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Cultura

- Publicada em 21 de Junho de 2018 às 01:00

Com CD Em trânsito, Lenine burla repetições

Lenine lança disco Em trânsito amanhã no Opinião

Lenine lança disco Em trânsito amanhã no Opinião


ROGÉRIO VON KRÜGER/DIVULGAÇÃO/JC
Caroline da Silva
Com patrocínio da Petrobras, a terceira semana da turnê do disco novo de Lenine chega a Porto Alegre nesta sexta-feira. Com 10 faixas, Em trânsito (Universal) foi lançado nas plataformas digitais em maio e o CD físico ficou disponível em 8 de junho nas lojas. O show de apresentação do 13º álbum do artista no Opinião (José do Patrocínio, 834), amanhã, às 20h, tem ingressos entre R$ 65,00 e R$ 160,00.
Com patrocínio da Petrobras, a terceira semana da turnê do disco novo de Lenine chega a Porto Alegre nesta sexta-feira. Com 10 faixas, Em trânsito (Universal) foi lançado nas plataformas digitais em maio e o CD físico ficou disponível em 8 de junho nas lojas. O show de apresentação do 13º álbum do artista no Opinião (José do Patrocínio, 834), amanhã, às 20h, tem ingressos entre R$ 65,00 e R$ 160,00.
Em trânsito subverte uma lógica de lançamentos fonográficos e é resultado de uma inquietação do pernambucano ao final de cerca de três anos rodando com o álbum Carbono (2015).
JC Panorama – Em uma vinda tua à Capital, há quase nove anos, em um Unimúsica, a matéria publicada neste jornal teve como título “Percussionista de violão”. Ainda te consideras um?
Lenine – Ah, sim, embora no Em trânsito, justamente, eu tento exorcizar essa ideia do violão quase como uma extensão do meu corpo.
Panorama – O que este disco traz de novo na tua trajetória?
Lenine – No fim de 2017, eu sabia que tinha que fazer alguma coisa nova, mas também não queria ficar seis, sete meses dentro de um estúdio. Só depois disso, você gerava um show; depois desse show na estrada, você gravava um DVD. Mas acho que isso não é de agora, sempre tive dentro de mim uma busca constante de burlar um sentimento de repetição que acho que qualquer profissão pode ter. A ponto de isso ser um estímulo para você, na sua criação solitária, quando se dá o início de tudo. Então, cheguei a essa conclusão que não fechava mais a conta fazer um CD. Não tem mais nem lugar físico para vendê-lo. Foi bacana, porque já tinha convidado o Bruno (Giorgi, seu filho) para fazer a direção do próximo projeto. E ele disse que só se faz CD para fazer show, que só via me divertindo quando eu estava no palco. E aí foi meio uma descoberta da pólvora, novamente. Eu disse: “É verdade”. E ele disse: “Você precisa fazer um show novo”. E eu disse: “É verdade”. E ele disse: “Show novo só com música nova.” E eu disse: “É verdade”. E foi uma maneira de descobrir um outro caminho. Até porque o melhor de tudo não é chegar, é o caminho que você percorre.
Panorama – No texto do João Cavalcanti sobre o álbum, ele diz que com este trabalho tu valorizas o processo do fazer musical.
Lenine – Depois te tantos anos fazendo o que a gente faz, é uma maneira de se manter instigado. Aí foi só festa e celebração de fazer a mesma coisa que você faz com a sensação de novidade permeando tudo. Me tranquei durante 20 e poucos dias com a minha turma, que me ajudou, ao longo desses anos todos, a adaptar os discos que fiz para o palco. Eu disse: “Vamos fazer o show primeiro”. E somente com esse tempo de ensaio, fizemos o show, alugamos uma casa aqui no Rio de Janeiro, convidei só os íntimos e gravamos tudo isso. Todos os produtos, independente do meio, seja físico ou digital, que estão saindo e vão continuar saindo, foram capturados nesse dia: CD, vinil, DVD e um documentário (estreia em 1 de agosto no Canal Brasil).
Panorama – Todo o trabalho foi Leve e suave (título da primeira faixa)?
