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Contas Públicas

- Publicada em 22 de Outubro de 2015 às 14:57

Pedaladas exigem revisão da meta fiscal

TCU sinalizou, no final da semana passada, que será necessário quitar todos os valores de uma única vez

TCU sinalizou, no final da semana passada, que será necessário quitar todos os valores de uma única vez


FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
A equipe econômica estuda formas de limpar os efeitos das pedaladas fiscais das contas públicas por meio da revisão da meta fiscal de 2015 e admitindo um déficit, ou seja, o resultado negativo. Com a possibilidade de o Tribunal de Contas da União (TCU) determinar a quitação de todos os valores de uma única vez, o rombo nas contas em 2015 deve fechar perto de R$ 76 bilhões, segundo informou o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. O montante considera todas as frustrações de receitas e o reconhecimento integral dessas dívidas com os bancos - incluindo a regularização com Bndes, Banco do Brasil e Caixa. É mais que o dobro do déficit do ano passado, que foi de R$ 32,5 bilhões.
A equipe econômica estuda formas de limpar os efeitos das pedaladas fiscais das contas públicas por meio da revisão da meta fiscal de 2015 e admitindo um déficit, ou seja, o resultado negativo. Com a possibilidade de o Tribunal de Contas da União (TCU) determinar a quitação de todos os valores de uma única vez, o rombo nas contas em 2015 deve fechar perto de R$ 76 bilhões, segundo informou o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. O montante considera todas as frustrações de receitas e o reconhecimento integral dessas dívidas com os bancos - incluindo a regularização com Bndes, Banco do Brasil e Caixa. É mais que o dobro do déficit do ano passado, que foi de R$ 32,5 bilhões.
A Junta Orçamentária avalia cenários que variam dependendo da forma como as pedaladas fiscais serão incluídas nas contas. Os acontecimentos dos últimos indicam que o pior cenário deverá se concretizar.  O total poderá ser um pouco menor caso a União consiga realizar o leilão das usinas hidrelétricas previsto para o início de novembro e arrecadar os R$ 11 bilhões esperados com essas operações. "Nós vamos estabelecer o que é frustração de receita e esperar algumas coisas que podem se confirmar", afirmou Wagner. Ele lamentou o quadro atual: "Infelizmente temos de trabalhar assim, temos de esperar".
Além das pedaladas, o resultado primário deste ano ficará negativo por causa da frustração nas receitas, em especial as extraordinárias, previstas na previsão das contas públicas. De acordo com técnicos do governo, a frustração já chega a R$ 50 bilhões. Significa que somente a queda da arrecadação já faria com que o resultado deste ano deixasse de ser um superávit de R$ 8,7 bilhões (ou 0,15% do PIB) - que é a última versão da meta com a qual o governo se comprometeu para 2015 - para se transformar em um déficit de R$ 41,3 bilhões.
Somando a esse valor o estoque das pedaladas ainda pendente, que está em R$ 35 bilhões, o resultado negativo subiria para R$ 76,3 bilhões. Segundo especialistas da área econômica, o governo gostaria de zerar a conta das pedaladas, condenadas pelo TCU. A prática consistiu em atrasar repasses de recursos do Tesouro Nacional para bancos públicos, com o objetivo de melhorar artificialmente os resultados fiscais de 2013 e 2014. De acordo com o o TCU, isso gerou um passivo de R$ 40 bilhões que precisa ser acertado pelo governo.
No entanto, como a regularização imediata elevaria muito o déficit público, há estudos dentro do governo considerando que o melhor caminho seria fazer o pagamento gradual, em um cronograma mais dilatado. Assim, o déficit não ficaria tão elevado em 2015, e a equipe econômica conseguiria melhorar o caminho para a realização de um superávit primário (economia para pagamento de juros da dívida) em 2016. Esse é o foco dos técnicos. A meta do ano que vem prevê um superávit de 0,7% do PIB.
Técnicos lembram que um dos principais motivos que levaram a agência de classificação de risco Standard & Poors (S&P) a rebaixar o Brasil e retirar o grau de investimento do País foi justamente a perspectiva de três anos consecutivos de déficit nas contas públicas. "Por isso, é crucial que o governo faça algum superávit em 2016", alegou um interlocutor da equipe econômica, ao lembrar, no entanto, que o cenário do ano que vem ainda não está fácil. Portanto, não está descartada a possibilidade de o governo também propor uma alteração na meta de 2016, prevendo alguma cláusula de abatimento da meta em caso de frustração de receitas.
O relator do Orçamento de 2015, senador Romero Jucá (PMDB-RR), defende uma meta verdadeira e com todas as pedaladas fiscais incluídas. Para ele, o governo precisa mostrar a situação fiscal do País e encerrar este ano a fase do déficit e das pedaladas. "Esse ano de 2015 terá déficit. Digo isso há muito tempo. E defendo que a meta coloque todas as pedaladas, sem maquiagem. Fazemos isso e trabalhamos por um déficit zero em 2016. Na minha avaliação, o déficit, com todas as pedaladas, será entre R$ 60 bilhões a
R$ 80 bilhões. O governo tem que acabar com a fase do déficit e mostrar a realidade fiscal", diz.
O senador se manifesta contra o parcelamento do pagamento dos recursos que foram antecipados pelos bancos. "Não se faz pagamento parcelado de pedalada", defende Jucá. O relator do Orçamento da União de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), diz esperar a definição da meta de 2015 até para fazer contas sobre ajustes na proposta do ano que vem.
O governo está prestes a apresentar a terceira mudança na meta para as contas públicas para 2015. Este será o segundo ano consecutivo que o Brasil fechará as contas no vermelho, uma vez que em 2014 o setor público registrou déficit primário (sem levar em conta os gastos com juros) de R$ 32,5 bilhões, o primeiro em mais de 10 anos.
O TCU cobra um acerto de mais R$ 40 bilhões de dívidas atrasadas. Além disso, a equipe econômica calcula em mais R$ 57 bilhões o déficit das contas do governo federal. Ou seja, as duas contas indicavam um rombo perto de R$ 100 bilhões. Mas a Casa Civil afirma que o valor será menor porque haverá abatimentos da meta. Esses descontos não foram detalhados pelo ministro.

