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Mercado de Capitais

- Publicada em 18 de Outubro de 2015 às 18:59

Fundos de pensão abandonam infraestrutura

José Franco confirma uma maior procura pelos papéis do governo

José Franco confirma uma maior procura pelos papéis do governo


ANTONIO CRUZ/ABR/JC
Diante da alta dos juros e do cenário de incertezas, os títulos do Tesouro Nacional passaram a ser a melhor opção de investimento para os fundos de pensão e, assim, recursos que poderiam ajudar a financiar projetos de infraestrutura estão migrando para o mercado financeiro. A consequência é que, nas próximas concessões, o governo não deverá contar com a participação ativa desses fundos como sócios nos empreendimentos, interrompendo uma tradição dos últimos anos.
Diante da alta dos juros e do cenário de incertezas, os títulos do Tesouro Nacional passaram a ser a melhor opção de investimento para os fundos de pensão e, assim, recursos que poderiam ajudar a financiar projetos de infraestrutura estão migrando para o mercado financeiro. A consequência é que, nas próximas concessões, o governo não deverá contar com a participação ativa desses fundos como sócios nos empreendimentos, interrompendo uma tradição dos últimos anos.
Dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência (Abrapp) mostram que as fundações estão reduzindo suas aplicações em renda variável (ação em bolsa e compra de participação em empresas ou empreendimentos) e ampliando as aplicações em renda fixa. Nesse universo, escolhem principalmente títulos públicos, que estão pagando remuneração bastante atraente com a alta das taxas de juros.
Segundo o presidente da
Abrapp, José Ribeiro, uma sondagem feita junto às entidades associadas mostra a perda de interesse por ativos de infraestrutura em detrimento da renda fixa. "Ninguém quer saber de rodovias, portos, ferrovias e energia. Todo mundo ficou com o pé atrás, diante do cenário de incerteza. As alocações foram concentradas em títulos públicos, porque esses papéis estão pagando taxas mais interessantes. Alguns são indexados à inflação e casam muito bem com os compromissos dos fundos."
O coordenador de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, José Franco, confirmou que está havendo uma maior procura por parte dos fundos de previdência pelos papéis do governo este ano. "A gente observa que há uma demanda maior por parte destes investidores por títulos públicos. Não temos como dizer se está havendo uma realocação, se eles estão vendendo outros ativos para comprar títulos públicos. Mas imagino que sim. As decisões dos investidores são tomadas com base no risco e no retorno", explicou Franco.
No primeiro semestre deste ano, 65,9% do total de ativos dos fundos estavam aplicados em renda fixa, contra 62,5% no mesmo período do ano passado. Já os investimentos em renda variável baixaram de 26,9% para 23,4%. Em valores absolutos, o montante investido em títulos públicos passou de R$ 83,351 bilhões para
R$ 93,939 bilhões.
Já os chamados investimentos estruturantes (projetos de infraestrutura) caíram de R$ 22,467 bilhões para R$ 21,738 bilhões entre dezembro e junho. Segundo fontes do setor, esse é um sinal de que os gestores já venderam tudo o que queriam em ações e agora estão até se desfazendo de investimentos de longo prazo, característica dos empreendimentos de infraestrutura e imobiliários.
De acordo com fonte do setor, esse movimento dos fundos de pensão de se desfazer de ativos de risco ou suspender novos aportes está freando investimentos de algumas empresas. É o caso da Invepar (formada pela construtora OAS, mais os fundos Previ, Petros e Funcef), que atua na infraestrutura de transporte (rodovias e aeroportos). Citada da Operação Lava Jato, a OAS está em recuperação judicial. Segundo fonte do governo, essa migração da renda variável para a renda fixa se intensificou nos últimos 12 meses, com a recessão na economia e a alta das taxas de juros.

Fundações fogem do risco e buscam renda fixa

Dados do Tesouro apontam que os fundos de pensão ocupam o terceiro lugar entre os maiores detentores da dívida pública. Do total investido, 60,4% estão em papéis corrigidos pela inflação; 20%, pré-fixado e 20%, flutuante (Selic). Em relação ao prazo, 60% são investimentos em papéis com vencimento de cinco anos.
Em nota, a Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, informou que não fez qualquer investimento em infraestrutura neste ano. "Em relação aos desafios impostos pelo atual cenário econômico, em abril foram implementadas mudanças na política de investimentos, de forma a aproveitar o momento favorável dos títulos públicos, que estão pagando juros mais atrativos, e reduzir os riscos da renda variável."
A Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa, é uma tradicional investidora em infraestrutura, com participações em Invepar, Norte Energia e Sete Brasil. Mas, diante da deterioração do cenário econômico, em junho a fundação promoveu uma revisão extraordinária de sua política de investimentos, para, assim como a Petros, aplicar mais em renda fixa e menos em investimentos arriscados. Essa tendência, diz Maurício Marcellini, diretor de investimentos da Funcef, continua, com os juros altos e a evolução da crise. "Mudamos nossa política para ficarmos mais conservadores. A nossa tendência é de novo recuo de ativos atrelados ao crescimento econômico, reduzindo bastante nosso apetite para investimentos estruturados", disse Marcellini.
O gestor lembra que um título do Tesouro Nacional pode oferecer juros de mais de 7% ao ano, mais inflação, como no caso da Nota do Tesouro Nacional da série B (NTN-B). Isso reduz a atratividade de outros tipos de investimentos, já que os papéis do Tesouro oferecem ganho livre de riscos. Esse tipo de título atende à necessidade dos fundos de pensão de baterem uma meta anual de rentabilidade, composta pela inflação (INPC), mais um ganho de 5,5% a 6% ao ano para honrar todos os compromissos.
A Previ - fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, com investimentos da ordem de R$ 16 bilhões em infraestrutura, por meio de empresas como Invepar, ALL e CPFL - informou, por meio de nota, que os projetos de infraestrutura "interessam", mas a instituição está avaliando o risco e o retorno desses investimentos.
Também pesa no redirecionamento dos recursos dos fundos o baixo retorno e até prejuízo de alguns investimentos em infraestrutura. Segundo dados do Fórum Independente em Defesa dos Fundos de Pensão, a maioria das entidades patrocinadas por estatais e que estão deficitárias fizeram muitas aplicações na infraestrutura.
No caso de Funcef, Forluz (fundo de pensão dos funcionários da Cemig) e Petros, por exemplo, o percentual investido no setor representa 10,84%, 7,44% e 6,14% do patrimônio, respectivamente. Nas maiores entidades patrocinadas por empresas privadas, como Fundação Itaú Unibanco, esse percentual é de apenas 0,02%.