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entrevista especial

- Publicada em 04 de Outubro de 2015 às 21:48

Novo indexador deve ampliar espaço fiscal, afirma Búrigo

"A estimativa era diminuir (o déficit) em R$ 1 bilhão, mas não creio chegar nessa cifra"

"A estimativa era diminuir (o déficit) em R$ 1 bilhão, mas não creio chegar nessa cifra"


MARCO QUINTANA/JC
Braço direito do peemedebista José Ivo Sartori desde a época da prefeitura de Caxias do Sul, o secretário-geral de Governo, Carlos Búrigo (PMDB), é um dos integrantes do "núcleo duro" do Executivo. É na condição de figura de confiança do governador que, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Búrigo faz a defesa das medidas de ajuste que o governo do Estado tenta emplacar no Legislativo, e que, "muitas vezes, não são simpáticas para a sociedade".
Braço direito do peemedebista José Ivo Sartori desde a época da prefeitura de Caxias do Sul, o secretário-geral de Governo, Carlos Búrigo (PMDB), é um dos integrantes do "núcleo duro" do Executivo. É na condição de figura de confiança do governador que, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Búrigo faz a defesa das medidas de ajuste que o governo do Estado tenta emplacar no Legislativo, e que, "muitas vezes, não são simpáticas para a sociedade".
Entre elas, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) estadual, que prevê limites para o gasto com pessoal no caso do crescimento da receita e que tem recebido críticas do funcionalismo estadual. "Entendemos que nem tudo aquilo que melhora a receita do Rio Grande do Sul pode reverter para o funcionalismo", rebate Búrigo, salientando que "nós, administradores, temos limites".
Apesar da estimativa de diminuição do déficit de R$ 5,4 bilhões em cerca de R$ 1 bilhão, Búrigo aponta dificuldades para alcançar a meta de R$ R$ 4,4 bilhões de desequilíbrio financeiro até o final de 2015. Também os investimentos ficarão abaixo dos R$ 700 milhões previstos. "Devemos aplicar um pouco mais de R$ 200 milhões até o final do ano", informa, ao sinalizar a ampliação do espaço fiscal com a implementação, em 2016, da lei que institui o novo indexador da dívida com a União.
Búrigo comenta ainda a questão da segurança pública e afirma que não há pressão para a saída do titular da pasta, Wantuir Jacini. "Não tem nada que possa fazê-lo sair."
Jornal do Comércio - O déficit do Estado era previsto em R$ 5,4 bilhões para 2015. Com medidas como o corte de secretarias e cargos em comissão, além do novo aporte de depósitos judiciais, houve revisão dessa estimativa por parte do governo?
Carlos Búrigo - Nós tínhamos a estimativa de diminuí-lo em torno de R$ 1 bilhão, mas não acredito que consigamos alcançar essa cifra, pois tivemos duas questões que nos atrapalharam: a economia brasileira está em queda e isso reflete aqui. PerdemosR$ 1 bilhão da nossa receita estimada para este ano. E também, como aumentou a taxa Selic, subiu o valor dos juros dos depósitos judiciais que temos de pagar. Mas, com a lei enviada ampliando o limite dos depósitos judiciais, estamos buscando mais R$ 1 bilhão. Então, vamos diminuir o déficit, não sei precisar em quanto, mas estão sendo feitas diversas ações: nós temos um Refaz em andamento, que fará com que empresas devedoras possam quitar suas dívidas e com que tenhamos mais recursos no caixa. Também vamos fazer a cobrança da dívida ativa, da qual 85% está ajuizada e 15% é administrativa, e também a fiscalização.
JC - Em maio, os investimentos oriundos de empréstimos estavam sendo projetados em R$ 700 milhões. Chegou a ser liberado algum recurso dessa estimativa?
Búrigo - Devemos aplicar um pouco mais de R$ 200 milhões até o final do ano. Esse montante é bem menor, porque, primeiramente, temos problemas burocráticos para executar essas ações, essas obras que estamos tentando destravar na questão da reforma de escolas e das estradas. E também por termos passado por uma crise muito aguda nos meses de julho, agosto e setembro, nos quais tivemos que atrasar os salários dos servidores. É evidente que a prioridade do governador era tentar, ao máximo, manter os salários em dia. Também priorizamos o repasse para a saúde. Dessa forma, a gente também atrasou o pagamento de obras para as quais seriam usados os recursos que estão no Tesouro, mas que são de empréstimos.
JC - Na semana passada, pelo terceiro mês consecutivo, aconteceu o bloqueio das contas do Estado pela União. Até quando o governo projeta que essa dinâmica será mantida?
