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- Publicada em 15 de Outubro de 2015 às 23:14

Contos de amor e morte por Vera Ione Molina

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DIVULGAÇÃO/JC
Em nossas últimas décadas narcisistas, ditas pós-modernistas, muitos escritores ficam se divertindo ou se enganando com jogos de palavras estéreis e complicados, ausência de temática, esquemas de autopromoção e outras coisas desimportantes que, infelizmente, na maior parte do tempo, botam os leitores para correr e não merecem maiores comentários.
Em nossas últimas décadas narcisistas, ditas pós-modernistas, muitos escritores ficam se divertindo ou se enganando com jogos de palavras estéreis e complicados, ausência de temática, esquemas de autopromoção e outras coisas desimportantes que, infelizmente, na maior parte do tempo, botam os leitores para correr e não merecem maiores comentários.
O quarto amarelo (Bestiário, 94 páginas), da escritora, crítica e professora uruguaianense Vera Ione Molina, coletânea de 25 contos sobre amor, morte, sobrenatural, situações do cotidiano, relações de família e outros temas eternos, é daqueles livros com forma e conteúdo equilibrados, com histórias bem-narradas. Os contos dão prazer aos leitores, dizendo, com linguagem precisa, clara e bem-trabalhada, sobre a passagem do tempo, as relações pessoais e sobre os pequenos grandes acontecimentos do cotidiano.
A volta de um primo, uma cachorrinha de estimação, conversa de mãe e filho numa cidade de litoral, o diário de uma antepassada, a luta contra um inseto, o envolvimento de uma mulher com um homem casado, as escutas atrás das portas e outros temas estão no volume, através de textos maduros e enxutos, mostrando que as grandes histórias tantas vezes estão em meio aos aparentes pequenos cenários, personagens e dias domésticos. Pequenas histórias? Pequena História? Quem disse?
Vera Ione viveu a infância em Uruguaiana, depois morou muitos anos em Porto Alegre e, há dez anos, voltou para seu torrão natal, onde vive até hoje. Essas ricas vivências no Interior e na capital, as leituras de Jorge Luis Borges, Mario Arregui, Sergio Faraco e Mario Benedetti, entre outros autores da América Latina, apontam para as origens das atmosferas das narrativas e para as opções ficcionais da autora.
A autora ministra oficinas de literatura para brasileiros, uruguaios e argentinos e, entre outros livros, inclusive de literatura infantil, escreveu os romances Quarentena e O outro lado da ponte e teve contos classificados em concursos nacionais e internacionais, como Moviarte e o Prêmio Guimarães Rosa da Radio France Internationale.
A coletânea de contos breves da autora, como se disse, demonstra sua profunda vocação para contar histórias e seu compromisso visceral com a boa literatura, dosando bem os elementos ficcionais. É a literatura que utiliza formas e conteúdos para envolver, com equilíbrio e sedução narrativa, o leitor e levá-lo a conhecer muitos mundos e pessoas além dos seus mundos e de si próprio. Não é só contar uma história. É contar bem, ter o quê contar, saber como.
Portanto, numa época em que o exibicionismo pessoal, a pirotecnia palavrosa vazia e o exibicionismo verbal sem assunto andam circulando tanto, é de ser saudado um livro como O quarto amarelo, que traz as essências da verdadeira literatura.

lançamentos

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DIVULGAÇÃO/JC
  • O quarto livro dos fatos e ditos heroicos do bom Pantagruel (Ateliê Editorial e Editora Unicamp, 456 páginas), clássico de François Rabelais, é o volume mais satírico. Continua com as aventuras do terceiro tomo, no qual Panurge pensa se vai casar ou não, e desiste, partindo para viagens a ilhas, onde encontra seres deformados.
  • Francamente (Literalis, 144 páginas), do advogado, professor, e ex-auditor jurídico do Tribunal de Contas Hélio Faraco de Azevedo, traz crônicas com fortes e embasadas opiniões sobre temas atuais, como Copa do Mundo e Seleção de 2014, Comissão da Verdade, corrupção, Deus, movimentos sociais e outros.
  • Quase coisa (Catarse, 88 páginas), do escritor, professor e jornalista Demétrio de Azevedo Soster, coletânea de poemas sobre amor, tempo, infância, pampa e mais, tem textos de apresentação de Jaime Vaz Brasil, Eliane Brum e Nei Duclós. Vaz Brasil escreve: "eis um artista que maneja a palavra com segurança dos maestros."

