Há erros na sociedade que, tais e quais doenças hereditárias, passam e se propagam por muitas gerações. É o caso da impunidade no Brasil. Se queremos ser responsáveis e melhorar Porto Alegre, o Rio Grande do Sul e o Brasil, temos que buscar Justiça, no amplo, geral e irrestrito sentido da palavra. E a Justiça não está tão longe como se pensa. Ela tem a companhia do crédito popular, da ordem, da perícia, da diligência, da exatidão, da lealdade e da probidade. É que se pode julgar sobre o caráter e a opinião das pessoas pelas máximas que elas dizem e repetem frequentemente na sua vida profissional e familiar. Assim é o caso criminal chamado de mensalão. Tivemos desvios de conduta em outros governos, bem antes dos quase 10 anos do atual partido no poder. Há décadas surgem, vez que outra, graves violações de caráter, de conduta e de infração da lei. Para tanto, temos que manter um discurso coerente e a ética coerente com o discurso. O fato é que o Supremo Tribunal Federal (STF) jamais condenou um parlamentar.
No entanto, neste caso, “o STF também será julgado pela opinião pública ao analisar o processo do mensalão”. É que existe, por parte da Nação, uma expectativa muito grande. Três ministros do Supremo Tribunal Federal reagiram a estas declarações da corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon. “Quem é ela para dizer que seremos julgados? O Supremo não é passível de sugestões, muito menos de pressões”, disse o ministro Marco Aurélio Mello. “A toda hora estamos sendo julgados. Não é só nesse caso”, afirmou o colega Gilmar Mendes. “O Supremo tem que estar acima dessas paixões passageiras”, disse o também ministro Luiz Fux. Os 11 ministros do Supremo começam a julgar o maior escândalo do governo Luiz Inácio Lula da Silva a partir de 2 de agosto. Entre os 38 réus estão José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil; José Genoino, presidente do PT à época, e Duda Mendonça, marqueteiro da campanha lulista de 2002. Ao todo, são 38 pessoas acusadas. Mas, “fora dos autos, fora do mundo”, no jargão dos tribunais, e aí começam as dificuldades para aplicar a lei que, mesmo sendo dura, é a lei. “Eu me sinto traído por práticas inaceitáveis. Indignado pelas revelações que chocam o País, e sobre as quais eu não tinha qualquer conhecimento. Não tenho nenhuma vergonha de dizer que nós temos de pedir desculpas. O PT tem de pedir desculpas. O governo, onde errou, precisa pedir desculpas” afirmou o presidente Lula, em 12 de agosto de 2005, sobre o mensalão.
A realidade será mostrada, e é neste momento que o Supremo passa a ser julgado pela opinião pública. O STF não deve se pautar pelo emocionalismo. Mas os Poderes, em um regime democrático, necessitam da confiança daqueles a quem servem. O Supremo não se deixará influenciar pela opinião popular, porém não pode ignorar o clamor deste caso. São escutas e depoimentos mais do que suficientes para punir os culpados. Enfim, os ministros são os mais experientes magistrados do País e saberão lidar com tranquilidade diante de qualquer tipo de manifestação. Porém, o povo quer o fim da impunidade. Deus queira que ela termine, sem injustiças, pois a inocência tem uma só face, enquanto a maldade tem muitas.