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Coluna

- Publicada em 24 de Dezembro de 2009 às 00:00

Teatro e dança são os destaques no ano


Deborah Colker/Divulgação/JC
Jornal do Comércio
A temporada teatral do ano que se encerra teve uma movimentação muito boa, levando-se em conta o ano de crise econômico-financeira que o País enfrentou. Mantivemos as atrações tradicionais, como o Porto Verão Alegre e o Porto Alegre em Cena, no que toca à Capital gaúcha. A cidade de Canela garantiu seu calendário com os dois festivais tradicionais - o de teatro e o de teatro de bonecos -, e o conjunto de atrações que visitou a cidade de Porto Alegre ou que aqui foi produzido chega a surpreender. Se o Porto Verão Alegre foi bastante decepcionante pelo excesso de reprises que apresentou, o Porto Alegre em Cena atingiu plenamente seus objetivos, trazendo alguns dos trabalhos mais significativos produzidos na ribalta mundial.
A temporada teatral do ano que se encerra teve uma movimentação muito boa, levando-se em conta o ano de crise econômico-financeira que o País enfrentou. Mantivemos as atrações tradicionais, como o Porto Verão Alegre e o Porto Alegre em Cena, no que toca à Capital gaúcha. A cidade de Canela garantiu seu calendário com os dois festivais tradicionais - o de teatro e o de teatro de bonecos -, e o conjunto de atrações que visitou a cidade de Porto Alegre ou que aqui foi produzido chega a surpreender. Se o Porto Verão Alegre foi bastante decepcionante pelo excesso de reprises que apresentou, o Porto Alegre em Cena atingiu plenamente seus objetivos, trazendo alguns dos trabalhos mais significativos produzidos na ribalta mundial.
Mas a cidade assistiu também a grupos do interior, como ocorreu logo no início da temporada, com o grupo coreográfico de Suzana Schoellkopf e Márcio Barreto. Também de fora, mas do centro do País, recebemos, ainda em março, o belo trabalho A alma boa de Setsuan. O mês ficaria marcado, contudo, pela estreia de Terezinhas, um dos trabalhos de dança mais bonitos de toda a temporada e que valeu ainda pela gravação de um DVD inesquecível. O trabalho do Grupo Meme, dirigido por Paulo Guimarães, chegou como quem não queria nada e encantou a todos.
Deborah Colker apresentou Cruel
O mês de abril teve como atração apenas o texto de Nelson Rodrigues O casamento, produção do Depósito de Teatro, de Roberto Oliveira, que enfrentou muitos problemas neste ano. Maio, contudo, se recuperou. Além de Sérgio Britto, que nos trouxe um belíssimo trabalho sobre Beckett, tivemos o balé de Deborah Colker, que se dividiu entre a estreia do Cirque du Soleil, no Canadá, e sua turnê brasileira, mas sem perder nem um pouquinho de sua qualidade. Cruel, seu espetáculo deste ano, mostrou uma criadora muito crítica em relação à realidade imediata. Para contrastar, o Ballet Nacional de Cuba voltou à cidade e desta vez com um trabalho completo, a Giselle, de Alicia Alonso, devidamente revisto, num espetáculo bonito, colorido e temperado com uma perspectiva bem latina.
Maio ainda se dividiria entre personagens contraditórias. Liliana Sulzbach e Márcia do Canto apresentavam Marleni, da dramaturga alemã Thea Dorn. Se o texto era altamente discutível, as interpretações de Araci Esteves e Ida Celina foram brilhantes. Conhecemos ainda uma surpreendente montagem de A ópera dos malandros, de Chico Buarque, referência ao texto de A ópera dos 3 vinténs, de Bertolt Brecht, por seu lado paródia de um outro trabalho mais antigo. A realização do grupo Coro dos Contrários, sob a direção de Ernani Poeta, surpreendeu pela ousadia e pela maneira como resolveu os desafios da montagem. E, enfim, num mês de personagens contraditórias, Maria Stuart, o clássico de Schiller, na direção de Antonio Gilberto, trouxe-nos Julia Lemmertz e Clarice Niskier, num momento muito especial do teatro.
Os grupos coreográficos que nos visitaram foram muitos. O Pilobolus, pela terceira vez, esteve na cidade, em junho. Em dezembro, seria a vez do retorno dos Mummenschanz, agrupamento europeu de excelente qualificação. Mas a cena de junho seria roubada por Luciano Alabarse, que apresentou um duplo espetáculo. Seu Platão: Dois em um mostrou-nos dois diálogos do filósofo grego, Górgias e O banquete, com perspectivas diametralmente opostas, numa experimentação verdadeiramente inesquecível.
E o mês teria ainda a coreografia de Maria Waleska, com a direção de Décio Antunes, no trabalho denominado Corte, num estranho e violento cenário que às vezes nos lembrava o filme Crash, a respeito da violência cotidiana.