Porto Alegre cinemeira e jazzista

Desde o século passado, Porto Alegre é uma cidade cinemeira. Jazz e cinema sempre foram bons companheiros - Woody Allen que o diga -, e, agora, definitivamente, a cinemeira é também jazzista. Uma belíssima combinação.
A segunda edição do Porto Alegre Jazz Festival, que rolou de 7 a 11 de outubro, com público diário de mais de 1,2 mil pessoas, artistas locais, nacionais e internacionais no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, mostrou que temos público para jazz, inclusive para "be bop" e outras formas contemporâneas do gênero. No festival, bossa nova, tango, chacarea, canto indígena, música instrumental, choro, rock, ritmos latinos e outros foram executados para plateias que apreciaram os espetáculos em silêncio, sem mexer muito em celulares e sem perturbar os vizinhos com conversas. Plateias que, aliás, não ligam muito para joias, roupas, penteados e coisa assim. O negócio era a música. A música da boa.
O palco, os camarins e o backstage clean, a aparelhagem de som com volume civilizado e um clima absoluto de respeito à música imperaram. A música foi mais importante do que os músicos, a plateia, os organizadores, os patrocinadores e tudo mais. Tudo bem jazzístico. Música e amor, aliás, são as coisas mais próximas de Deus, isso todo mundo sabe, ou deveria saber. E jazz é, quem sabe, o que os Estados Unidos ofereceram de melhor para o planeta. Bossa nova é das nossas melhores contribuições para a humanidade. Não digo que é a melhor para não causar polêmica.
É bom lembrar que já tivemos aqui em Porto edições do Free Jazz Festival, a banda de jazz de 10 músicos do maestro, tenor e clarinetista Hardy Vedana nos anos 1960 e o bar Big Som, na Joaquim Nabuco, do saudoso baterista e jazzman Marco Antônio, nos anos 1980, mesma década que surgiu Dona Ivone Pacheco, a grande Dama do Jazz, vinda de uma temporada em Nova Orleans. Dona Ivone acaba de comemorar seus primeiros 83 anos com uma sessão no Clube de Jazz Take Five, que existe há mais de 30 anos. A festa seria das 19h às 2h. Houve prorrogação porque os amigos não paravam de chegar. A Dama tocou, ouviu e inspirou. O Take Five teve uma de suas maiores noites.
A simpática Poa Jazz Band, criada especialmente para o evento, encantou a galera com interpretações de jazz dixieland, com seu big trombone branco e muito, muito swing.
O festival contou com financiamento da Lei de Incentivo à Cultura, realização do Ministério da Cultura, apoio da prefeitura de Porto Alegre e patrocínio da GVT (máster), Petrobras, BarrashoppingSul e Dufrio.

a propósito...

Foi feita justa e merecida homenagem no Poa Jazz ao jornalista Paulo Moreira, apresentador há 16 anos do programa Sessão Jazz, da Rádio Cultura FM 107.7. Moreira foi, novamente, o mestre na apresentação do evento, mas sem qualquer cerimônia, que o jazz é balanço. Parabéns a Carlos Badia, Daniel Henz, Ralfe Cardoso e a todos os mais de 40 infatigáveis colaboradores. Campai, vida longa, sonora e feliz ao Poa Jazz Festival, que mostrou que muitas pessoas não querem apenas dançar e ouvir aporrinholas eletrônicas. Elas querem ouvir e escutar música de verdade. As colinas e as águas de Porto Alegre ficaram vivas com o Poa Jazz, como no verso da canção da Noviça Rebelde.
(Jaime Cimenti)