Groupon prevê crescimento após reformulação

Assim como a empresa da qual é vice-presidente, João Pedro Serra passou por mudanças significativas ao longo de sua vida. Aos 53 anos, ele é formado em Engenharia Nuclear pela PUC-RJ, tem mestrado, estudou Marketing Estratégico na Cornell University e continua a se especializar na Fundação Getulio Vargas. Além de passar por multinacionais como a TIM e a Motorola, Serra se aventurou no empreendedorismo antes de se firmar no cargo de vice-presidente do Groupon Brasil, que ocupa há dois anos. "Fundei uma incubadora em 2000 e também a primeira empresa de mobile marketing no Brasil, mas foi muito cedo, ela não foi a lugar nenhum", conta.

Hoje, o executivo se reporta a Michel Piestun, CEO do Groupon para América Latina, e vê um futuro positivo para o e-commerce no País. A empresa redefiniu seu modelo de negócios em nível mundial no ano passado: desistiu do segmento de compras coletivas para investir na plataforma de e-commerce local. Atualmente, o Groupon tem 25,5 milhões de assinantes da newsletter e mais de 29 mil parceiros desde o início das operações no Brasil.

João Pedro Serra - O Groupon nasceu em 2007, em Chicago, tem oito anos de existência no mundo e cinco anos de Brasil. A empresa inovou, criou esse conceito de compras coletivas, que foi uma bolha muito grande. Foi um segmento da economia que teve um crescimento assustador. O Groupon foi a empresa mais rápida na história a atingir o valor de mercado de US$ 1 bilhão. Só que, como toda bolha, o crescimento foi muito rápido e desestruturado. Então, ao longo desses oito anos, a empresa veio se reestruturando e se profissionalizando, principalmente no seu controle de qualidade, no investimento em tecnologia e em conhecimento do comportamento do usuário. Esse investimento se pagou ao longo desse período. Se olharmos para o mercado hoje e notarmos a quantidade de empresas de tecnologia que atuam nesse antigo segmento de compras coletivas, há pouquíssimos players. Atualmente, o Groupon se denomina como e-commerce local. Nossa missão é conectar o comércio local a seu potencial cliente. A grande diferença é que, antes, havia ofertas com descontos muito agressivos e outras promoções só existiriam com um número mínimo de compradores. Hoje, tem um nível de desconto que é saudável para o parceiro e que ajuda a tirar o potencial cliente da inércia para fazê-lo experimentar os produtos. Nós selecionamos muito bem o que colocamos na nossa plataforma, porque somos corresponsáveis pelo serviço prestado na compra. Então, se, por exemplo, você compra um cupom, vai a um estabelecimento e é atendido de uma forma diferente dos clientes normais, esse parceiro sai da nossa plataforma. Evoluímos muito no controle de qualidade, também com um banco de dados gigantesco que tem informações sobre o que funciona, em quais categoria, em que regiões. Depois de milhares e milhares de transações, conseguimos ter uma fórmula que funciona de maneira ideal para o nosso parceiro e para o cliente. O Groupon consegue fazer essa máquina toda girar de forma eficiente também.

Empresas & Negócios - O Groupon encerrou operações em sete países recentemente, como o Taiwan, Porto Rico e no nosso vizinho Uruguai. Isso faz parte da estratégia de reposicionamento?

Serra - Sem dúvida. Na posição que o Groupon ocupa de líder do segmento, não pode nunca parar de investir. A empresa precisa que haja retorno nesses investimentos para que eles se perpetuem. Essas operações não estavam trazendo o retorno necessário, então nossos recursos serão aplicados em países que trazem resultado positivo, como o Brasil, por exemplo.

Empresas & Negócios - Em termos de consumo e de modelos de negócios, qual é a situação atual do e-commerce no Brasil?

Serra - Não vejo outro caminho para o e-commerce no Brasil a não ser o de crescimento contínuo. Mesmo com todo esse momento de crise, continuo acreditando que o e-commerce terá desempenho positivo no ano de 2015. Para o Groupon, especificamente, o momento é oportuno, já que as empresas precisam de parceria para continuar gerando tráfego no seu dia a dia. Os restaurantes precisam encher suas mesas, os hotéis têm que ocupar os quartos, porque o custo está ali, e um cliente a menos acaba saindo muito caro. Então, é hora de esses parceiros fazerem um esforço para encher esses espaços que a crise está esvaziando. O Groupon é a parceria perfeita para esse momento, pois consegue conectar o comércio local com o consumidor.

Empresas & Negócios - O que o brasileiro espera quando vai em busca do comércio eletrônico?

Serra - Preço, indiscutivelmente. As empresas do varejo que estão no comércio eletrônico têm praticado preços menores. Você tem uma troca de custo benefício: quando compra pela internet, está longe de uma recomendação profissional, de um atendimento diferenciado e longe do produto, então essa negociação on-line acaba sendo mais barata. Além de procurar informações, hoje as pessoas não saem de casa para comprar sem consultar o produto na internet. O consumidor também busca variedade. Nós não podemos nos esquecer que no comércio on-line se encontra de tudo. Às vezes, é inviável uma loja física que carregue certo nível de estoque, então a internet é o lugar perfeito.

Empresas & Negócios - Quais são as diferenças no comportamento do consumidor e também na oferta das empresas, levando em consideração as regiões do País?

Serra - Notamos que há regiões que são mais sensíveis que outras a descontos e ofertas. Uma oferta para Porto Alegre vai gerar um retorno diferente de uma promoção para Brasília. Temos um bom conhecimento dessas diferenças e procuramos trabalhar de forma a maximizar para todos os lados. No Brasil todo, nosso principal segmento é churrascaria, depois vem o segmento de estética e o de entretenimento. O que acontece em Porto Alegre, nesse sentido, é praticamente o que ocorre em todas as regiões.

Empresas & Negócios - Com a atual facilidade de divulgação que as redes sociais oferecem, ainda é vantagem para as empresas se filiarem ao Groupon?

Serra - Com certeza. O Facebook não substitui o Groupon e não é um concorrente, mas, sim, um grande aliado. Um dos expertises do Groupon é marketing on-line. Ao entrar na nossa página, hoje, o consumidor verá milhares de ofertas, e cada uma delas é anunciada porque faz parte da nossa missão de existência promover o parceiro. Para acompanhar todo o processo, contamos relatórios que trazem informação, medição e aferição. O Facebook e o Google são nossos aliados nessa missão, e nós mesmos temos ferramentas como newsletters e um aplicativo de celular.

Empresas & Negócios -

Quais são as vantagens que o Groupon oferece às empresas?

Serra - Somos capazes de avaliar quantos clientes vamos conseguir para o parceiro e qual o retorno ele terá. Em termos de investimento, o parceiro não entra com qualquer recurso. O Groupon é remunerado apenas com o que dá certo, não há pagamento adiantado. O parceiro tem certeza de um retorno garantido.

Empresas & Negócios - Como o Groupon pretende continuar atraindo os clientes com as constantes mudanças de comportamento na internet?

Serra - O conceito do Groupon é muito novo. Tivemos uma mudança de posicionamento em um curto espaço de tempo. O DNA do Groupon é feito de internet, então imaginar o crescimento da internet é prever o nosso crescimento também. É um conceito que continua evoluindo constantemente. Temos 1.400 engenheiros que buscam desenvolver, diariamente, tecnologia e novos modelos. Estamos em quase 40 países, com uma posição muito destacada no mundo e focados naquilo que fazemos.