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- Publicada em 21 de Junho de 2018 às 23:00

Hino à Liberdade

A França contra os robôs (É Realizações, 256 páginas, R$ 49,90, tradução de Lara Christina de Malimpensa) do grande escritor e pensador francês Georges Bernanos (1888-1948), originalmente era intitulado Hino à Liberdade. Realmente, o título inicial sintetiza as ideias e reflexões da obra, lançada no Brasil e na França em 1947 e que segue atual por trazer uma crítica visionária do predomínio da técnica sobre a liberdade. Esta nova edição está acompanhada de textos inéditos, correspondência com Virgílio de Mello Franco e Edgar de Godoi da Mata-Machado e entrevistas do autor a órgãos de imprensa do Brasil.
A França contra os robôs (É Realizações, 256 páginas, R$ 49,90, tradução de Lara Christina de Malimpensa) do grande escritor e pensador francês Georges Bernanos (1888-1948), originalmente era intitulado Hino à Liberdade. Realmente, o título inicial sintetiza as ideias e reflexões da obra, lançada no Brasil e na França em 1947 e que segue atual por trazer uma crítica visionária do predomínio da técnica sobre a liberdade. Esta nova edição está acompanhada de textos inéditos, correspondência com Virgílio de Mello Franco e Edgar de Godoi da Mata-Machado e entrevistas do autor a órgãos de imprensa do Brasil.
Bernanos, homem de fé e paixão, anticonformista e polemista foi jornalista e, com o sucesso de seu primeiro romance Sob o Sol de Satã, de 1926, passou a viver como escritor. Foi chamado de romancista do "realismo sobrenatural" e atacou o conformismo burguês, os conflitos interiores, sem ter medo de ser inimigo de todas as covardias que diminuem as pessoas e das tiranias que o esmagam.
Passou o período da II Guerra Mundial no Brasil, defendendo o seu país e pregando a favor da Resistência francesa. Retornou à França em 1948, onde faleceu três anos depois. A França contra os Robôs foi escrito no Brasil. Hitler já estava derrotado, mas Bernanos alertava sobre o predomínio da técnica e da eficácia sobre o valor da honra humana.
Em 1947, Bernanos já criticava o sistema materialista e mercantil, que pretensamente conduziria à felicidade humana. O culto à velocidade e ao rendimento desenfreado foram analisados por Bernanos, que sempre colocou a liberdade humana acima de tudo. Ele entendia que o perigo não estava na multiplicação das máquinas, mas, sim, no número crescente de homens habituados desde a infância a desejar apenas que as máquinas podem dar.
Num mundo altamente informatizado, mas repleto de desigualdades culturais, sociais, políticas e econômicas, cheio de fundamentalismos de várias espécies e violência, a obra de Bernanos, um panfleto visionário destinado a despertar consciências, mostra inacreditável atualidade. O livro convida os leitores a exercerem liberdade, não dependerem tanto de máquinas e robôs e, acima de tudo, a não se tornarem robôs, a serviço de alguns mecanismos nacionais e globais que andam por aí.

Lançamentos

  • Dreamlog (Diadorim, 98 páginas), livro de estreia da jornalista e escritora Lívia Araújo, repórter de política do Jornal do Comércio, traz textos muito bem elaborados, surrealistas e simbólicos sobre sonhos, ilustrados por Walter Pax. Porto Alegre, Santos (sua cidade natal) e outros cenários estão no livro, com imagens e ações aparentemente sem sentido. "Toda vida é sonho e os sonhos, sonhos são", disse Calderón de la Barca. Lívia sabe bem disso e bem escreve sobre.
  • Porto Alegre de todos os tempos (Farol 3 Editores, 100 páginas), do escritor e editor Paulo Palombo Pruss, que há quase vinte anos escreve sobre personagens de nossa cidade, traz crônicas deliciosas sobre o Bar João, a Gilda Marinho, o Bataclan, o Zé do Passaporte, Nega Lú, José Loureiro da Silva, Rádio Continental, Carlos Nobre, Confraria do Cachorro Quente, Café Rian e outros tesouros de todos os tempos. Prefácio de Paulo José e texto na contracapa de José Fortunati.
  • Todo mundo mente - O que a internet e os dados dizem sobre quem realmente somos (Alta Books, 336 páginas, tradução de Wendy Campos), de Seth Stephens-Davidowitz, colunista do New York Times, professor da Wharton School e ex-cientista de dados da Google, mostra que não precisamos confiar em tudo e todos e que podemos descobrir o que as pessoas realmente pensam, querem e fazem, no mundo digital, onde máscaras não faltam.