Recuperação de débitos e repatriação de recursos estão entre as alternativas

Quanto maior o acerto das pedaladas, maior terá que ser o déficit previsto para 2015. Não se trata mais de prever um superávit primário, como o governo vendeu que faria para este ano, mas o tamanho do rombo. O TCU cobra uma correção de R$ 40 bilhões. A meta atual das contas do setor público, que nem chegou a ser aprovada, prevê superávit de 0,15% do PIB (R$ 8,7 bilhões), mas com a possibilidade de déficit primário de até R$ 17,7 bilhões (incluindo estados e municípios) e de R$ 20,6 bilhões no resultado do governo federal por conta de uma cláusula de abatimento de R$ 26,4 bilhões. Essa possibilidade poderá ser acionada se houver uma frustração de um grupo de receitas extraordinárias nesse valor. Entre elas estão o programa de recuperação de débitos em atraso, a repatriação de recursos não declarados no exterior e concessões. Todas não devem se concretizar esse ano.
Há dúvidas, inclusive, sobre a arrecadação prevista de R$ 11 bilhões para este ano com as outorgas de concessão de hidrelétricas previstas para serem leiloadas em novembro - uma esperança final do governo para aumentar o dinheiro no caixa até o final do ano.
A expectativa do governo é de que os Estados e municípios registrem superávit primário este ano. Fontes informaram que o governo pode fixar uma meta em torno de um déficit primário de R$ 40 bilhões usando uma margem maior de abatimento dasdespesas também dos investimentos incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Divisão
Mas há uma divisão no governo sobre a forma de pagamento de passivos. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já sinalizou que prefere uma "modulação" no acerto das pedaladas. Já o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, defende internamente que se resolva logo a situação para entrar em 2016 com o passivo zerado das pedaladas.
O secretário-executivo do Planejamento, Dyogo Oliveira, já visitou o relator das pedaladas no TCU, ministro Vital do Rêgo, mas ainda não apresentou formalmente nada à Corte sobre qual será a posição do governo no processo. Até mesmo no tribunal há a percepção de que ainda não há uma posição de governo, mesmo às vésperas do julgamento.
Com o resultado de 2015 já perdido, o acerto de todas as pedaladas serviria, na prática, para um novo recomeço. A ideia do Planalto, seguindo a sugestão do ministro Barbosa, é limpar o passivo de 2015, para entrar 2016 com o balanço limpo. Mas a decisão não está tomada e dependerá do que a presidente Dilma vai arbitrar. Para 2016, a intenção é manter a previsão de uma meta de 0,7% do PIB, contando com a CPMF. Mas se estuda também uma flexibilidade, como maior possibilidade de abatimento para acomodar choques.
A mudança da meta terá que ser aprovada pelo Congresso. O senador Romero Jucá (PMDB-RO), defendeu que o governo inclua na revisão da meta fiscal de 2015 todo o passivo existente. "Temos que ter realidade, mas é muito importante que as pedaladas remanescentes e qualquer tipo de maquiagem ou ação que seja de esconder a realidade das contas públicas possa ser redefinido, clarificado transparentemente e daí a gente parta para um novo momento das contas públicas brasileiras buscando o equilíbrio", afirmou.

