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Conjuntura

- Publicada em 26 de Outubro de 2015 às 15:34

Cenário de instabilidade dificulta tomada de decisões para 2016


FREEIMAGES.COM/DIVULGAÇÃO/JC
No momento em que as empresas olham para frente para definir seus orçamentos e decisões de investimentos para o ano seguinte, não se vê horizonte de recuperação. E as dúvidas comprometem os planos de negócios e levam a uma estratégia de defesa. Sem confiança no potencial da economia, a cautela é palavra de ordem. Poucos se arriscam a estimar os números para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 e menos ainda em 2017.
No momento em que as empresas olham para frente para definir seus orçamentos e decisões de investimentos para o ano seguinte, não se vê horizonte de recuperação. E as dúvidas comprometem os planos de negócios e levam a uma estratégia de defesa. Sem confiança no potencial da economia, a cautela é palavra de ordem. Poucos se arriscam a estimar os números para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 e menos ainda em 2017.
"Para fazer previsões sobre economia hoje, é mais fácil falar com o pai de santo que com as associações de classe. Não dá para fazer previsões para o ano que vem, apenas estabelecer faixas. Por exemplo, nossa expectativa é que o PIB caia entre 1% e 2%, que o dólar fique entre R$ 4,30 e R$ 5,00, mas são faixas muito grandes", dispara o diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mario Bernardini. Mais do que apenas preocupados com a situação atual, economistas e representantes de associações se ressentem da falta de perspectivas. A crise política contaminou a economia e torna mais delicado esse cenário, apontam. Como diz Marcos Lélis, consultor da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e professor da Unisinos, em uma crise política o cenário fica indeterminado, é um movimento meio aleatório. "Ainda não se consegue enxergar 2016."
Mais enfático, o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, ressalta que embora não se esperasse um ano de 2016 "brilhante", a expectativa era de interrupção da queda. "Não é o que vemos agora. O primeiro semestre está comprometido, até pelo efeito do que se carrega de 2015. O que se vê para 2017 é que estamos empurrando a tal retomada esperada para 2016, mas também não há garantia. Hoje, não há clareza de nada, pode acontecer tudo ou nada. Infelizmente, não dá para prever 2017."
A forte e rápida deterioração das expectativas assusta quem precisa levar em consideração a conjuntura para definir os planos da empresa e levanta suspeitas sobre novas pioras nos números. Até julho, o Boletim Focus do Banco Central - que reúne as projeções das principais instituições financeiras - previa estabilidade da economia em 2016. Agora, estima recuo de 1,22%. Em 2015, espera-se uma queda de 3%. Isso significa dois anos seguidos de recessão, fenômeno que não é observado no Brasil desde 1930/1931, segundo a série das Estatísticas para o Século XX, do IBGE. Para 2017, a previsão é de alta de 1%, segundo o Focus.
"Ouvi essa frase e tenho repetido. Quem me dera estar no fundo do poço. O ano de 2016 ainda é uma grande interrogação", lamenta o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Rodrigues Martins. Não que se esperasse um ano de 2016 de forte crescimento, mas havia expectativa de reação. "O ano de 2016 não está 100% comprometido, mas será muito difícil. A depender do que acontecer agora, pode-se comprometer inclusive 2017", diz a diretora de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fatima Giovanna Coviello Ferreira.
Como aponta o Departamento de Economia e Pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), fazer previsões no momento atual é atividade "muito complicada". Em setembro, foi feita estimativa de recuo de 0,8% do PIB em 2016: "Desde então, o cenário não se firmou e continuou a piorar. Antes de divulgar novas projeções, vamos esperar desdobramentos e torcer para que já tenhamos atingido o fundo do poço", informou a Abras. Diante desse quadro, o superintendente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, destaca a "angústia" daqueles responsáveis pelos planos de negócios das empresas. "Quando não se sabe qual será o amanhã, o que se tem é angústia. O empresário está angustiado."
E esse clima de compasso de espera compromete investimentos. Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho argumenta que, "na incerteza, não são feitos novos projetos, não se investe e não se contrata, ao contrário, pode-se demitir". Para a retomada do investimento, ele defende que é necessária a restauração da confiança. Enquanto isso não ocorre, associações relatam a tendência de uma postura defensiva e de uma estratégia de sobrevivência das empresas. Nesse clima, investimentos em aumento de produção ou novas fábricas, por exemplo, ficam adiados. "Sem clareza, o empresário investe minimamente, como na troca de uma máquina quebrada. É um investimento de defesa, não é um investimento de ataque, de novas fábricas", alega Pimentel.
Para setores cujo ciclo de produção é mais longo - como é o caso do imobiliário e de químicos, por exemplo -, o comprometimento é maior. "Entre o estudo para a compra do terreno e a conclusão do empreendimento, o prazo médio é de cinco anos. Sem saber o que vai acontecer, não se dá início ao processo. No momento, pode ocorrer uma ou outra compra de terreno, mas só quando há oportunidade", explica o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Fernando Moura.
Apesar do pessimismo, há quem ressalte a importância de postura ativa. Revisão de processos, mudanças nos modelos de negócios, redução de ineficiências e melhorias na gestão são medidas sugeridas para reduzir o impacto da crise e se preparar para a retomada. "Não se sabe quanto tempo a situação vai demorar e não podemos controlar a macroeconomia. As empresas devem olhar para seus negócios e avançar no que é possível. Não se pode ficar parado e refém da situação", alega a presidente da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), Gisela Schulzinger.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, afirma ter convicção do potencial a médio e longo prazo da economia e do mercado automotivo. Ele cita investimentos da ordem de R$ 7 bilhões anunciados por montadoras. A General Motors anunciou aporte extra de R$ 6,5 bilhões no período de 2014 a 2019, a Volkswagen revelou planos de R$ 460 milhões para uma fábrica de motores e a Hyundai investirá R$ 100 milhões num centro de pesquisa.
 

