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Conjuntura

- Publicada em 05 de Outubro de 2015 às 13:26

Venda de ativos é a aposta da vez para enfrentar instabilidade


FREEPIK/DIVULGAÇÃO/JC
Afetadas pela crise econômica, preocupadas em aumentar a geração de caixa ou em se adaptar à nova realidade do mercado - focando em segmentos mais estratégicos e lucrativos -, empresas públicas e privadas estão promovendo um verdadeiro saldão.
Afetadas pela crise econômica, preocupadas em aumentar a geração de caixa ou em se adaptar à nova realidade do mercado - focando em segmentos mais estratégicos e lucrativos -, empresas públicas e privadas estão promovendo um verdadeiro saldão.
Companhias de diversos segmentos estão tentando se desfazer de ao menos R$ 149,6 bilhões em ativos. Segundo cálculos da GO Associados, para se ter uma ideia do tamanho desta operação, a cifra equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia no ano passado. É comparável também ao orçamento de seis usinas Belo Monte. Ou ainda: o montante é pouco superior ao impacto causado pela operação Lava Jato, da Polícia Federal, na economia brasileira em 2015 (R$ 140 bilhões).
Na lista de empresas, estão Petrobras, Vale, Eletrobras e Infraero. As construtoras, afetadas pela Lava Jato, também entraram em temporada de liquidação, que inclui a venda de participações em diversas concessões. Analistas destacam que, apesar da instabilidade econômica, a forte alta da moeda norte-americana - muito próximo dos R$ 4,00 - contribui para atrair investidores estrangeiros.
"O Brasil está barato. Houve desvalorização de 60% a 70% no valor dos ativos nos últimos 12 meses por causa da alta do dólar. E a liquidez internacional é gigantesca", afirma Fabio Silveira, diretor de pesquisa da GO Associados, ao avaliar que a crise econômica pode durar até três anos e que a turbulência política, apesar de criar instabilidade institucional, é menor que os problemas políticos e sociais de outros emergentes, como os países do Leste Europeu e do Oriente Médio. 
Mas há desafios. Especialistas citam o caso da Petrobras, que vem sentindo os efeitos da crise econômica e da Operação Lava Jato. Em meio ao maior escândalo de sua história, a estatal foi obrigada a cortar investimentos e a vender ativos para reduzir seu nível de endividamento, que deve ter chegado a R$ 500 bilhões no fim de setembro, valor ainda não divulgado, agravado pela alta do dólar e pela queda do preço do petróleo. Sua meta é se desfazer de US$ 15,1 bilhões (R$ 59,6 bilhões) até o fim do ano que vem. "A companhia precisa vender ativos, mas ainda não conseguiu bom resultado. Até a abertura de capital da BR Distribuidora foi adiada", diz Eduardo Roche, sócio-gestor da Canepa Asset Brasil.
Com o fim do superciclo das commodities, principalmente devido à desaceleração da China, a Vale apertou o passo de seu programa de venda de ativos. Para este ano, a expectativa da mineradora é levantar de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões (até R$ 27,6 bilhões) com desinvestimentos e parcerias. No rol dos ativos que foram para a prateleira, estão participações no corredor logístico de Nacala e uma mina de carvão, ambos em Moçambique. A Vale frisa que a reorganização de portfólio foi iniciada em 2011, quando passou a focar em "ativos de classe mundial, com baixo custo, vida longa e potencial de expansão". O objetivo é fazer caixa para tocar projetos essenciais, como o S11D (expansão do complexo de Carajás, no Pará), o maior da história da companhia, orçado em US$ 16 bilhões.
A CSN é outra que está à procura de compradores. São dois os ativos oficialmente à venda: o terminal de contêineres de Sepetiba (Rio de Janeiro), avaliado em cerca de R$ 1 bilhão, segundo fontes de mercado, e a fatia da empresa na Usiminas. Mas não está descartada a venda de ações que a siderúrgica detém na MRS e as subsidiárias de embalagem.
Em recente relatório, a agência de classificação de risco Fitch avaliou que a empresa precisa vender R$ 4 bilhões nos próximos dois anos para reduzir seu endividamento. A dívida líquida da companhia no fim do segundo trimestre estava em R$ 20,7 bilhões. A CSN não comenta. A empresa estava correndo contra o tempo para negociar com potenciais compradores, mas conseguiu fôlego mês passado, ao alongar cerca de R$ 5 bilhões de sua dívida de curto prazo. O cenário não ajuda. Além da sobreoferta mundial de aço, a demanda por produtos siderúrgicos vem caindo no Brasil, com a desaceleração econômica.
Marco Aurélio Barbosa, estrategista da CM Capital Markets, que acompanha 180 companhias de capital aberto no País, lembra que a venda de ativos é uma saída extrema para evitar a quebra. "Antes, ela pode reduzir investimentos e enxugar custos. Mas, quando há um descasamento enorme entre a geração de caixa e os custos para se manter, a saída é vender", sentencia. O problema, aponta, é que o comprador oferece um valor muito depreciado e, com a economia em retração, isso se potencializa."

