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- Publicada em 30 de Setembro de 2015 às 15:26

Contra todas as hipocrisias

O conformismo dos intelectuais (Sulina, 184 páginas), de Michel Maffesoli, professor emérito da Sorbonne, membro do Instituto Universitário da França e um dos mais conhecidos teóricos da pós-modernidade; e de Hélène Sthrol, inspetora-geral honorária das relações sociais e escritora, é, antes de mais nada, em tom de panfleto, um disparo de metralhadora giratória contra todas as hipocrisias intelectuais: conformismo, politicamente correto de conveniência, privilégios do setor público francês, que lembram em quase tudo as vantagens de setores do serviço público brasileiro.
O conformismo dos intelectuais (Sulina, 184 páginas), de Michel Maffesoli, professor emérito da Sorbonne, membro do Instituto Universitário da França e um dos mais conhecidos teóricos da pós-modernidade; e de Hélène Sthrol, inspetora-geral honorária das relações sociais e escritora, é, antes de mais nada, em tom de panfleto, um disparo de metralhadora giratória contra todas as hipocrisias intelectuais: conformismo, politicamente correto de conveniência, privilégios do setor público francês, que lembram em quase tudo as vantagens de setores do serviço público brasileiro.
Compadrismos de todos os tipos, mediocridade generalizada, publicações requentadas, marxismo de coquetel, agências governamentais de avaliação universitária controladas por tribos e com critérios variáveis, duplicidade de discursos de acordo com os públicos, internos ou externos, blindagem contra críticas, busca de midiatização a qualquer custo fingindo desprezar a espetacularização etc, como se vê, parecidos os setores públicos francês e brasileiro.
A primeira parte do volume, intitulada O conformismo lógico, faz uma crítica à verborragia, à desvalorização da palavra pública e dá nome aos bois, os intelectuais conformistas, os que se apresentam como guardiães dos valores republicanos sagrados. O livro tira-lhes as máscaras.
Na segunda parte, O jornalismo, ou "a era da página de variedades", os autores revelam que, atualmente, é bom lembrar que prevalecem as páginas de variedades, nas quais o atual, a atualidade, só tem sentido pelo que, no cotidiano, é impermanente e que só existe o atual (a atualidade) se soubermos estar atentos ao que é inaugural.
O quarto grande capítulo do livro, A ópera bufa do político, disseca com profundidade o discurso político, as atitudes e as verdadeiras intenções dos políticos atuais, que andam por aí, muitas vezes batendo de porta em porta, para falar em "mudanças", "verdades", "utopias" e outras coisas que o eleitorado gosta de ouvir.
Na quinta e última parte dolivro, Altos funcionários, a tribo das tribos, os autores criticam as mazelas do serviço público francês, cheio de vantagens, comissões de estudos e planejamento, reuniões intermináveis, grupos de trabalho preparados para finalidades determinadas e outras características que conhecemos.
Na apresentação, o professor, jornalista e escritor Juremir Machado da Silva escreve: "o microcosmo francês, especialmente o parisiense, é dissecado como um animal em laboratório. Essa experiência sugere comparações com o que acontece em outros países. O universo intelectual surge como um mundinho sórdido de disputas rasteiras, de armações, de golpes baixos, de tramoias, de paixões e ódios, de vinganças e articulações, sempre apresentadas como normais, até de sacrifícios pessoais, ou de simples coincidências, pelo controle de cargos, comissões e espaços de exercício do poder. O conformismo dos intelectuais é um dos valores mais universais."

Lançamentos

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DIVULGAÇÃO/JC
172 horas na Lua (Novo Conceito, 286 páginas, tradução de Camila Fernandes), romance do escritor norueguês Johan Harstad, recebeu o 2008 Norwegian Brage - Young Adult. Três adolescentes comuns vencem um sorteio mundial e vão passar uma semana na Lua. Se acharam muito sortudos. Não sabiam que a Nasa tinha motivos para não ter enviado mais ninguém para lá.
Os 39 degraus (Landmark, 168 páginas), de John Buchan, edição bilíngue português-inglês de um clássico da literatura, é um dos mais eletrizantes thrillers de ação e espionagem de todos os tempos. Um engenheiro em Londres, herói de guerra, sabe de um assassinato político que pode jogar a Europa numa crise sem precedentes.
As lutas de um escritor (Edição do autor, 90 páginas, 9599-4654), do papeleiro e poeta uruguaianense Catarino Brum Pereira, morador de Gravataí, tem 30 poemas que escreveu a mão sobre a mãe, o tempo, a vida, os amores, a escola do mundo e outros temas do cotidiano. Apresentação de Marcelo Ismael Moreira.
 