Lenine – A leveza e a suavidade constituem um objetivo. Não quer dizer que a gente já alcançou, sabe? É uma procura. Tem outras coisas que descobrimos procurando outro caminho de fazer. Uma foi o fato de começar a lançar, de três em três meses, nas redes sociais, cada canção inédita do projeto produzida no estúdio. Até o final da turnê, é bem possível que eu tenha outro produto para lançar.
Panorama – O processo foi todo ao contrário, do inverso?
Lenine – É, e gerando produtos e na verdade testando maneiras. Só deu para fazer dessa forma com os muito íntimos. Porque não tive tempo hábil. Para você ter ideia, os meus parceiros, os cúmplices de longa data, caso de Lula Queiroga e Ivan Santos, só ouviram a canção há uma semana.
Panorama – Os momentos atuais do país e do mundo entraram nas composições?
Lenine – Sempre conto com a possibilidade de as pessoas continuarem descobrindo citações dentro das canções que eu faço. Isso significa que estão embutidas ali várias leituras, como camadas. Nada é gratuito, acredite. Foi a partir dessa sensação de estar vivendo uma distopia e da perplexidade com a velocidade vertiginosa das mudanças. Acho que “em trânsito”, mais do que o caos que pode significar, engloba a questão das mudanças, de tudo acontecendo de tal maneira que não existe nem futuro nem passado, só o agora. Esse disco é muito pautado nisso, no agora. E outra questão que foi acertada foi colocar o foco da atenção nessa banda: Pantico Rocha (bateria), Guila (baixo e sintetizador), JR Tostoi (guitarra) e Bruno Giorgi (guitarra). Para você ter ideia, Bruno Giorgi, que é meu filho e dirige, é o mais novo da banda. Ele praticamente nasceu dentro dela. O meu projeto de vida musical está muito associado a um tipo de conceito quase familiar, porque são pessoas que escolhi. O Em trânsito joga todo o foco nessa na coletividade, nessa sonoridade de banda. É meu projeto que tem mais relevo sonoro de banda. E eu me orgulho muito disso.
Panorama – E é por isso que tu separas um pouco do teu violão?
Lenine – Perfeito. É quase impossível dissociar o que eu faço do violão que eu toco. Percebi que quando vou mostrar uma canção, que geralmente eu fiz no violão, aquele violão meu está impregnado de ritmo, de baixas frequências, que é um hálito musical. Já desce um possível caminho, a roupagem que vamos fazer, a partir do violão que eu toco. Então, para mostrar as canções inéditas do Em trânsito, optei por mostrar sem o violão. Isso foi um exercício muito bacana, primeiro de desapego de minha parte, mas mais de ver a canção tomar rumos inesperados, porque as pessoas não viram o violão que eu fiz, inicial.
Panorama – Como tem sido rodar com esse resultado nos palcos?
Lenine – Talvez seja o projeto em que eu esteja interpretando mais as minhas canções. Isso ficou muito saboroso para mim, como instigamento. As palavras começaram a ganhar outro tipo de peso, de conotação. Foi um estímulo bom até na mecânica de fazer canção. É um projeto impregnado de novidade para mim.
Panorama – Na faixa 8, De onde vem a canção, transborda mais a importância de para onde ela vai, como ela existe, correto?
Lenine – Que bom você perceber isso, porque justamente é saber aonde a onda se propaga.
Panorama – O uso do pronome “ela” na canção Intolerância é uma forma de personificação do fenômeno contemporâneo?
Lenine – Sim, isso foi intencional. É uma parceria com Ivan Santos. Foi uma brincadeira, de estar falando de um sentimento e dar a impressão de falar de uma pessoa. E outra: essa senhora, chamada Intolerância, anda muito presente, principalmente nos meios digitais – onde cada um começou a exercitar um avatar que não é ele mesmo, que é uma outra coisa. E é sempre essa outra coisa que atua sob a égide da intolerância. É importantíssimo ficarmos atentos a isso. Temos que reconhecer essa intolerância.
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