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Contas Públicas

- Publicada em 23 de Novembro de 2015 às 15:21

Queda na arrecadação representará R$ 10 bi a menos em receitas

 Contabilidade - finanças públicas - stockvault

Contabilidade - finanças públicas - stockvault


STOCKVAULT/DIVULGAÇÃO/JC
As despesas, por outro lado, subiram. De acordo com o documento, os gastos totais (incluindo obrigatórios e discricionários) ficarão em R$ 1,108 trilhão em 2015, o que representa um aumento de R$ 2,77 bilhões sobre a projeção anterior. No acumulado de 2015, a alta nos gastos da União será de R$ 5,53 bilhões.
As despesas, por outro lado, subiram. De acordo com o documento, os gastos totais (incluindo obrigatórios e discricionários) ficarão em R$ 1,108 trilhão em 2015, o que representa um aumento de R$ 2,77 bilhões sobre a projeção anterior. No acumulado de 2015, a alta nos gastos da União será de R$ 5,53 bilhões.
A equipe econômica atribui a revisão das contas da União e nova estimativa de receitas para 2015 à frustração na arrecadação. O "desempenho inesperado" afetou sobretudo o recolhimento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica, que deve gerar R$ 10 bilhões a menos em receitas do que o esperado no relatório anterior, PIS/Pasep (-R$816 milhões), Cofins (-R$ 3,2 bilhões) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL, -R$ 3,6 bilhões). Além disso, o relatório aponta a queda na arrecadação esperada com o Programa de Redução de Litígios Tributários (Prorelit) e com o projeto que propõe a regularização de recursos no exterior, que ainda está sob a análise do Congresso Nacional.
Foi o aprofundamento da recessão econômica que obrigou o governo a reduzir, mais uma vez, suas projeções de arrecadação para 2015. O relatório de avaliação fiscal do 5º bimestre, divulgado no final de novembro, informa que a estimativa para receita primária total do ano caiu para R$ 1,260 trilhão. O número é R$ 57,9 bilhões menor que o previsto no 4º bimestre. Já no ano, a frustração chega a nada menos que R$ 111,4 bilhões.
Para especialistas, o cenário deixa claro que o governo, no curto prazo, não consegue fazer o ajuste sem aumento de impostos. De um lado, porque não obteve apoio no Congresso para aprovar todos os cortes que desejava. De outro, porque a recessão veio pior do que o previsto e derrubou a arrecadação. "Se você traçar um gráfico com receitas e despesas, vai ver que a despesa é rígida e crescente, e a receita é sensível ao ciclo econômico: está despencando", diz Vilma da Conceição Pinto, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV).
Para o economista especialista em contas públicas, Mansueto Almeida, o dramático é que, ao final, este será um ano perdido para o superávit primário (a economia para o pagamento de juros da dívida). "Viramos 2014 com déficit de 0,6% do PIB e projetando superávit de 1,2%, mas terminamos com um déficit de quase 1%: não é que o ajuste não tenha avançado, ele retrocedeu", diz Almeida. Assim, a economia prevista de R$ 66 bilhões foi se transformando em um rombo de R$ 52 bilhões. Se for incluído o gasto com as chamadas "pedaladas", as contas públicas fecham o ano com um buraco de R$ 120 bilhões.
A previsão de redução no lucro das estatais também levou a equipe econômica a revisar para baixo a expectativa de receitas com dividendos e participações. A previsão de arrecadação com essa rubrica caiu 29% do quarto para o quinto bimestre: passou de R$ 15,9 bilhões para R$ 11,3 bilhões. O relatório aponta, ainda, o adiamento da oferta pública inicial (IPO) da Caixa Seguridade Participações S/A como fator contribuinte para a revisão, mas não cita possível prorrogação da oferta para o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), sinalizando que o governo ainda conta com a realização do IPO este ano.
Em relação a concessões e permissões, o governo espera uma redução de R$ 1,3 bilhão em relação ao relatório do 4º bimestre. A previsão é de que entrem nos cofres públicos entre novembro e dezembro R$ 130 milhões em concessões recorrentes e R$ 11,17 bilhões em novas concorrências (R$ 120 milhões da 13 ª rodada da ANP e R$ 11,05 bilhões dos leilões de usinas hidrelétricas antigas). Até outubro foram arrecadados R$ 5,63 bilhões.
