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Chuvas

- Publicada em 16 de Outubro de 2015 às 15:03

Gestão aliada à solidariedade assegura eficiência no atendimento aos flagelados

Mais de duas centenas de moradores atingidos pelo rigor do clima recebem abrigo provisório e contam com a solidariedade dos porto-alegrenses para vencer a tragédia e o sofrimento

Mais de duas centenas de moradores atingidos pelo rigor do clima recebem abrigo provisório e contam com a solidariedade dos porto-alegrenses para vencer a tragédia e o sofrimento


JONATHAN HECKLER/JC
Em tempos de desastres, como os fortes temporais que desabrigaram milhares de famílias em todo o Rio Grande do Sul, a união de esforços para ajudar os atingidos faz a diferença. Em Porto Alegre, uma mobilização gigantesca ocorre desde a primeira semana de outubro, quando as chuvas se intensificaram, para prestar socorro e minimizar os danos de moradores das ilhas que cercam o Guaíba e de outros bairros atingidos na Capital. O Ginásio Municipal Tesourinha foi escolhido para servir de abrigo provisório e ser também a central para receber as contribuições. A todo momento, pessoas chegam com doações, enquanto um incontável número de voluntários e servidores municipais atendem as famílias ali alojadas e recebem as toneladas de alimentos, roupas e materiais de limpeza. Para que toda essa rede de solidariedade funcione, é preciso adotar uma gestão eficaz de distribuição.
Em tempos de desastres, como os fortes temporais que desabrigaram milhares de famílias em todo o Rio Grande do Sul, a união de esforços para ajudar os atingidos faz a diferença. Em Porto Alegre, uma mobilização gigantesca ocorre desde a primeira semana de outubro, quando as chuvas se intensificaram, para prestar socorro e minimizar os danos de moradores das ilhas que cercam o Guaíba e de outros bairros atingidos na Capital. O Ginásio Municipal Tesourinha foi escolhido para servir de abrigo provisório e ser também a central para receber as contribuições. A todo momento, pessoas chegam com doações, enquanto um incontável número de voluntários e servidores municipais atendem as famílias ali alojadas e recebem as toneladas de alimentos, roupas e materiais de limpeza. Para que toda essa rede de solidariedade funcione, é preciso adotar uma gestão eficaz de distribuição.
Os procedimentos integram um ramo da logística definida como humanitária, que busca ajudar comunidades afetadas por desastres naturais ou danos provocados pelo homem. No Brasil, a Defesa Civil é a instituição responsável pela execução das operações indicadas para cada tipo de ocorrência, atuando no âmbito da prevenção, assistência e suporte às populações vulneráveis.
Em parceria com a prefeitura de Porto Alegre, a Defesa Civil municipal montou uma operação que envolve órgãos e secretarias como a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) e o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), além de um mutirão de cidadãos anônimos. "A instituição somente coordena a operação, em conjunto com a prefeitura e todas as secretarias, que trabalham em sintonia. Costumo dizer que a Defesa Civil é pública, mas é de todos", afirma Hélio Oliveira, secretário adjunto da Defesa Civil de Porto Alegre.
O trabalho teve início no acompanhamento do volume das chuvas, que é feito constantemente pelo Centro Integrado de Comando da Capital (Ceic) e pelo sistema de vigilância meteorológica. De acordo com Oliveira, a situação das ilhas do Guaíba sempre é mais preocupante, devido aos rios que deságuam no lago. "Desde que começa qualquer precipitação mais acentuada, fazemos o monitoramento não só das ilhas, mas também de toda a beira do Guaíba e dos arroios. A partir daí, começamos a identificar as necessidades", explica.
Realizado o diagnóstico, a Defesa Civil prepara a ação e desloca os desabrigados para locais seguros, com a ajuda dos bombeiros. O Tesourinha funciona como uma central provisória, na qual pessoas voluntárias montam e separam kits para serem encaminhados aos moradores atingidos. Além disso, as mais de 200 pessoas abrigadas no ginásio contam com uma estrutura de alimentação, segurança, assistência e cuidados médicos durante 24 horas por dia.
Uma equipe de 20 profissionais municipais da saúde também foi deslocada para prestar auxílio, entre médicos, enfermeiros e agentes de saúde. "Atendemos muitos pacientes aqui, com algumas remoções para o hospital por motivos como problemas respiratórios", avalia a enfermeira e coordenadora da Unidade Ilha dos Marinheiros, Ana Glediston. A Guarda Municipal e a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) também integram a rede, garantindo a segurança e organizando o recebimento dos donativos, que chegam a todo momento para se juntarem às toneladas que a solidariedade faz se acumular no ginásio.

Desabrigados esperam continuar recebendo assistência quando voltarem para as casas

Maria Cecília diz que tem tudo no ginásio, mas teme retorno para a ilha

Maria Cecília diz que tem tudo no ginásio, mas teme retorno para a ilha


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Maria Cecília Ferreira foi da Ilha dos Marinheiros para o ginásio com as três filhas e uma neta. "A situação está crítica, eu perdi tudo que tinha. Quando os bombeiros chegaram, a água já estava quase na altura no pescoço." Maria trabalha com reciclagem e se adapta à estrutura do abrigo para manter os cuidados da filha, que tem deficiência física e mental. Ali, organiza as doações que recebeu. "Saímos só com a roupa do corpo. Estamos sendo bem-atendidas, têm frutas para as crianças. Aqui temos tudo, mas eu vou precisar é quando voltar para casa", diz.