Búrigo - Neste mês, mesmo buscando esse R$ 1 bilhão (dos depósitos judiciais) para pagarmos o salário do mês de setembro, não conseguimos pagar a dívida. E assim vai ser até o final do ano. Estamos com uma expectativa de que entre o recurso do Refaz e de que a Sefaz faça outras operações internas para termos um fluxo de caixa melhor e pagarmos principalmente o salário dos servidores. Tem também a questão dos impostos que tiveram aumento de alíquotas. Isso trará resultado a partir de 2 de janeiro de 2016.
JC - Apesar de a Suprema Corte ter negado a ação que impede o bloqueio das contas do Estado, ainda há esperança de se reverter a compreensão do tribunal em torno desse tema?
Búrigo - Esperança a gente tem. Qualquer pessoa que busca um recurso emprestado em um banco tem o direito de renegociar. Sabemos da grande dificuldade da União, com déficit previsto no orçamento. Sabemos que, como os contratos são iguais e são as mesmas cláusulas nos outros estados, isso pode dar a eles o mesmo benefício, sendo mais um prejuízo financeiro para a União. Porém, a presidente Dilma Rousseff (PT) disse que, em fevereiro, será implementada a lei que altera o indexador da dívida. Para o Rio Grande do Sul, isso não vai melhorar o valor que temos que pagar para a União todo o mês, mas fará com que possamos abrir espaço fiscal para investir um pouco mais nos próximos anos.
JC - Uma das principais críticas ao Plano Plurianual (PPA), aprovado na semana passada, é de que ele não contempla o mínimo constitucional da Saúde e não cita o Plano Estadual de Educação (PEE). As medidas de ajuste não deveriam priorizar essas áreas?
Búrigo - Primeiramente, eu preciso dizer que temos que agradecer muito aos deputados pelo entendimento de que o Estado passa por uma crise aguda, aprovando leis que, muitas vezes, não são simpáticas para a sociedade, mas são importantíssimas para que o Estado continue entregando serviços. Mandamos para a Assembleia uma Lei de Diretrizes Orçamentárias realista, que vai balizar o orçamento com praticamente nada de aumento no custeio e apenas 3% de aumento nas despesas com pessoal. É praticamente só o aumento vegetativo da folha de pagamento, com exceção dos aumentos aprovados por lei, no governo anterior, que são para a Segurança. Além disso, mandamos o PPA e o orçamento, mas respeitamos os 12% para Saúde. O governo, quando elaborou essas leis, também previu a aplicação mínima de 25% na Educação.
JC - O Plano Estadual de Educação não está incluído no PPA.
Búrigo - Mas não houve impacto na questão financeira. Mantemos o mínimo constitucional. E também enviamos leis importantes. A Lei da Previdência Complementar vai surtir efeito daqui a 15 ou 20 anos, pois será só para os servidores que entrarem a partir de sua aprovação. Ela fará com que os servidores públicos que se aposentarem também tenham um teto, como na iniciativa privada. A outra lei que está lá, e ainda não foi votada, é a da Responsabilidade Fiscal Estadual. Nela, no exercício em que tivermos superávit acima da inflação, apenas 25% você pode aplicar em despesa de pessoal. Os outros 75% serão aplicados no custeio e investimento. Se isto já estivesse valendo, certamente não teríamos o passivo que temos hoje.
JC - Os servidores afirmam que algumas destas medidas representam arrocho e impactariam a qualidade do serviço público. Como o governo rebate essas críticas?
Búrigo - Acho que os servidores públicos, em sua média, são competentes, responsáveis e querem sempre o bem do Estado. Mas o Estado gasta muito com a folha de pagamento e tem um déficit anual em torno de R$ 8 milhões com a previdência do Estado. Entendemos que nem tudo aquilo que melhora a receita do Rio Grande do Sul pode reverter para o funcionalismo. A maioria dos servidores do Estado não ganha um salário muito alto, mas temos que ter a responsabilidade de arrecadar impostos e receber recursos de seus contribuintes e da União, que sejam usados para pagar os servidores e também para entregar serviços para a sociedade. Nós, administradores, temos limites. Quando uma empresa privada passa por uma situação de desaquecimento, ela reduz seus gastos, adequa-se e quando melhorar a economia, ela volta a crescer. No serviço público, você não pode demitir servidores, então tem que ter um limite para que não se esteja na ponta de cima com gastos de pessoal. Esse quadrimestre ultrapassou o limite prudencial da LRF para gastos da folha de pagamento sobre a receita corrente líquida. Se não cuidarmos, ultrapassaremos o limite máximo. Então, nós temos que ter limites para os gastos, para que o Estado possa voltar a ser atraente e com um ambiente propício ao desenvolvimento e aos negócios.
