Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Incêndio

- Publicada em 02 de Maio de 2018 às 00:52

Inquérito apurava riscos em prédio que desabou

Chamas atingiram edifício de 24 andares e rapidamente tomaram conta da estrutura, no Largo do Paissandu

Chamas atingiram edifício de 24 andares e rapidamente tomaram conta da estrutura, no Largo do Paissandu


NELSON ALMEIDA/AFP/JC
Um inquérito arquivado em março apurava eventuais riscos de segurança no edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou na madrugada de ontem, no Centro de São Paulo, após um incêndio. A investigação foi encerrada sem que se chegasse a nenhuma conclusão, nem se determinasse medidas para melhorar a segurança no local. Após a tragédia, a Promotoria de Habitação e Urbanismo do Ministério Público do Estado de São Paulo reabriu o inquérito.
Um inquérito arquivado em março apurava eventuais riscos de segurança no edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou na madrugada de ontem, no Centro de São Paulo, após um incêndio. A investigação foi encerrada sem que se chegasse a nenhuma conclusão, nem se determinasse medidas para melhorar a segurança no local. Após a tragédia, a Promotoria de Habitação e Urbanismo do Ministério Público do Estado de São Paulo reabriu o inquérito.
O incêndio que atingiu o prédio de 24 andares no Largo do Paissandu começou à 1h30min desta terça-feira e logo tomou conta do edifício. Os bombeiros foram chamados e trabalhavam para apagar o fogo e resgatar as vítimas quando ocorreu o desabamento. Até o final da tarde de ontem, havia confirmação de quatro pessoas desaparecidas e uma morta. Em torno de 150 famílias moravam no local e foram enviadas para abrigos.
A investigação foi aberta depois de uma representação feita ao Ministério Público com base em informações colhidas junto à Ouvidoria-Geral do Município e à Prefeitura Regional da Sé, em agosto de 2015. A representação foi assinada por um morador vizinho do prédio, Rogério Baleki. "Da minha janela, era possível ver uma fenda de 40 centímetros no prédio que desabou", disse ele. O morador afirmou, ainda, que aquela era uma tragédia anunciada, e que não se tratou de um acidente, mas de um crime.
O Ministério Público paulista também apurou que o local já tinha sido alvo de uma ação de despejo, movida pela União, mas foi reocupado depois da primeira reintegração de posse. Na época, em 2015, o órgão requisitou informações à prefeitura e pediu que o Corpo de Bombeiros fizesse uma vistoria, a fim de verificar as condições de segurança e se realmente havia algum risco para quem morava ou frequentava o local, inclusive a possibilidade de desabamento.
O prazo de conclusão da investigação foi prorrogado quatro vezes e ela foi finalizada apenas em março deste ano, sem nenhum encaminhamento. A recomendação foi pelo arquivamento. Hoje, o processo está no Conselho Superior do Ministério Público, que pode aceitar o arquivamento ou devolver o processo para a Promotoria de Habitação.

Segundo morador, briga de casal pode ter dado origem ao incêndio

Os habitantes do prédio dizem que, só na região do Largo do Paissandu, há 20 ocupações

Os habitantes do prédio dizem que, só na região do Largo do Paissandu, há 20 ocupações