Voluntários garantem a agilidade dos trabalhos e organizam doações

Neida (e) e Vera Aguiar integram equipe que faz triagem de roupas

Neida (e) e Vera Aguiar integram equipe que faz triagem de roupas


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Quem separa e organiza todas as doações, que chegam sem parar ao Tesourinha, são os voluntários, divididos em equipes. A professora Vera Aguiar coordena um grupo de mulheres responsáveis por fazer a triagem das roupas. São dezenas de peças, estocadas em meio a sacolas. "O espírito da solidariedade me fez vir aqui, até chamei minhas amigas pelas redes sociais", diz Vera. A aposentada Neida Stefani também se mobilizou. "É gratificante esse trabalho. Vim fazer uma doação e resolvi ficar para ajudar", conta.

Do compromisso para a cooperação

Depois do expediente, Lucas se tornou voluntário no mutirão

Depois do expediente, Lucas se tornou voluntário no mutirão


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Os garis do DMLU, escalados para cuidar da limpeza do Ginásio Tesourinha, também acabaram integrando a rede para ajudar a acondicionar o grande volume de doações. Sensibilizado pela situação de seus antigos vizinhos, André Lucas, que já morou nas ilhas, separa colchões na arquibancada do ginásio. "Fico muito feliz em poder ajudar os mais necessitados. Eu já passei pelo mesmo problema e sei como é."

Preparo das refeições é feito em cozinha improvisada

Fernandes comanda grupo de 15 cozinheiros no ginásio Tesourinha

Fernandes comanda grupo de 15 cozinheiros no ginásio Tesourinha


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Uma equipe, com o apoio da Fasc, monta kits de alimentos para as ilhas. Entre os mantimentos, alguns lotes tinham a validade expirada, dificultando o trabalho. O ritmo acelerado de chegada e saída dos donativos dificulta a conta do volume de arrecadação. Na cozinha improvisada no ginásio, um grupo de 15 pessoas se reveza no preparo das refeições. Com experiência de 20 anos no voluntariado, o cozinheiro Augusto Fernandes comanda o grupo. "O cardápio de hoje tem frango à jardineira, saladas, batata, arroz e uma sopa de entrada", relata ele, orgulhoso com a função.

Donativos chegam às ilhas

Mesmo com toda a estrutura montada no Tesourinha, muitas famílias optaram por ficar nas ilhas do Guaíba para evitar saques nas casas. A prefeitura de Porto Alegre contabiliza cerca de 500 pessoas prejudicadas na região do lago. Com a soma de esforços que conta com entidades públicas e privadas, a Defesa Civil atua no local, fornecendo lonas para desabrigados que montaram acampamento e leva donativos às casas.
Os colchões, alimentos, cobertores e produtos de higiene que chegam às ilhas saem do Ginásio Tesourinha - onde está sendo feita a coleta e separação do material - transportados por caminhonetes da Defesa Civil e por ônibus da empresa pública de transporte Carris. "Temos entidades que também prestam ajuda, como uma associação de jipeiros, que sempre nos disponibiliza transporte", relata o secretário adjunto da Defesa Civil de Porto Alegre, Hélio Oliveira.
As necessidades são detectadas pelo grupo de primeira abordagem, que observa a situação das famílias nas ilhas e encaminha para a central no Tesourinha. As contribuições que chegam ficam estocadas em igrejas, onde algumas famílias estão abrigadas. A educadora e moradora da Ilha dos Marinheiros Neusa Dias conta que há mais dificuldade para os moradores do interior da ilha, devido às ruas alagadas. "Para essas pessoas receberem as doações, teriam que ficar o dia inteiro esperando no local de descarregamento", relata. Segundo a Defesa Civil Municipal, mais de 10 caminhões com mantimentos já foram entregues nas ilhas.

Mobilização socorre os 108 municípios que foram atingidos

As fortes chuvas, vendavais e quedas de granizo castigaram também o Interior do Estado. De acordo com a Defesa Civil, 108 municípios foram atingidos, afetando 34 mil residências e deixando 5,4 mil desalojados e 1.720 desabrigados. Em cidades mais prejudicadas, como Sapucaia do Sul e Canoas, somente na noite de 14 de outubro, foram feitos mais de mil atendimentos. Em Rio Pardo, na região Central, 10 mil dos 30 mil habitantes sofreram com os estragos.
O capitão Ricardo Mattei, da divisão estadual de assistência a comunidades atingidas, explica que cada uma das nove coordenadorias regionais planeja e executa as operações junto às prefeituras. "Os municípios precisam ter uma estrutura mínima para gerenciar as ações de ajuda humanitária. A coordenadoria estadual é o elo dos municípios com o governo do Estado e com o Ministério da Integração Nacional."
Cada município organiza o atendimento, providencia lonas para casas destelhadas, a arrecada e distribui donativos da comunidade. A Defesa Civil do Estado mantém uma central de doações, que são encaminhadas conforme a solicitação dos municípios. Nesses casos, a logística é fundamental para evitar desperdício e desvio de itens recebidos. "Orientamos que, quando existe uma sobra de doações, o município faça uma oferta para a cidade vizinha. Se não houver necessidade, que comunique à coordenadoria estadual para que se faça a realocação desse material", ressalta Mattei.
Na Capital, as necessidades são detectadas pelo grupo de primeira abordagem em cada uma das ilhas. As contribuições que chegam ficam estocadas em igrejas, onde algumas famílias estão abrigadas. A educadora e moradora da Ilha dos Marinheiros Neusa Dias conta que, até sexta-feira, havia dificuldade para chegar ao interior da ilha, devido às ruas alagadas. "Para essas pessoas receberem as doações, tinham que ficar o dia inteiro esperando no local de descarregamento." No fim de semana, o exército foi chamado para ajudar com a infraestrutura, contando com barcos e veículos terrestres. Segundo a Defesa Civil Municipal, mais de 10 toneladas de alimentos já foram doadas.