Telecomunicações devem passar por reestruturação

 Rede adquirida é complementar à da companhia nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo

Rede adquirida é complementar à da companhia nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo


MARCO QUINTANA/JC/JC
Com queda na receita e redução no número de assinantes móveis, o setor de telecomunicações enfrenta um desafio que vai além do corte de custos com a venda de ativos, como torres, imóveis e subsidiárias no exterior. De acordo com analistas, o segmento passará por um novo momento de consolidação para buscar maiores margens de lucro e fazer frente à concorrência. Empresas como Nextel, Tim Brasil e até Sky já estão entre os possíveis ativos que podem mudar de mãos, ressaltam executivos a par desses processos.
Segundo uma fonte, a Nextel, da norte-americana NII Holdings, já está sendo preparada para uma possível venda. Seu valor de mercado é de cerca de R$ 2,5 bilhões. Após se desfazer de operações em toda a América Latina, a companhia contratou Francisco Valim, ex-presidente da Oi, para preparar a operação. Valim comandou operações de venda quando presidia a Net e a Serasa. "A Nextel tem quatro milhões de clientes e é um ativo interessante, o que vai gerar disputa", destaca o analista Hermano Pinto. "No caso da Sky, é preciso saber qual será a estratégia da sua controladora AT&T. A sensação é que eles estão esperando ver os resultados no México, onde tem operadora local e a própria Nextel."
Quem também está na lista é a TIM Brasil, que está vendendo suas torres no País, gerando, ao todo, cerca de R$ 3 bilhões. Enquanto isso, na Europa, a Telecom Italia, dona da Tim, conta com um novo acionista, a Vivendi, que quer focar sua operação nos mercados maduros. Segundo analistas, a Vivendi busca aumentar sua atuação na Europa. Por isso, já há uma sinalização nesse sentido no comando da companhia, o que pode abrir espaço para as empresas brasileiras, como a Oi, que vendeu a Portugal Telecom, está com dinheiro em caixa e está de olho na Tim.
A Oi, que já vem vendendo torres e imóveis, pretende gerar mais R$ 4 bilhões, diz outra fonte, com a venda de suas operações na África para equilibrar seu balanço financeiro, entre outros ativos.

Setor elétrico quer reduzir endividamento

Eletrobras concentrará esforços em áreas estratégicas, como grandes hidrelétricas

Eletrobras concentrará esforços em áreas estratégicas, como grandes hidrelétricas