Rovena Rosa/Agência Brasil/JC/
Uma briga de casal é apontada como a possível causa do incêndio que provocou o desabamento do prédio no Centro de São Paulo. Gabriel Archangelo, de 21 anos, que morava no local, testemunhou o momento em que um casal discutia no quinto andar, onde tiveram início as chamas. Embora fosse proibido, eles cozinhavam com álcool como combustível. O marido colocava mais líquido na fogueira quando a mulher o empurrou.
As roupas dos dois pegaram fogo. Eles arrancaram tudo do corpo e desceram nus com os filhos pela escadaria. Archangelo avisou à mãe que levasse seus 11 irmãos para baixo e correu até o décimo andar, alertando os moradores sobre o fogo. "Não deu tempo de todo mundo sair. Não deu", lamenta.
Fábia Rodrigues da Silva, de 30 anos, morava no terceiro andar com os dois filhos, de 17 e 10 anos. Pagava R$ 400,00 de aluguel e dividia o banheiro com outras 15 famílias que moravam no mesmo pavimento. "Acordei com uma gritaria, achando que era briga. Quando vi que era incêndio, mandei meus filhos descerem e fiquei procurando nossos documento", conta.
O aluguel era pago, segundo os moradores, para dois coordenadores do Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM). Ambos sumiram assim que o fogo começou. Os habitantes do prédio dizem que, só na região do Largo do Paissandu, há 20 ocupações. As regras no edifício eram rígidas - a água só era liberada de madrugada e os portões eram fechados às 19h. "Estava tudo trancado na hora do fogo. Se não fosse um morador de rua arrebentar a corrente, a gente teria morrido lá dentro", diz Fábia. 

Temer tenta visitar local da tragédia, mas é hostilizado

O presidente Michel Temer fracassou em sua tentativa de visitar o local do incêndio para prestar apoio às vítimas da tragédia em São Paulo e precisou deixar o local às pressas, levado por seguranças. Por volta das 10h, assim que desceu do automóvel que o levou até o Largo do Paissandu, Temer passou a ser hostilizado pelos moradores que, revoltados, passaram a xingá-lo de "golpista" e arremessaram objetos contra a comitiva que o acompanhava.
O presidente confirmou que "lamentavelmente" o edifício pertencia à União. Mais cedo, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, disse que estava em negociação para que a prefeitura assumisse o prédio. Temer foi levado por seguranças e deixou o local sem responder a algumas perguntas dos jornalistas.
Pesquisas de opinião têm mostrado que a popularidade do presidente atinge níveis rasos. Em abril, a pesquisa Ibope mostrou que a avaliação do governo Temer como "ótimo" ou "bom" oscilou de 6% para 5%, entre dezembro de 2017 e março deste ano. Já a desaprovação passou de 74% para 72%. O percentual dos que aprovam a maneira de governar de Temer se manteve em 9%, e o dos que confiam no presidente oscilou de 9% para 8%.

Bombeiros aguardam 48 horas para vasculhar escombros

Uma das pessoas desaparecidas é um homem que estava sendo resgatado quando houve o desabamento

Uma das pessoas desaparecidas é um homem que estava sendo resgatado quando houve o desabamento


NELSON ALMEIDA/AFP/JC
O comandante do Corpo de Bombeiros de São Paulo, Marcos Palumbo, disse ontem que a corporação vai aguardar 48 horas para começar a mexer nos escombros do prédio. Segundo ele, a prefeitura pôs à disposição uma retroescavadeira, alguns tratores e caminhões para retirada do entulho, mas, antes de mexer nos escombros, é preciso ter certeza de que não há comprometimento de algum elemento estrutural importante.
"Se não fizermos (essa estratégia de esperar 48 horas), pode acontecer de alguma máquina, alguma retroescavadeira bater em algum pilar lá dentro e a própria edificação, que já está colapsada, ter uma movimentação inadequada. E, se tiver alguma vítima, ela certamente vai ser afetada", disse Palumbo, reforçando que o efetivo continuará limpando o entorno enquanto não puder vasculhar os escombros.
Uma das pessoas desaparecidas é um homem que estava sendo resgatado no momento do desabamento e acabou caindo em meio aos escombros. De acordo com Palumbo, em balanço feito pela Secretaria de Assistência Social da prefeitura, há 45 pessoas que moravam no imóvel, mas não se cadastraram após o desabamento.
No entanto, não há como confirmar se elas estavam no edifício no momento da queda. As possibilidades são de que essas 45 pessoas estivessem em outros locais ou que nem morassem mais no prédio.