O montante gasto pela Philip Morris Brasil na sua nova fábrica de cigarros em Santa Cruz do Sul pode chegar a R$ 136 milhões. Este valor, que foi apontado por assessores do governo do Estado durante a cerimônia de inauguração oficial do empreendimento, na última sexta-feira, ainda não é confirmado pela diretoria da empresa, que admite apenas o orçamento divulgado de R$ 113,5 milhões. No entanto, o presidente da companhia detentora da marca Marlboro, Amâncio Sampaio, apontou que os investimentos na nova unidade ainda estão em execução e poderiam passar o total anunciado pela própria empresa.
A nova linha de produção substitui a antiga “Unidade Um”, que ficava dentro do perímetro urbano de Santa Cruz do Sul e cujos prédios antigos devem ser vendidos. A nova área, com 40 mil metros quadrados, foi construída junto às unidades dois e três da companhia, no quilômetro 49 da BR-471, o que permitirá à Philip Morris aproveitar o uso integrado de diversas estruturas de apoio, como vestiários e refeitórios, além de agilizar a produção.
O presidente da empresa destacou que, nesse primeiro momento, não deve haver alteração significativa do quadro de colaboradores e preferiu não comentar os prováveis ganhos na produtividade. Conforme Sampaio, com essa modernização, a empresa terá apenas um único grande centro de produção e logística para atender a todo o Brasil. “Embora tenhamos uma parcela de exportação, o foco dessa unidade é o atendimento da demanda doméstica”, detalhou o executivo, ao afirmar que o espaço teve sua capacidade “dimensionada para atender às necessidades da empresa a longo prazo”.
Sampaio estima que, juntas, as marcas da Philip Morris atendem a 16,6% do mercado brasileiro de cigarros. No entanto, lembrou que o Brasil absorve 25 bilhões de cigarros ao ano que ingressam no território nacional de forma ilegal, conforme dados da Receita Federal citados pelo executivo. De acordo com o presidente da empresa, a grande oportunidade de crescimento da companhia está, justamente, em abocanhar parte da parcela de consumidores que hoje compra o produto contrabandeado do exterior.
O valor divulgado de R$ 113,5 milhões investidos pela Philip Morris na nova fábrica foi integramente financiado pelo governo do Estado, segundo o secretário estadual de Agricultura, Luiz Fernando Mainardi. A operação foi realizada através do Fundopem (renúncia fiscal de ICMS por um período de até cinco anos).
Para o governador Tarso Genro, o incentivo fiscal e o alinhamento do Estado à defesa da cadeia produtiva do fumo e do cigarro estão em consonância com o compromisso assumido no início da gestão de dar apoio às empresas não predatórias, que estabelecem laços virtuosos com a base produtiva local. “Essa seria a melhor descrição para a relação entre a indústria cigarreira e os agricultores familiares que cultivam o tabaco”, destacou.
Conforme o secretário Mainardi, na safra 2013, a atividade da colheita do tabaco envolveu 86 mil produtores no Estado. “Nossa política é em defesa da liberdade, que o consumidor possa decidir comprar o produto final, que o agricultor possa decidir produzir ou não o tabaco, assim como o governo pode decidir se apoia ou não o setor. É um comprometimento com a felicidade do homem do campo”, defendeu.Durante a cerimônia de inauguração, que reuniu milhares de trabalhadores e lideranças políticas da região, o tema das novas normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi apontado como grande ameaça a esse setor produtivo e à sobrevivência econômica das regiões produtoras. Segundo o prefeito de Santa Cruz do Sul, Telmo Kirst, a cadeia engloba ao menos 600 municípios nos três estados do Sul, com a geração de 241 mil empregos na época de colheita e 114 mil ocupações permanentes.
Se aprovadas, as resoluções da Anvisa devem proibir a adição de substâncias como mentol, cravo e canela, que mascaram o gosto ruim da nicotina e tornam o tabaco um produto mais atraente ao público jovem. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que 45% dos fumantes entre 13 e 15 anos consomem cigarros com sabor. Há também nas normas em processo de aprovação a determinação para que sejam retiradas do processo de fabricação de cigarros as substâncias que potencializam a ação da nicotina no organismo, como o acataldeído, o ácido levulínico, a teobromina, a gama-valerolactona e a amônia.
Sampaio afirmou que, se entrarem em vigor (o que poderá acontecer em setembro), essas novas normas da Anvisa alterarão de tal forma as características dos produtos que algumas linhas simplesmente perderiam a razão de existir. O deputado federal Luis Carlos Heinze apontou em seu discurso qu com medidas como essa, a agência estaria extrapolando suas funções e criando legislação – o que é tarefa da Câmara e do Senado. “Se passarem, essas normas farão uma mudança de impacto tão grande quanto a mudança da fórmula da Coca-Cola”, argumentou.