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Economia

- Publicada em 30 de Setembro de 2015 às 23:23

Opinião econômica: Alegrias

Delfim Netto é economista, ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura

Delfim Netto é economista, ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura


Folhapress/Arquivo/JC
Tenho chamado a atenção dos cidadãos interessados em assuntos econômicos, para o empreendimento extraordinário de Andrea Vicentini, da Editora Segesta, de Curitiba (www.sagestaeditora.com.br).
Tenho chamado a atenção dos cidadãos interessados em assuntos econômicos, para o empreendimento extraordinário de Andrea Vicentini, da Editora Segesta, de Curitiba (www.sagestaeditora.com.br).
A sua coleção "Raízes do Pensamento Econômico" enriquece a cultura econômica nacional com cuidadosas traduções de obras clássicas. Com o seu mais recente lançamento, o célebre "Tratado da Circulação e do Crédito", do ilustre Isaac de Pinto (1715-1787), já são 12 alegrias.
Escritor de certa reputação no seu tempo, descendente de judeus portugueses, nasceu em Amsterdã, onde sua inteligência e habilidades práticas (operador da Bolsa) lhe renderam grande prestígio como conselheiro econômico, além de substancial fortuna.
O livro é um ataque da heterodoxia de então, à "Théorie de l'Impôt" (1760), do marquês de Mirabeau (a ortodoxia) sobre um assunto atualíssimo: as virtudes (que nela via o autor) e as tragédias que podem advir da dívida pública (como via Mirabeau).
Mirabeau parece ter sido, com Quesnay, o criador da pretensiosa expressão "science économique"! O autor menciona as objeções que já existiam, há 250 anos, aos descuidos com a dívida pública. Vai tentar refutá-las com novos argumentos e algum suporte empírico relativo à Inglaterra.
São eles: 1) quanto mais o governo estiver endividado, mais é necessário sobrecarregar a nação de impostos para pagar os seus juros; 2) o aumento dos impostos encarece a mão de obra e traz prejuízos às manufaturas; 3) quando a dívida é externa, o tributo se paga a estrangeiros; e 4) o espírito de indolência, do jogo e da agiotagem que existe no comércio de fundos públicos transfere-se para a nação, o que estimula o "rentismo".
O livro é sofisticado e engenhoso. É fruto da convicção que leva o autor ao paroxismo de atribuir a prosperidade da Inglaterra ao competente manejo da sua dívida pública (o que não é uma hipótese absurda. Veja: Ventura, J.-Voth, H.J. "Debt in Growth", CEPR DP 10.652, 2015) e sugerir que o atraso de outros países se devia à falta dessa "expertise".
Uma dívida pública com relação ao PIB bem administrada e controlada é, mesmo, fundamental para uma administração macroeconômica virtuosa, além de essencial para mitigar as flutuações cíclicas ínsitas ao capitalismo.
Como todas as coisas boas em excesso, pode tornar-se disfuncional.
Depois de 10 gerações, os atuais descendentes do "mainstream" (Mirabeau) e do "nacional-desenvolvimento" (de Pinto) continuam a discutir ferozmente, o problema da dívida pública/PIB sem acrescentar-lhe um miserável novo argumento. Por isso, vale a pena ler este livro.
Economista, ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura
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