Que horas ela volta?

Em meio a esse noticiário catastrófico, ao papo deletério sobre as crises totais municipais, estaduais, federais, internacionais e global, em meio ao lero-lero sobre a falta de criatividade nas artes e às chorumelas e angústias nacionais de costume sobre a morte da esperança e o fim do futuro, uma notícia boa: o filme Que horas ela volta?, da diretora e roteirista Anna Muylaert, em quatro semanas, já foi visto por 350 mil pessoas e é sucesso de crítica, com prêmios no Festival de Sundance (EUA), em Berlim, e está indicado para o Goya e para concorrer a uma vaga ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Não é pouca coisa.
Depois de 19 anos de elaboração, o filme saiu na hora certa. Põe na mesa a relação domésticas-patrões, capital, trabalho e tal. No Brasil trabalham, aproximadamente, sete milhões de empregados domésticos, a maior categoria profissional. Noventa e seis por cento são mulheres, 30% têm CTPS anotada. A partir da Lei nº 5.859/72 até a recente PEC das Domésticas, os avanços e as conquistas foram muitos, significativos e pacíficos. Hoje, os domésticos têm quase os mesmos direitos que os demais empregados. Há muito caminho a percorrer, claro, mas a revolução da cozinha é um ótimo exemplo de evolução social.
Que horas ela volta?, com atuação brilhante da protagonista Regina Casé e estreia fulgurante da coadjuvante brasiliense Camila Márdila, é dessas raras comédias dramáticas brasileiras de cunho social com qualidade e impacto que, ao mesmo tempo, nos divertem, nos fazem pensar, refletir e provocam saudável diálogo, inclusive e principalmente em redes sociais, sobre temas tão cotidianos e essenciais, como o arroz e o feijão. Afeto de aluguel, relações de trabalho, relações familiares, estruturas sociais, relações humanas, verdades e mentiras, aparências e interiores, caminhos e descaminhos, tristezas, alegrias e muito mais estão na história da doméstica Val e da família para a qual trabalhou por muitos anos. Os brasileiros se identificam com os personagens do filme, com as situações, com os cenários e se descobrem neles. A história que mudou radicalmente a vida de Val e da família empregadora, com a chegada de sua filha Jéssica, além de propor novos caminhos para o cinema brasileiro, é uma oportunidade para conversar sobre muitos temas, uns agradáveis, outros não, como em qualquer sociedade ou País.
Jéssica personifica e retrata as transformações sociais do Brasil e as conquistas dos trabalhadores nas últimas décadas, em especial as que ocorreram depois da implantação do Plano Real e as que aconteceram entre as paredes da Casa Grande e da Senzala. Que horas ela volta? lembra Teorema de Pasolini, e seu título em inglês, The second mother, é bem sugestivo. Agora, é torcer pelo Goya e pelo Oscar. Que, se não vierem, também, paciência. A crítica, o público e o tempo já premiaram o filme. Mas acho que o Oscar vem, estou vendo um brilho de estatueta.

A propósito...

Que horas ela volta? foi produzido com valores e financiamento relativamente modestos, o que é muito bom, nesses tempos bicudos, e serve de exemplo aos megas. Só acho que Anna Muylaert poderia ter pegado um pouco mais leve com os personagens masculinos. Um deles só aparece em conversas. Outro é meio apatetado. Um terceiro só dirige o carro e um quarto é meio amorfo. Pois é... Será que a gente é assim? Mas isso não tira o mérito da película. Enfim, Que horas ela volta? é bem acima da média, diverte, faz pensar, refletir, se posicionar e, num momento de transformação social no Brasil, cumpre com brilho, seriedade e humor sua tarefa artística. Palmas! E que venham o Goya e o Oscar! (Jaime Cimenti)