Chega outubro e, junto dele, o rosa. Tanto na iluminação de prédios e monumentos, quanto em notícias de jornais e televisão, o tom rosa é relacionado ao câncer de mama. São mais de 57 mil mulheres diagnosticadas por ano no Brasil.
É o tumor mais comum entre mulheres, mas a taxa de cura se aproxima de 90% quando identificado precocemente. Felizmente, essa luta mobiliza milhares de pessoas, e o sucesso cresce. Apesar do mesmo nome, câncer de mama é mais de uma doença, com ações e tratamentos diferentes, o que permite indicar terapias mais efetivas e menos tóxicas. Mas nem tudo é um mar de rosas.
As estatísticas mostram que os casos vêm aumentando. Isso pode ser causado pela mudança socioepidemiológica, com mulheres tendo menos filhos e mais tarde, além do aumento do tabagismo e da obesidade. A desinformação é outro fator de risco.
Muitas pacientes se surpreendem com o diagnóstico, pois não tinham história familiar. A ausência de parentes próximos com a doença não elimina o risco, inclusive a maioria dos casos não tem histórico familiar.
Outro erro comum é adiar a avaliação médica, com o medo de que intervenções possam piorar a evolução, quando é justamente o contrário. Cabe salientar, ainda, a alarmante falta de acesso à mamografia em alguns locais do País. A qualidade questionável de alguns mamógrafos dá a falsa sensação de segurança, e o tempo entre suspeita e manejo efetivo é ainda ponto de tensão. Além disso, drogas sofisticadas, mas de alto custo, não estão disponíveis no sistema público e não se visualizam mudanças. A falta de um plano de adequação no modelo assistencial cria um desalento para quem lida com a saúde, pois a taxa de mortalidade em áreas pobres é 11 vezes maior do que em zonas com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). De qualquer forma, o rosa sensibiliza a população e homenageia as mulheres que travaram ou seguem nessa batalha. Que sirva também para fomentar mudanças estruturais e, assim, salvarmos mais vidas.
Médico oncologista do Instituto do Câncer Mãe de Deus