As operações com ativo devem gerar aos cofres públicos em 2015, segundo o relatório, R$ 795 milhões, ante os R$ 3 bilhões previstos no 4º bimestre. A previsão de receitas com a Cota-Parte de Compensações-Financeiras caiu R$ 184 milhões por frustrações nas arrecadações estimadas, sobretudo, com recursos hídricos (-R$ 196,9 milhões). A equipe econômica também espera arrecadar R$ 74,6 milhões a menos com recursos do petróleo, R$ 9,8 milhões com recursos do petróleo e R$ 25 milhões com royalties de Itaipu.
Na revisão das contas, o déficit da Previdência subiu de R$ 82,18 bilhões para R$ 86,38 bilhões em decorrência de uma queda na arrecadação da contribuição previdenciária e do aumento dos gastos com benefícios. O documento também reviu as estimativas para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) e da inflação. Agora, o governo espera que a economia feche o ano com uma retração de 3,1%. Na projeção anterior, era 2,44%. E no início do ano, de 1,2%. Já a alta dos preços foi estimada agora em 9,99%, contra 9,29% no relatório do 4º bimestre e 8,26% no início de 2015.
Diante desse cenário, a equipe econômica prevê agora que o governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) fechará o ano com um déficit de R$ 51,8 bilhões, ou 0,9% do PIB. O documento ainda não prevê o pagamento das pedaladas (atrasos nos repasses do Tesouro para bancos públicos nos últimos anos), estimadas em R$ 57 bilhões. Segundo os técnicos do governo, o cronograma desse desembolso está sendo negociado com o TCU, que já condenou essas manobras.
O déficit poderá chegar a R$ 119,9 bilhões, caso haja uma frustração de R$ 11,1 bilhões com leilões de concessão de usinas hidrelétricas que não renovaram seus contratos em 2012, e caso o governo pague todas as pedaladas fiscais.
O governo optou por trabalhar no relatório com uma meta fiscal que ainda não foi aprovada pelo Congresso. A meta que está em vigor oficialmente hoje prevê um superávit primário de R$ 66,3 bilhões (1,19% do PIB) para o setor público, sendo R$ 55,3 bilhões (0,99% do PIB) para o governo central e R$ 11 bilhões (0,2% do PIB) para estados e municípios.
Apesar de o Tribunal de Contas da União (TCU) já ter considerado irregular o fato de o governo ter trabalho com metas ainda não aprovadas pelo Congresso, no ano passado, a equipe econômica explicou que não tem mais como perseguir o número oficial: "Apesar de todas as medidas adotadas pelo governo, desde dezembro de 2014, não se observou o retorno do superávit primário para o nível previsto inicialmente, em função da grande frustração da estimativa de receitas, decorrente de vários choques que ocorreram desde o final de 2014", afirma o texto do relatório.
O texto alerta para o fato de que seria preciso fazer um contingenciamento adicional de gastos de R$ 107,1 bilhões para garantir a meta oficial, o que seria inviável. Somente no Executivo, o contingenciamento teria que ser de R$ 105,4 bilhões. Desse valor, no entanto, seria preciso retirar R$ 30,5 bilhões para o cumprimento dos valores mínimos constitucionais de Saúde e de Educação. "Sendo assim, de forma a garantir a obrigação constitucional, o valor disponível indicado para ser contingenciado seria de R$ 83,3 bilhões. Entretanto, diante da atual execução orçamentária das despesas, esse contingenciamento não se apresenta factível, já que até o dia 10 de novembro resta um saldo de R$ 10,7 bilhões, excluídos os mínimos de saúde e as emendas impositivas", alerta o relatório.
O relatório mostra que as despesas obrigatórias são as responsáveis pelo aumento de R$ 2,77 bilhões na previsão de gastosno 5º bimestre. Houve aumento nas despesas com seguro- desemprego, benefícios da Previdência, pessoal e encargos e compensações à Previdência Social devido ao programa de desoneração da folha de pagamento das empresas.