Aumento de impostos faz parte do 'Plano B'

Caso não consiga aprovar a CPMF, União estuda rever alíquotas de outros tributos

Caso não consiga aprovar a CPMF, União estuda rever alíquotas de outros tributos


JOÃO MATTOS/JC
Diante da dificuldade que deve enfrentar para aprovar a CPMF no Congresso, o governo federal já prepara uma alternativa que seja capaz de fazer frente à receita prevista com o imposto, de R$ 32 bilhões. O plano B é formado por um pacote composto pelo aumento da Cide (imposto sobre combustíveis), repatriação de dinheiro não declarado no exterior, desvinculação de receitas da União (DRU), taxação com a legalização dos jogos e uma nova etapa do programa de parcelamento de dívidas com a União (Refis). Na avaliação da União, o clima no Congresso não irá melhorar a ponto de se aprovar uma medida polêmica, como a criação de um novo imposto.
Oficialmente, o Palácio do Planalto vai manter a discussão em torno da CPMF e as articulações para viabilizar a medida continuam. A presidente Dilma Rousseff recebeu apoio de duas entidades de prefeitos ao projeto: a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e a Frente Nacional de Prefeitos.
A proposta que está em negociação entre o Planalto e os prefeitos é de elevar a alíquota de 0,20%, sugerida inicialmente pelo governo, para 0,38%. Assim, o imposto, que inicialmente seria todo usado pela União para pagar o déficit da Previdência, passaria a ser dividido com estados e municípios. Os demais entes da federação usariam a sua parcela dos recursos na saúde e em outras áreas sociais. "Defender imposto é sempre constrangedor, principalmente na situação que vivemos, mas não temos alternativas. Precisamos nos unir porque o Estado está precisando desse imposto, as prefeituras precisam desse imposto", disse Luiz Lázaro Sorvos, vice-presidente da Confederação Nacional de Municípios, após se reunir com Dilma e com os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Casa Civil).
Berzoini saiu da reunião dizendo que com a ajuda dos prefeitos seria possível vencer as resistências à aprovação da CPMF no Congresso. "A CPMF é um imposto que interessa diretamente à União, aos estados e aos municípios para financiar o conjunto de programas sociais que os três entes federativos desenvolvem em benefício da população. Creio que a vinculação de prefeitos, governadores, União e os parlamentares de todos os partidos pode viabilizar uma votação", alegou Berzoini.