No inverno, o prazer de ver Nathália Timberg
O inverno foi pesado neste ano, mas não impediu que o teatro continuasse sua movimentação. Em julho, além de mais uma temporada do grupo Tholl em Porto Alegre, tivemos espetáculos experimentais, como Desvario, ou apenas divertidos, como Cama de Casal. Mas houve um momento muito especial, com um recital de poemas a cargo de Nathalia Timberg, mostrando a obra de Adélia Prado, que emocionou a todos.
E quando agosto chegou, outra diva do teatro brasileiro visitava a cidade, Bibi Ferreira, que nos mostrava, mais uma vez, seu Piaf. E como provocação, ainda um Nelson Rodrigues, numa leitura diferenciada, de Gabriel Villela, propunha um espetáculo inovador em torno de O casamento. O grande choque, contudo, ficou por conta de A cabra, que Jofre Soares assinava enquanto diretor. Um espetáculo que provocou celeuma pelo tema e pela própria encenação, graças a um dos mais célebres dramaturgos norte-americanos ainda em atividades, Edward Albee. Para amenizar, a produção local de O avarento, a cargo de Gilberto Fonseca, divertiu e encantou a todos.
Em setembro, toda a cena local ficou centralizada pelo Porto Alegre em Cena. Passada a ressaca, outubro nos devolveu a ópera, através da montagem de Il trovatore, na série dos Concertos Comunitários Zaffari, em parceria com a Orquestra da Pucrs; assistimos mais uma vez ao Grupo Corpo, que estreou Imã, e depois de um divertido espetáculo de clowns franceses, Nelson Rodrigues foi, outra vez, o provocador de debates, com a montagem de A serpente, a primeira de duas montagens da mesma e última peça do dramaturgo carioca, a primeira delas, a cargo de Caco Coelho, bastante discutível, e a segunda, poucas semanas depois, sob a direção de Eduardo Kraemer, bem mais orgânica.
Mas ainda teríamos um Happy hour com Juca de Oliveira, relativamente decepcionante, para chegarmos em novembro com todo o fôlego. Foi um mês da dança. A cidade recebeu um belo presente com o Festival Internacional de Dança Mesa Verde, com espetáculos de vanguarda de todo o mundo, e ainda tivemos o retorno da montagem de Alice, do Grupo Gaia, sem dúvida, um dos espetáculos mais brilhantes a que a cidade assistiu na temporada. Novembro teria ainda outras surpresas, por exemplo, a chegada de Clandestinos, espetáculo oriundo do Rio de Janeiro, a partir de uma comédia musical de João Falcão, e por ele dirigida.
Também foi importante a performance do Grande Ballet de Moscou, que nos mostrou uma modernizada A bela adormecida, e, enfim, um inesperado espetáculo de Alcides Nogueira, muito mais vinculado à teledramaturgia, mas que, com As traças da paixão, resolveu explorar a fantasia e o imaginário, num espetáculo fortemente interpretado por Lucélia Santos.
Haja fôlego para tantos espetáculos! Dezembro mostrou que o ano só acaba mesmo no finalzinho. Claudia Raia lotou e fez sessão extra com seu musical Pernas pro ar mas a grande alegria do mês ficou com a Cia. Babel de Teatro que, num espaço incomum, uma galeria de arte, apresentou-nos dois trabalhos em torno de Bertolt Brecht, Elefantilt, adaptação de O filhote de elefante, e um musical dirigido por Cida Moreira, Cabarecht, em que Sandra Dani, Antonio Carlos Brunet, Zé Adão Barbosa e a própria Cida se divertem e nos divertem com criativas interpretações.
Com tudo isso, como imaginar que houve crise na cena teatral neste ano? Pelo contrário, foi uma das melhores temporadas já vividas, valorizada especialmente pelo exercício da criatividade, que nos permitiu assistir a espetáculos inesperados, altamente qualificados e que renovaram o entusiasmo pelo teatro.   
Destaques
Melhor espetáculo – Platão Dois em 1, de Luciano Alabarse
Melhor diretor – Luciano Alabarse, por Platão Dois em 1
Melhor ator – Lutti Pereira, em Platão: Dois em 1
Melhor ator coadjuvante – Fernando Braz, em O casamento
Melhor atriz coadjuvante – Lúcia Bendatti, em O avarento
Melhor figurino – Daniel Lion, em O avarento
Melhor cenografia – Félix Bressan em Corte, de Décio Antunes/Maria Waleska e Élcio Rossini, por Marleni, de Liliana Sulzbach e Márcia do Canto
Melhor trilha sonora – Luciano Alabarse, por Platão Dois em 1
Melhor espetáculo dramatúrgico de fora – A cabra, de Edward Albee e Os clandestinos, de João Falcão
Melhor espetáculo de dança (produção visitante) – Grande Ballet Clássico de Moscou, com A bela adormecida
Melhor espetáculo de dança (produção local) – Alice, do Grupo Gaia
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