Ano de ajuste vai terminar com alta de R$ 74 bilhões nos gastos obrigatórios

Aumento de despesas com benefícios, que não podem ser alteradas pelo governo, interfere nos resultados

Aumento de despesas com benefícios, que não podem ser alteradas pelo governo, interfere nos resultados


STOCKVAULT/DIVULGAÇÃO/JC
O governo apertou o cinto e cortou onde pôde na tentativa de conter gastos e deslanchar o ajuste fiscal em 2015. Na prática, porém, este será mais um ano de aumento de despesas - especificamente das despesas obrigatórias. São aqueles gastos como aposentadorias e pensões, transferências para serviços de saúde e educação, enfim, o conjunto de benefícios previstos em leis que o governo não tem autonomia para mexer.
Segundo o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, o próprio governo projeta que as despesas obrigatórias vão ter um aumento de R$ 74 bilhões neste ano. É muito, segundo ele, em um período de inflação a 10% e retração de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Para o ano que vem, o governo chegou a estimar alta de R$ 105 bilhões nesses gastos. Depois voltou atrás, e prevê aumento de R$ 75 bilhões - o que Almeida considera complicado. "A combinação de recessão com inflação tende a piorar o resultado", adverte o especialista.
O que chama a atenção é que mais da metade do aumento é gasto com a Previdência: R$ 42 bilhões neste ano e quase R$ 55 bilhões no próximo. Há esse salto no valor de um ano para outro porque o peso da Previdência é crescente. Para se ter uma ideia, estima-se que os gastos com o INSS crescerão 0,9% do PIB neste e no próximo ano. Trata-se de uma alta igual à vista de 2003 a 2014. "Em apenas dois anos, os gastos do INSS vão crescer o mesmo que em toda a década passada", diz Almeida.
Na avaliação dos economistas, o aumento do gasto fixo ressalta a importância de dois pontos recorrentes na discussão do ajuste fiscal. O primeiro é que se tornou urgente fazer a reforma da Previdência. Ela não teria impacto agora, mas mudaria o cenário, que é muito ruim. Estima-se que o gasto com a Previdência vai atingir R$ 1 trilhão ao fim de 2050. Para se ter uma ideia do que isso representa, o valor equivale a praticamente todo o orçamento do governo hoje.
"Apesar de o Brasil ainda ser jovem, os gastos com a previdência têm um padrão espetacular de crescimento e vão se acelerar ainda mais nos próximos anos porque a população está envelhecendo", diz o economista e pesquisador na área de Previdência, Paulo Tafner. Em proporção ao PIB, o gasto brasileiro já é semelhante ao da Alemanha e do Japão, onde a maioria da população é idosa. Aliás, no mundo, só dois outros países com população jovem têm padrão de gasto semelhante: Polônia e Turquia.
Segundo Tafner, o Brasil gasta demais com previdência por inúmeras razões, mas três se destacam. A primeira é que as regras de concessão dos benefícios são muito generosas. O brasileiro consegue se aposentar com cerca de 55 anos, quando em países mais velhos a média é de 65 anos. Também pode acumular mais de um benefício: receber a própria aposentadoria e a pensão de um companheiro falecido, por exemplo.
O segundo problema é o rápido envelhecimento da população. No curto prazo de quatro décadas, entre os anos de 2010 e 2050, o número de idosos vai praticamente se multiplicar por três: vai passar de 19,6 milhões para 66,5 milhões. Pesa ainda o fato de os benefícios serem indexados. O piso da aposentadoria segue o salário mínimo, os demais têm reposição pela inflação. Aliás, cerca de 48% da despesa do governo é indexada.