VANDERLEI ALMEIDA/AFP/JC
No centro das turbulências que atravessam o setor elétrico e com negócios sob investigação na operação Lava Jato, a Eletrobras vai encolher e concentrar suas atividades em segmentos nos quais o governo considera a presença estatal estratégica: as grandes hidrelétricas e linhas de transmissão. Há alguns dias, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, recebeu da consultoria Roland Berger levantamento dos ativos que poderiam ser colocados à venda. Participações da Eletrobras e suas subsidiárias estão no radar. "Trabalhamos em um projeto de reestruturação e em uma nova estratégia da holding, bem como a de cada uma das coligadas e das distribuidoras. Temos 154 sociedades de propósito específico embaixo da Eletrobras. A nossa meta é fazer um grande enxugamento nisso, mas temos de avaliar cada uma delas. Isso está sendo feito", afirmou o ministro.
Além dessas participações, a Eletrobras planeja se desfazer das distribuidoras de energia nos estados, ou pelo menos de parte desses ativos. A primeira a ser vendida é a Celg, de Goiás, onde a estatal tem 51% de participação. A companhia tem valor de mercado estimado em R$ 8 bilhões. Outras seis distribuidoras poderão ser vendidas, ou pelo menos parte dos ativos: Cepisa, do Piauí; Ceal, de Alagoas; Eletrobras Amazonas; Ceron, de Rondônia; Eletroacre, do Acre; e Bovesa, de Roraima. Também estão na lista a CEA, do Amapá; e a CERR, de Roraima, onde a Eletrobras tem apenas participação.
"O Brasil está à venda. O grande problema dessas distribuidoras é má gestão da Eletrobras, que sofre com indicações políticas. Mas são empresas interessantes com um grande mercado e que vão dar retorno a seus investidores. A Equatorial, por exemplo, comprou a distribuidora do Maranhão e a do Pará, e as empresas já são lucrativas. O mesmo vai ocorrer com a Energisa, que comprou o Grupo Rede, que estava sob intervenção,e agora já se fala até em dividendos", defende Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), do Instituto de Economia da UFRJ.
A estratégia do governo é começar a se desfazer dos ativos da Eletrobras menores, como usinas eólicas, pequenas hidrelétricas e linhas de transmissão curtas. Isso porque são considerados ativos mais líquidos e com demanda garantida, conforme revelaram leilões recentes, segundo uma fonte do governo. Em encontro com o presidente do conselho da Eletrobras e atual diretor de Infraestrutura do Bndes, Wagner Bittencourt, o  o ministro Eduardo Braga debateu a venda da Celg e o relatório da Roland Berger. Segundo Braga, o governo ainda espera procedimentos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para vender a distribuidora goiana.
Mais do que arrecadar recursos para a União, a venda de ativos do setor elétrico visa a reduzir o endividamento da Eletrobras e fortalecê-la financeiramente nas áreas em que o governo considera fundamental a presença forte da estatal. Essa seria uma alternativa para resolver os problemas de caixa dentro da própria empresa, uma vez que o acesso a financiamentos ficou mais restrito.
Segundo especialistas, as distribuidoras vão atrair interesse dos investidores estrangeiros, sobretudo, os chineses - os grandes concorrentes serão os chineses até por causa do dólar - lembra Nivalde, explicando que os grupos nacionais estão sem caixa para investir nesses projetos. A Eletrobras divulgou fato relevante sobre o Plano de Negócios 2015 a 2019, aprovado em 31 de julho, e informou que "qualquer comentário adicional será feito em comunicado ao mercado quando necessário".

Estatais podem sofrer novo corte de recursos

Diante da piora no cenário econômico, com disparada do dólar, alta dos juros e maior custo de captação, o governo decidiu reduzir em R$ 11 bilhões a previsão de investimentos das estatais neste ano, e 90% desse valor são do grupo Petrobras. O projeto de lei que altera o orçamento dessas empresas, que hoje é de R$ 106,1 bilhões, prevê um corte com patamar abaixo de 2012, em valores nominais: o montante ficará em R$ 95 bilhões.
Sem perspectiva para a melhora no horizonte, o governo cogita novo corte no orçamento das estatais de 2016, estimado em
R$ 96,9 bilhões. A proposta, que tramita no Congresso, embute um corte de R$ 9,3 bilhões, em relação ao orçamento de 2015. Só o grupo Petrobras cortou R$ 7 bilhões; o grupo Eletrobras, R$ 500 milhões; e bancos públicos, R$ 100 milhões. Demais empresas, como Infraero, Correios e Embrapa, tiveram redução de R$ 1,7 bilhão nos investimentos previstos.
O recuo nos investimentos das estatais começou em 2014, após a conclusão das obras para a Copa, e se intensificou este ano com a crise econômica. Entre janeiro e agosto, as empresas executaram só 46,8% do orçamento de R$ 106,1 bilhões, conforme portaria do Ministério do Planejamento publicada no Diário Oficial há alguns dias. No mesmo período de 2014, a execução chegou a 61,62%.
Segundo o Departamento de Empresas Estatais (Dest) do Ministério do Planejamento, algumas empresas cortam investimentos programados em ativos que serão colocados à venda. "Antes da venda de um ativo, é normal que já se reduza o direcionamento de investimentos para ele", informa o Dest, por meio de nota.
De acordo com o texto, o processo de desinvestimento das estatais decorre de uma piora no cenário econômico e tem objetivo de dar um reforço no caixa, seja para focar em projetos mais estratégicos ou para reduzir o nível de endividamento. "O processo continua e tende a ser relevante em 2015 e 2016, reforçando o caixa em resposta ao aumento do custo de captação, mantendo o foco nos projetos mais estratégicos e, ao mesmo tempo, resultando em menor necessidade de recursos para o orçamento de investimento", completa o Dest.