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Histórias do Comércio e dos Serviços

- Publicada em 13 de Maio de 2013 às 00:00

Mimo transforma brincadeira em negócio


FREDY VIEIRA/JC
Jornal do Comércio
Ao deixar a cidade de Morano Calabro, em meados da década de 1950, o pequeno italiano sulista, de oito anos, Domenico Berardino Romano, descobriria uma brincadeira típica, que começava a se tornar um modismo no novo país. Foi na mesa de madeira de um vizinho que os primeiros lances no futebol de botão despertaram uma prática que o acompanha ao longo dos 65 anos de vida. A primeira metade apenas como passatempo, mas há 32 anos um negócio responsável pelo sustento da família e dos três filhos.
Ao deixar a cidade de Morano Calabro, em meados da década de 1950, o pequeno italiano sulista, de oito anos, Domenico Berardino Romano, descobriria uma brincadeira típica, que começava a se tornar um modismo no novo país. Foi na mesa de madeira de um vizinho que os primeiros lances no futebol de botão despertaram uma prática que o acompanha ao longo dos 65 anos de vida. A primeira metade apenas como passatempo, mas há 32 anos um negócio responsável pelo sustento da família e dos três filhos.
Hoje, a relação se restringe ao balcão. No entanto, ao empunhar uma palheta e mirar nas redes, os “tiros ao gol” ainda são certeiros. Seja por cobertura ou pelos cantos, a precisão característica ainda marca algumas jogadas de Domenico ou, simplesmente, seu Mimo – apelido que carrega desde 1980, quando decidiu fechar o antigo açougue do pai, na zona Sul de Porto Alegre, para abrir um bazar na Rua Fernando Machado, no Centro Histórico da Capital.
Nos primeiros anos, o local oferecia materiais de escritório, escolar e artigos para presentes. Em mostruário, uns poucos exemplares de times, feitos de acrílico, destinado às crianças, começaram a chamar atenção também dos adultos interessados em produtos mais qualificados. “Alguns pediam maiores, menores, mais altos, lixados. Percebi que estava diante de uma oportunidade”, revela.
Como em qualquer negócio, explica Romano, a regra principal é “não deixar o cliente na mão”, o proprietário do bazar Mimo iniciou um trabalho de pesquisa para descobrir fornecedores e onde encontrar os diversos tipos de botões. Entre 1985 e 1990, sempre que encontrava algo novo, ele costumava telefonar para clientes específicos, prática ativa até os dias de hoje. No período, algumas associações descobriram o local e passaram a fazer encomendas, o que acabou transformando a loja em uma espécie de point dos botonistas do Rio Grande do Sul. 
Duas mesas de 1,20 metro por 1,60 metro foram instaladas no sótão e funcionam como palco de campeonatos periódicos divididos em três categorias, de acordo com as habilidades de cada jogador. Ao longo da década de 1990, quando o botão passou a ser considerado um esporte de salão, assim como o bilhar e o xadrez - por meio da Resolução nº 14, de 29 de setembro de 1988 - Internacional e Grêmio montaram equipes para a disputa de torneios estaduais. Clubes tradicionais da cidade como Grêmio Náutico Gaúcho, Grêmio Náutico União, Sogipa e Círculo Militar ainda mantêm suas equipes e colaboram para o desenvolvimento da atividade.
Por isso, Romano identifica um processo de renovação dos públicos. Segundo ele, as peças deixaram de ser um brinquedo nostálgico para adultos e, mais do que um jogo, um esporte ou um brinquedo, o botão de hoje é “portal” de aproximação entre uma geração digital e outra analógica. “O botão aproxima o pai e o filho, o sobrinho do tio ou do avô. O pessoal se organiza e faz um torneio familiar com churrasco, com troféus e medalhinhas. Do contrário, a criança estaria grudada em uma televisão ou em um vídeo game, o que torna a relação individualista. Além disso, tem aquela aura que envolve um confronto entre pai e filho. Conseguir ganhar uma partida ou, as vezes, fazer um gol no próprio pai significa muito para a criança e estabelece uma competição bastante sadia”, resume.
Não fosse por isso, comenta, seria impossível que uma brincadeira criada na década de 1930 tivesse chances de concorrer com vídeo games que permitem uma infinidade de recursos, entre eles, a adaptação de tipos físicos e características exclusivas em dribles, passes e movimentos de cada um dos boleiros virtuais.  Nas mesas de madeira, por outro lado, é preciso contar com desenvoltura e uma palheta para tornar o botão o mais próximo possível de seu jogador correspondente. “Ter um Pelé ou um Garrincha em 1960 exigia responsabilidade”, brinca o apaixonado por futebol que ainda cultua o amor pela Juventus - time da infância na Itália - mas que adotou o Internacional no Brasil.

Após 32 anos, botões ainda representam 90% das vendas do bazar

Passados 32 anos da inauguração do bazar Mimo, os botões ainda representam 90% das vendas do estabelecimento. Apesar da diversificação que levou o fundador, Domenico Romano, a oferecer também refrigerantes, fotocópias, salgadinhos e outros assessórios, o carro-chefe ainda são os times prontos moldados em acrílico que custam em média R$ 25,00.
“Ultimamente vendo muito para esse público caseiro. Tem pessoas que praticam dentro das próprias empresas, como no caso de uma rádio da capital em que os estúdios estão todos equipados com mesas”, comenta.
Na outra ponta do negócio, seis fornecedores atendem à demanda dos chamados “profissionais”, que consomem artigos fabricados em galalite - um investimento que pode variar entre R$ 300,00 e R$ 600,00. Para manter a tradição, existe uma espécie de mercado informal em que o cliente chega com duas peças e pode escolher uma entre os balaios com preços de R$ 2,00, R$ 3,00 e R$ 5,00.
Com o tempo, o portfólio ainda passou a incluir mesas, caixas forradas em veludo para guardar times, palhetas, bolas e goleiras. Os distintivos também costumam ser um comércio à parte, pois é possível personalizar o material adesivo inclusive com a foto de um jogador, o que fica a encargo de um dos filhos, enquanto o outro se dedica à área administrativa.
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