O número de pessoas acima do peso ou obesas cresce em um nível assustador. Em 2000, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a quantidade de obesos era de aproximadamente 151 milhões. No ano passado, a doença já atingia 221 milhões de pessoas, um crescimento de 46% em uma década. No Brasil, cerca de 40% da população sofre com o sobrepeso ou com a obesidade.
Mais do que comprometer a autoestima, o excesso de peso é apontado pela OMS como um dos fatores para o desenvolvimento de distúrbios cardiovasculares, pressão alta, colesterol elevado, diabetes, alguns tipos de câncer (mama, endométrio e cólon), entre outros. Ao contrário do que poderia se supor, segundo a OMS, o risco de problemas de saúde começa quando se está ligeiramente acima do peso, e aumenta na medida em que o índice de massa corporal (IMC) se torna maior.
Para o cirurgião José Afonso Sallet, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o problema ganha proporções cada vez mais elevadas não apenas em virtude da correria da vida moderna, mas também pela dificuldade que os indivíduos têm de aderir, em longo prazo, a práticas regulares de controle do peso. “O índice de pessoas que tentam mais de uma vez seguir um programa individual para a perda de peso é de mais de 80% de insucesso. Por isso, a pessoa com sobrepeso necessita de um estímulo real e de um acompanhamento efetivamente multidisciplinar por um longo período”, aponta Sallet.
Preocupados com o crescimento acelerado desses índices, especialistas desenvolvem diferentes abordagens de emagrecimento. Uma das técnicas que vêm sendo adotadas por alguns profissionais da área é a colocação da banda gástrica de silicone, ou como é mais conhecida, o balão insuflável.
O sistema Orbera é uma dessas alternativas. O aparelho visa a atender à população com sobrepeso, que não responde ao tratamento de medicamentos e de dietas restritivas e que não quer se submeter a um procedimento cirúrgico e seus riscos. Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para pessoas com IMC acima de 27 kg/m2 - para saber seu índice, divida o peso em quilogramas pelo quadrado da altura -, o método possibilita a perda de 12% do peso inicial. “Claro que só a aplicação do balão não é a solução para o sobrepeso ou a obesidade. Uma equipe multidisciplinar formada por nutricionista, psicólogo e preparador físico complementa o tratamento, assistindo o paciente a manter a perda do peso”, explica o especialista.
O dispositivo é inserido vazio no estômago do paciente sedado através de endoscopia, em ambiente hospitalar ou clínico. O balão então é preenchido com soro e azul de metileno (estéreis na quantidade de 400ml a 700ml), durando uma média de 20 minutos todo o procedimento.
Dentro do estômago, o balão proporciona a sensação de saciedade, tanto pelo volume ocupado quanto pela localização em que é posicionado. Sua permanência no estômago é de até seis a sete meses. Caso o nível de obesidade do paciente seja muito elevado, ele pode inserir um novo balão no intervalo de um mês após a retirada do primeiro.
De acordo com a nutricionista especialista em obesidade Margaretth Arruda, é imprescindível que antes de traçar qualquer plano nutricional o paciente se valha do máximo de recursos possíveis para a identificação do porquê do excesso, que vai além da avaliação de peso, altura e relação cintura/quadril. “A porcentagem de gordura e massa magra, alergias ou intolerâncias alimentares, preferências e aversões aos alimentos, transtornos alimentares, horário e tipo de refeição ingerida e patologias relacionadas à alimentação do paciente devem ser minuciosamente checados”, avalia Margareth. Ela lembra ainda que todo esse processo deve ser trabalhado fundamentalmente na prevenção da obesidade, envolvendo a família, a sociedade e a indústria alimentícia para um novo padrão alimentar.
Outro ponto importante de ser acompanhado durante o processo de perda de peso é o acompanhamento psicológico. A psicóloga especialista em terapia comportamental-cognitiva e transtornos alimentares Marilice de Carvalho fala que a ansiedade é apontada como a grande vilã, mas a questão é bem mais complexa. “Sentimentos como tristeza, raiva, frustração, entre outros, têm bases em históricos particulares e que levam o indivíduo a buscar no alimento uma fuga”, exemplifica Marilice. A psicóloga ressalta o uso cada vez maior da terapia comportamental-cognitiva para a eliminação definitiva do peso, cuja técnica auxilia na perda e controle de peso através da modificação de pensamentos disfuncionais associados aos hábitos do paciente, como o aprendizado sobre seu comportamento alimentar e o entendimento dos sentimentos e pensamentos que o levam a comer.
Todo o procedimento, não cirúrgico, tem contraindicação para portadores de doenças gástricas, indivíduos que se submeteram a cirurgias abdominais e gástricas ou possuem alguma anormalidade estrutural no esôfago ou faringe. Após a colocação do Orbera, o paciente pode sentir náuseas, vômitos, dor abdominal e gases, causados pela inserção de um corpo estranho no organismo, mas que são controlados pelo médico em no máximo uma semana.
Os especialistas enfatizam que o sucesso na utilização do balão gástrico está diretamente ligado à mudança comportamental e à força de vontade do paciente. O custo de todo o processo fica em torno de R$ 8 mil, incluindo a prótese de silicone (R$ 3 mil) e todos os custos e acompanhamentos médicos que envolvem o tratamento.