Clube do Bolinha, da Luluzinha e outros

Durante décadas as mulheres reclamaram da existência dos "Clubes do Bolinha", locais ou reuniões só com meninos ou homens, baseados nos personagens masculinos da revista com a turma da Luluzinha, mundialmente famosa personagem criada pela norte-americana Marjorie Henderson Buell, mais conhecida por Marje, em 1935. Nas histórias estava escrito na frente do Clube: Menina não entra. Aí Lulu, brincalhona, por exemplo, derramava um pote de melado na porta, só para implicar. Luluzinha tinha entre 8 e 10 anos, era esperta e teimosa, mas simpática e armadora de peripécias. Está agora com uns noventa e poucos anos e, pelo visto, vai viver por muito tempo ainda, ou para sempre, assim como Bolinha, Plínio, Aninha, Careca e outros imortais integrantes das histórias em quadrinhos. No Brasil Little Lulu e sua turma apareceram em 1955. Luluzinha foi considerada a garota mais famosa e amada do mundo. A Paramount fez 23 curtas-metragens com Lulu. Até hoje as expressões clube do Bolinha e clube da Luluzinha são utilizadas, para falar de encontros só com meninos/homens ou meninas/mulheres.
O fato é que hoje aumentaram os encontros, festas e atividades envolvendo apenas mulheres. Nada contra, claro, mas depois de décadas de reclamações a respeito de clubes de Bolinha, é de se pensar no assunto. Os clubes do Bolinha continuam, sem problemas. Democracia, respeito, liberdade e paz social é o que importa.
Os universos femininos e masculinos, bem como os respectivos interesses, sempre foram diferentes e a tal "guerra dos sexos" parece que chegará ao fim lá pelo quarto milênio. De mais a mais, hoje, segundo os especialistas, há dezenas de gêneros e aí falar em clubes de Bolinha e Luluzinha é meio superado. Há quem diga que, entre os "inimigos" tem havido muita diversão e comemoração nos campos de batalha da "guerra sexual". É boa ideia e constatação bem-humorada. É interessante pensar que as relações entre casais devem ser como jogar frescobol, jogo sem vencedores ou perdedores, ao invés de ser como partidas de tênis ou de outros esportes competitivos, onde um pensa que ganhou no final ou que conseguiu falar por último e ter, pretensamente, garantido sua superioridade.
Nessa questão de universos, gêneros e família, é bom lembrar que, segundo o IBGE, censo de 2010, no Brasil 50,06% das famílias não são mais compostas de pai, mãe e filhos. De lá para cá, com as transformações familiares, esse percentual deve ter crescido. Essas transformações nas famílias mostram que precisamos novos parâmetros de comportamento e que é preciso pensar em novas formas de convivência. Divisões muitas vezes não ajudam.
Em países nórdicos, por exemplo, existem normas e atividades, inclusive em escolas, para aproximar bolinhas e luluzinhas, que devem dialogar, conviver e aprender a fazer o serviço doméstico de modo igualitário. Convívio e diálogo no mesmo "clube" a partir da infância certamente produzem bons resultados para a vida adulta.

a propósito...

Sempre é bom (ou deveria ser) o encontro pacífico, amigo, divertido e produtivo entre as pessoas. Tudo bem aqui e ali reuniões de grupos só com homens, mulheres ou a turma da escola, mas é preciso cuidado para evitar guetos, isolamentos, preconceitos e discórdias desnecessários. Festa boa, "clube" bom, geralmente se faz com diferentes pessoas, não necessariamente do mesmo sexo, do mesmo time, da mesma empresa, da mesma religião ou crença político-partidária. Bolinhas, Luluzinhas, Plínios, Carecas, Aninhas, Glorias, Alvinhos, Jucas, Zecas, Raposos e outros podem e devem participar dos eventos. Ah, já é tempo do Plínio ser admitido no Clube do Bolinha, ao menos de modo experimental e para ver como seria. Sempre é tempo, também, para pensar se os Bolinhas não merecem mais convites.