Metrópoles sentem mais os reflexos da retração

 Empresas - conjuntura 2- divulgação freeimages.com

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FREEIMAGES/DIVULGAÇÃO/CIDADES
A crise econômica afetou em cheio o consumo nas maiores cidades do Brasil. Com a inflação perto de 10% ao ano, o crédito mais caro e o desemprego em alta, as capitais e as regiões metropolitanas do País devem fechar 2015 somando apenas 45,96% de tudo que é gasto pelas famílias, revela estudo feito pela consultoria IPC Marketing. O índice é menor que os 47,77% de 2014 e o mais baixo desde os 51,06% registrados em 2010, auge do crescimento da economia do País, quando o PIB avançou 7,6%. Em valores reais, a perda chega a R$ 187 bilhões nos últimos cinco anos, dinheiro que acabou migrando para o interior dos estados, onde os reflexos da crise ainda não são tão intensos, dizem economistas.
Nas ruas dos grandes centros, os reflexos são os mesmos: lojas fechadas e vendas em queda. E, na tentativa de driblar os negócios mais fracos nas grandes cidades, empresas dos mais variados setores vêm concentrando hoje a maior parte de seus esforços para atingir o potencial de consumo no interior, onde o crédito ainda não está tão difundido quanto nas grandes metrópoles.
De acordo com especialistas, o varejo segue, hoje, o caminho que a indústria já trilha há alguns anos, deslocando parte de seus investimentos para cidades afastadas dos grandes centros urbanos, onde os salários e o custos de produção são menores. Marcos Pazzini, responsável pelo estudo IPC Maps, ressalta que, com a crise de confiança no consumo e o encolhimento do mercado de trabalho, está cada vez mais difícil vender nas grandes cidades, onde a competição já é elevada. Ele cita ainda as margens de lucro em queda, com os maiores gastos envolvendo, por exemplo, a energia elétrica, um dos vilões da inflação neste ano, que acumula alta de 47,74% de janeiro a setembro deste ano.
Para 2016, de acordo com economistas, a tendência é de mais queda no consumo, sobretudo com o recuo do crédito e com a crise na construção civil, principal empregador das metrópoles.
"Hoje, o maior bolo do consumo não circula nas capitais e regiões metropolitanas, que sentem mais o impacto da crise, seja devido ao aumento da inflação e do desemprego mais elevado."
A migração de indústrias para as cidades do interior nos últimos anos ajudou nesse sentido, pois criou um mercado consumidor e passou a gerar renda. "Agora, vemos o investimento de empresas de varejo para cidades menores ganhando força em ano de crise. Há um potencial de consumo no interior", destaca Pazzini.
E foi nas capitais dos estados das regiões Sudeste, Sul e Nordeste onde o consumo foi mais afetado. Assim, nos últimos cinco anos, destaca o estudo, as famílias desses grandes centros passaram a ter uma vida "mais pacata": cortaram as viagens e as despesas com recreação e cultura, além de serviços em geral como salão de beleza. Também estão estudando menos, com a redução dos cursos de educação em geral. Segundo Nelson de Souza, professor do Ibmec-Rio, a retração ocorre porque o modelo de expansão estava baseado no crédito.
Agora, com o crédito mais seletivo por parte dos bancos, essa fatura começa a chegar.
"Ao mesmo tempo há outros fatores, como o fato de a população não aumentar. E há a crise em setores importantes como o de construção civil, cujas obras são concentradas nas maiores cidades, que chega a empregar 10% da população", explica Souza.
Assim, com renda menor, as famílias vão cortando produtos e serviços considerados supérfluos e não essenciais, segundo Ricardo Ladvocat, professor de Vendas e Varejo da ESPM-Rio. "Os itens considerados supérfluos são cortados, o que reduz o consumo geral. E isso não é verificado nas cidades menores porque lá os gastos são concentrados nos itens básicos. Então, para cortar é mais difícil."
Rodrigo Mariano, gerente do Departamento de Economia e Pesquisa da Associação Paulista de Supermercado (Apas), lembra que a previsão é que as vendas na capital fechem o ano com queda de 1%, um recuo maior que o esperado para as cidades do interior do estado, de 0,5%. "É o interior que vai segurar as vendas. Em geral, as capitais sofrem mais porque há uma maior concentração do desemprego e uma inflação maior em relação ao interior. Na capital, por exemplo, há uma maior venda de itens duráveis, que não estão indo tão bem com o menor acesso ao crédito", afirma Mariano, lembrando que o setor automotivo deve ter queda de 20% no faturamento, assim como o de calçados e o de vestuário, com recuos esperados de 8% e 6%, respectivamente.