JC - Como o governo está lidando com as críticas relativas à extinção das fundações?
Búrigo - O governador Sartori pediu que a gente avaliasse todas as suas vinculadas para que possamos diferenciar as empresas cujo serviço tem de ser prestado pelo poder público e quais aquelas que podem ter serviços realizados pela iniciativa privada, muitas vezes de uma maneira mais eficiente, barata e rápida. Então, faremos uma avaliação criteriosa do que podemos diminuir no Estado, para que o serviço possa ser desenvolvido pela secretaria responsável, ou por meio de uma PPP (Parceria Público-Privada). Não vamos deixar que a sociedade perca esses serviços.
JC - A resistência de setores da sociedade quanto às medidas de ajuste enviadas à Assembleia acaba refletindo no Parlamento e no posicionamento dos deputados da base. O que o governo está fazendo para sensibilizar seus aliados?
Búrigo - Desde que o Sartori assumiu, ele disse que seria muito transparente. E isso ele fez, pedindo ao secretário da Fazenda (Giovani Feltes, PMDB) que mostrasse à sociedade a situação real das finanças do Estado. Tivemos as caravanas que foram para o Interior, várias reuniões com deputados de toda a base. Mostramos que a situação era difícil para que pudéssemos aprovar essas medidas. Para no próximo ano, não vivermos uma situação muito pior do que a de hoje. Acho que os deputados entenderam que temos um governador que dá ênfase no que precisa ser feito.
JC - Mas isso garante unanimidade? Partidos como o PDT, que votaram integralmente no aumento do ICMS, e o PSB, que compôs a coligação na campanha, têm buscado mais espaço no governo.
Búrigo - Não, com o PDT nós não negociamos questão de espaço. O PDT nos pediu especificamente para ter um prazo definido para a alíquota maior, disse que tinha condições de votar com os oito deputados se fosse até 2018. Essa foi a condição do PDT, e também o pedido - não só do PDT - de tirarmos o regime de urgência das fundações. Estamos mandando os projetos com a convicção de que eles precisam ser aprovados, mas respeitamos a Assembleia. Estamos abertos à discussão para que se possa convencer, de uma maneira dialogada, que as nossas propostas precisam ser aprovadas para melhorar o Estado.
JC - O governo está se sentindo pressionado para que o secretário de Segurança, Wantuir Jacini, deixe o cargo?
Búrigo - Não. O secretário é uma pessoa qualificada, respeitadíssima nacionalmente no que se refere à segurança. O que temos que fazer é tentar viabilizar o Estado para dar mais condições ao Jacini e aos seus colaboradores, seja a Polícia Civil ou a Brigada Militar, o Instituto-Geral de Perícias e a Susepe, para que possam realmente fazer um serviço de qualidade. Não podemos negar que passamos por um período muito difícil, que estávamos parcelando o salário e, com isso, pode também ter havido o aproveitamento dessa situação por pessoas que não estão comprometidas com o resultado do serviço público, e dimensionaram essas ações. O governador Sartori está preocupado com a questão da segurança, debatendo internamente para vermos o que fazer para melhorar a segurança do Estado. Mas quanto ao secretário Jacini, não tem nada que possa fazê-lo sair.

Perfil

Carlos Búrigo é natural do interior de Bom Jesus, hoje cidade de São José dos Ausentes. Formado em contabilidade, é filiado ao PMDB há 21 anos. Iniciou sua vida pública em 1993, como secretário da Administração e chefe de gabinete do primeiro prefeito da cidade. Em 1996, foi eleito prefeito na cidade de São José dos Ausentes e, em 2000, foi reeleito prefeito do município com 88,95% dos votos válidos. Búrigo também esteve à frente da Associação dos Prefeitos do PMDB da Região das Hortênsias em 1998 e foi coordenador do PMDB da Região da Serra entre 2003 e 2004. Entre os anos de 2005 e 2008, ocupou o cargo de secretário da Fazenda de Caxias do Sul e, de 2009 a 2014, foi secretário de Gestão e Finanças do mesmo município, durante os dois mandatos como prefeito do atual governador José Ivo Sartori (PMDB). Após atuar como coordenador financeiro da campanha de Sartori ao governo do Estado, em 1 de janeiro de 2015, Búrigo assumiu como titular da Secretaria-Geral de Governo.