Brasileiro chegou à Europa com ¤ 350 no bolso

Do bolo ensinado pela mãe, catarinense cria rede de bistrôs na Alemanha


Brasileiro chegou à Europa com ¤ 350 no bolso

O catarinense Fabiano da Cunha Miguel saiu em 1999 de Porto Alegre, onde morava, com € 350 no bolso para tentar a vida na Europa. Não deu certo em Portugal, onde a situação não estava nada boa, e partiu, no ano seguinte, para Hamburgo, na Alemanha. E quem diria: foi do bolo de chocolate que sua mãe, dona Loreni, fazia aos domingos, em Sombrio, sul de Santa Catarina, que Miguel descobriu a receita para montar seu negócio e, como ele mesmo diz, começar uma grande história.
O catarinense Fabiano da Cunha Miguel saiu em 1999 de Porto Alegre, onde morava, com € 350 no bolso para tentar a vida na Europa. Não deu certo em Portugal, onde a situação não estava nada boa, e partiu, no ano seguinte, para Hamburgo, na Alemanha. E quem diria: foi do bolo de chocolate que sua mãe, dona Loreni, fazia aos domingos, em Sombrio, sul de Santa Catarina, que Miguel descobriu a receita para montar seu negócio e, como ele mesmo diz, começar uma grande história.
Miguel abriu em 2004 o primeiro dos atuais 12 bistrôs Filón Tapas Bar, tendo como carro-chefe o bolo de dona Loreni. Em 2014 e 2015, o Filón (mina de ouro, em espanhol) foi escolhido por um dos principais guias de gastronomia alemã como um dos melhores restaurantes de Hamburgo.
"Foi o dia mais feliz da minha vida e o orgulho de ser brasileiro", diz.
Antes de montar a empresa, Miguel buscou entender como se abre e se administra um negócio por lá. O fato de ter casado na Alemanha - ele foi o primeiro brasileiro a oficializar um relacionamento gay quando este tipo de união foi legalizado na Alemanha - também ajudou no projeto de ter seu bistrô e multiplicá-lo.
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GeraçãoE - Por que deixar o Brasil? 
Fabiano da Cunha Miguel - Tinha me mudado aos 18 anos de Sombrio para Porto Alegre, onde queria trabalhar e estudar, mas ganhava muito pouco. Um dia, assisti na televisão que muita gente estava saindo do Brasil para trabalhar no exterior. Decidi ir. Fiz passaporte e viajei, em 1999, com € 350 no bolso. Cheguei a Lisboa, pela facilidade do idioma, mas a situação estava pior que a do Brasil. Trabalhei, juntei dinheiro e parti para Hamburgo, na Alemanha, em 2000.
GE - O que você pretendia fazer na Alemanha?
Miguel - Cheguei e me matriculei em um intensivo de alemão. Três meses depois, estava ilegal, sem trabalho e meu dinheiro acabou. Como continuaria estudando?! No último dia de aula, cada aluno levou uma comida típica do seu país para confraternizar. Fiz um bolo de chocolate, seguindo o que minha mãe fazia todo domingo no Brasil. O bolo fez o maior sucesso. O diretor me ofereceu a limpeza da escola em troca do curso e, no intervalo, vendia bolo, que ganhou avelãs e chocolate amargo suíço. Para me sustentar, passei a vender porta a porta. Ali, surgiu meu negócio. Depois, patenteei a receita.
GE - Como do bolo surgiu um negócio?
Miguel - Com um empréstimo de € 20 mil e outras economias, abri o café Filón, em 2004. Na Alemanha, é quase impossível se legalizar. Éramos eu, uma funcionária e o bolo (risos). A jornada era puxada. Meu maior investimento foi contratar um contabilista aposentado indicado pela Câmara de Comércio e que ajudava jovens empreendedores. Pagava € 20 por hora para ele. Confesso que, algumas vezes, doía no meu bolso (pagar esse valor), mas aprendi a calcular preço, comprar insumos, como pagar impostos e administrar um negócio. O Filón, em pouco tempo, virou um ponto de encontro. Os clientes disputavam as únicas nove mesinhas para comer o meu bolo.
GE - Como foi a evolução do bistrô?
Miguel - Fui aprimorando o cardápio. Agreguei tapas, que os alemães adoram quando visitam a Espanha. E deu muito certo. Hoje, são 12 lojas em Hamburgo e 76 empregados. Todas estão sob minha administração. Quando veio a crise no fim dos anos 2000, busquei de novo apoio da câmara alemã e optamos por um modelo de equipe politécnica, no qual os funcionários são treinados para atuar em todas as funções. Fomos pioneiros em aplicar este conceito em restaurante. A pessoa sabe comprar produtos, abrir e fechar a loja, atender, cozinhar e cobrar do cliente. Os funcionários cozinham como verdadeiros chefs e tenho certeza que amam o que fazem. Esse sistema evitou que empregados fossem demitidos. Em vez disso, foram valorizados. Nosso lema é paixão por servir.
GE - Qual a dica que você dá para quem pensa em empreender na Alemanha?
Miguel - Não existe uma receita, fórmula ou um contabilista aposentado, mas vontade de vencer. Não aconselho ninguém a deixar o País, pois não é fácil. Mas, se a pessoa quiser fazer isso e ter sucesso, deve agir com muita integridade, dignidade, humildade e amor pelo que faz. Talvez a alma do negócio seja e é o segredo. À medida que a rede crescia, tive de me reeducar, aprender a ouvir críticas e ser mais cauteloso, além de respeitar os direitos dos funcionários. É importante ter consciência das obrigações e gerenciar tudo com muita responsabilidade.
Fabiano da Cunha Miguel/Divulgação/JC

FICHA TÉCNICA

QUEM: Fabiano da Cunha Miguel, 41 anos
ORIGEM: Sombrio (SC/Brasil)
DESTINO: Hamburgo (Alemanha)
SEU NEGÓCIO: Filón Tapas Bar (gastronomia)