Cidades do interior estão na mira de investidores

Enquanto as grandes cidades vêm sofrendo com a queda nas vendas, o interior vem ganhando... agito. De academias a milk shakes, empresas de varejo e de serviços aumentaram investimentos e estão revendo suas estratégias, de olho no potencial de consumo em locais com até 200 mil habitantes. Segundo economistas, a atração de fábricas nos últimos anos, o crescimento do agronegócio e os programas sociais, como o Bolsa Família, ajudam a explicar o porquê de o interior ainda ostentar números melhores em relação às metrópoles.
"A crise só acelera a tentativa de expansão das empresas para mercados que ainda não estão sendo tão afetados por desemprego e inflação. No interior, ainda há potencial, porque o consumo é mais básico, e o crédito não está tão difundido", diz Ulysses Reis, coordenador de Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O consultor Antônio Cesar Carvalho, da Acomp Consultoria, destaca ainda a força do agronegócio, que cresce impulsionado pela alta do dólar, o que ajuda nas exportações. "No Nordeste, há programas sociais e polos que foram criados nos últimos anos, o que ajuda esses estados a terem uma maior independência econômica. Mas, hoje, ninguém está imune à crise."
Na busca por novos negócios, a rede de academias Fórmula, do grupo Bodytech, acelerou a expansão em cidades de até 200 mil habitantes. Até março de 2016, a previsão é abrir mais 10 unidades. A empresa ainda está lançando um aplicativo pela internet para alcançar novos alunos em todo o Brasil, o BT Fit, que consumiu investimentos de R$ 20 milhões. A plataforma permite que o aluno tenha acesso a aulas de ginástica de diferentes estilos e orientação profissional por R$ 14,99 mensais, a partir do segundo mês.
"Mais de 60% das academias do País estão no interior. Como é impossível chegar a todos os locais, o grupo decidiu investir em um aplicativo e levar isso para as pessoas. Nossa meta era abrir 60 unidades, mas, com o aumento do dólar, e como os nossos equipamentos são importados, tivemos de pensar em estratégias para crescer", diz Alexandre Accioly, sócio da rede. "O objetivo é levar a qualidade dos grandes centros para todo o País." No setor de alimentos, a disputa promete ficar cada vez mais acirrada. O Bob's também está investindo no interior após constatar, de 2010 até setembro deste ano, alta de 285% no faturamento das lojas em cidades de até 100 mil habitantes. Já nos locais com mais de 400 mil habitantes, o avanço chega a 73,1% nos últimos seis anos.

Momento permite ao consumidor maior poder de negociação e barganha

Antes motor da economia, o consumo das famílias agora fraqueja. A intenção de realizar compras recuou 1,8% em outubro e atingiu o menor nível desde 2010. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 70,7% das famílias consideram o momento atual como desfavorável para a aquisição de bens duráveis. Para tentar reverter esse quadro, comerciantes traçam novas estratégias.
A piora do cenário econômico, que atinge em cheio também o setor de serviços, vem dando cada vez mais poder aos consumidores. A combinação de desemprego em alta, renda em queda e inflação de quase dois dígitos tem obrigado comerciantes, proprietários de imóveis e prestadores de serviços a negociar mais e aumentar os descontos. Para quem está disposto a barganhar, portanto, a crise está repleta de bons negócios.
Para a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel), que calculou em 8% a queda das vendas no segundo trimestre ante os três primeiros meses do ano, os únicos estabelecimentos com uma perspectiva melhor são aqueles com preço médio abaixo de R$ 30,00. Ricardo Thamer está apostando nesse caminho. Ele se uniu a três sócios para abrir um restaurante econômico. "Há um espaço interessante para empreender com o conceito de prato único."
Com a inflação em alta, as escolas privadas também têm enfrentado dificuldades para repassar os aumentos de custos e manter os alunos. O setor imobiliário também perdeu fôlego com o esfriamento da economia, e os efeitos já aparecem no mercado de locação.
Dos pequenos aos grandes valores, sempre vale a pena pechinchar. Em tempos de megaliquidações e às vésperas da Black Friday, que ocorre na última sexta-feira de novembro, alguns alertas são importantes. Sair de casa sabendo o que deseja facilita a comparação de preço e qualidade, e evita as compras por impulso.
Se o foco são as promoções, é importante ler bem as regras para não haver frustração. Algumas ações, por exemplo, só valem para novos clientes. Além disso, o consumidor tem o direito de exigir que os itens sejam vendidos exatamente pelo preço e condição anunciados. Segundo a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), toda informação transmitida por meio de publicidade, embalagem ou declarações de vendedores deve ser cumprida pelos lojistas.