Opinião econômica: A hora da cultura

Neste momento muito duro e desafiador que o País atravessa, estamos todos em nosso grupo dedicados a escrever a nossa cultura. Os fundadores, os sócios e os 2.500 colaboradores serão envolvidos nesse processo. Afinal, não é a cultura do Nizan, é a cultura do grupo.

Construir uma cultura de verdade não é fácil, sobretudo em grupos que crescem adquirindo empresas e culturas diferentes, com jeitos de fazer diferentes, que devem ser respeitados e mantidos, como numa federação de estados. Iowa é diferente da Califórnia, que é diferente de Nova Iorque, mas estão todos dentro da cultura maior dos Estados Unidos da América.

Quando se conversa sobre negócios hoje, o interlocutor não quer saber só sobre quem comanda a empresa, mas quem são as pessoas-chave, quem são as pessoas-chave das pessoas-chave, qual a cultura da organização.

Muitas vezes, grandes líderes aparecem como construtores solitários das empresas. Mas a realidade não é bem assim. Não foi Steve Jobs quem construiu a Apple. Mas foi Steve Jobs quem liderou a Apple na formação da cultura Apple. E foi a cultura Apple que fomentou, atraiu e reteve os melhores designers, programadores e engenheiros, que fizeram e fazem aquela empresa espetacular ser espetacular para além do próprio Steve Jobs. Cultura também não é conversa fiada escrita no papel. Cultura são verdades da maneira de ser da organização, valores intrínsecos que são escritos para que passem de geração a geração.

A cultura também é dinâmica. O mundo muda, e as espécies que sobrevivem são as que se adaptam. Controlar custos e excelência em processos não são atávicos ao mundo da publicidade, mas os tempos exigem isso. E se nossa cultura não abraçar esses valores; no futuro, não estaremos aqui. E nós vamos estar. Afinal, quem só faz o que gosta não vai muito longe.

Cultura foi feita para atrair pessoas. Mas eu digo que ela também é espantalho -para afastar quem não tem os valores da organização.

Cultura forte é empresa forte, é performance, é ética. Cultura forte é alinhamento com os processos, capacidade de implementação do planejado. Ou seja, tudo o que uma crise demanda.

Nas crises, quem tem cultura forte se sai melhor. Foi por isso que Churchill disse que o Reino Unido teve seu melhor momento, sua "finest hour", no período em que os nazistas bombardeavam Londres. O que mantém os judeus unidos até hoje, após tantas provações, é a linda cultura judaica. Os bárbaros atacaram o Império Romano, mas o que o fez cair foi a cultura cristã.

Nosso grupo já teve anos mais lucrativos, e de mais crescimento, mas nunca deu passos mais corajosos e fortes para se consolidar como neste ano. Isso graças à força da nossa cultura. Este é um ano muito duro, mas no qual estão sendo tomadas decisões que vão forjar de maneira importante o nosso futuro e a nossa cultura.

As organizações se inspiram nos líderes e ficam olhando o que ele vai fazer. Isso é cultura, e é incrível a força que ela tem. Os profissionais de RH são importantíssimos, e todo esse processo de cultura deve ser conduzido ouvindo eles. Mas construir a cultura é papel dos líderes e de toda a organização

Estou completamente engajado nesse processo. Estou convicto que, num momento de crise, essa é uma das coisas mais importantes que posso fazer para proteger minhas empresas.

Cultura é fundamental para que a organização se perpetue e seja maior do que essa ou qualquer crise.