos, pelo Airbus 320, com 162 lugares. "Lamentavelmente esse plano nos coloca em uma posição de expansão de oferta em um cenário de recessão", disse Efromovich. A empresa não faz projeções para 2016. "Estamos vivendo uma incógnita política e econômica no Brasil que é ruim para a aviação comercial."

Busca de passageiros provoca liquidação na classe executiva

Poltrona espaçosa é uma das atrações oferecidas a viajantes abonados

Poltrona espaçosa é uma das atrações oferecidas a viajantes abonados


BANCO DE IMAGENS TAM/DIVULGAÇÃO/JC
A classe executiva oferece aos passageiros o sonho de voar para os Estados Unidos ou para a Europa de maneira superconfortável. O embarque é antecipado; as poltronas, espaçosas, praticamente uma cama; a TV é individual; há a oferta de mais opções de refeições e de vinhos, mais milhas e mais malas. Todo esse conforto custa entre US$ 3 mil, em uma tarifa promocional normal, e US$ 21 mil, no valor cheio.
O cenário de crise econômica e dólar próximo de R$ 4,00 faz as aéreas saírem em busca de passageiros. Por isso, ainda que de maneira discreta, começaram a liquidar assentos na classe executiva, com passagens na casa dos US$ 1 mil. O fenômeno é novo: começou no fim de julho e ganhou fôlego em outubro. Se a demanda não aumentar, deve continuar no ano que vem.
Os bilhetes superpromocionais da classe executiva variam entre US$ 634 e US$ 2.300. Normalmente, têm restrições, como emissão no mínimo de sete a 14 dias antes do embarque. E estão disponíveis para os principais destinos de brasileiros nos EUA: Nova Iorque, Miami e Orlando. As companhias europeias não têm seguido o movimento.
Quem tinha US$ 634 na semana passada podia comprar passagem para Miami, na classe executiva da Copa Airlines, embarcando amanhã, dia 13, com volta no dia 23. Um bilhete desses, na tarifa cheia, custaria
US$ 5.218. Na promocional comum, custava US$ 2.359. A consolidadora de bilhetes High Light acompanha diariamente os preços das passagens aéreas no sistema e, quando encontra algo fora do comum, dispara a informação para cerca de 700 agências de viagens com as quais trabalha no Rio de Janeiro.
"Na classe econômica sempre houve promoções, mas esse nível de desconto na executiva é novo", diz Adriana Sales, coordenadora de vendas da High Light. Dilson Verçosa Jr., diretor regional de vendas da American Airlines (AA), confirma que esses preços na classe executiva são uma novidade. A alta do dólar e o grande número de assentos em voos rumo aos EUA levaram as empresas a rever suas estratégias para aumentar a demanda. "Não dá para mudar de um dia para o outro só por causa da crise. Há uma quantidade imensa de assentos que não têm procura. A solução: baixar preço."
Para o executivo da AA, essas superpromoções vão ocorrer pelo menos até dezembro deste ano. Se a alta temporada for fraca, a liquidação deve voltar em fevereiro e seguir até o meio do ano que vem. O objetivo é ocupar também os 44 assentos mais espaçosos dos Boeings 777-200 ER que partem do Rio de Janeiro e de São Paulo rumo a Nova Iorque e Miami. "É preciso ser competitivo ao extremo. Não vamos perder mercado, mesmo que às custas de tarifas baixas."
Diógenes Toloni, gerente-geral da Copa Airlines no Brasil, também reconhece que a empresa precisa ser competitiva. Ele não divulga o percentual de assentos de classe executiva com descontos de até 45%, mas admite que o retorno ficou acima do esperado pela empresa. A TAM também entrou na briga com a oferta de passagens por
US$ 1.000 na executiva rumo a Miami e Nova Iorque. Até o sábado da semana passada, a Azul tinha voos de classe executiva de Campinas a Fort Laudardale, na Flórida, a partir de US$ 980. Para Orlando, a tarifa inicial de ida e volta era de US$ 1.140.