O setor coureiro-calçadista está na expectativa de um inverno rigoroso para aquecer as vendas do mercado doméstico. O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, também espera que após as eleições o País encontre a “normalidade institucional”. “Precisamos de segurança, pois diante dessa turbulência atual é muito difícil conseguir uma sustentação para o desenvolvimento”, afirma o executivo.
Segundo Klein, o setor ainda tem esperanças de um segundo semestre melhor, já que até agora não se percebeu uma reação muito forte. “Temos picos de altos e baixos”, comenta. Os dados da Abicalçados indicam um empate técnico em relação ao ano passado, que também foi fraco. “A queda é um movimento continuado desde o 4º trimestre de 2012”, afirma Klein.
O indicador mais fiel para analisar o setor são os empregos. O ano passado encerrou com 289 mil postos gerados. No final do primeiro bimestre de 2018, o setor empregava 296 mil pessoas, 1,8% menos do que no mesmo período de 2017. “A reforma trabalhista teve um impacto positivo, que sinaliza uma mudança no relacionamento, mas em termos de impacto na competitividade é muito pouco. É preciso que se aprofunde esse processo com medidas mais incisas”, diz o presidente da entidade.
No mercado externo, a Argentina assumiu, pela primeira vez na história, o primeiro posto entre os destinos do calçado brasileiro no exterior. No primeiro trimestre de 2018, os argentinos importaram 2,4 milhões de pares por US$ 39,14 milhões, altas de 14,4% e de 9,8%, respectivamente, na relação com o mesmo período do ano passado. Os embarques para os Estados Unidos sofreram queda devido às oscilações cambiais.
“Seria uma irresponsabilidade torcer para um movimento contrário ao desenvolvimento nacional. O fato é que o câmbio, em um contexto de competitividade enfraquecida por questões estruturais e alta carga tributária, é um atenuante, pois nos dá oportunidade de praticar um preço mais competitivo no exterior. Com a tendência de o dólar cair a R$ 3, ou até mais durante o ano, teremos problemas significativos nas exportações”, afirma o presidente-executivo.
Klein explica que os Estados Unidos, principal destino do produto nacional desde os primeiros embarques, no final da década de 60, é um mercado muito sensível ao preço e, portanto, vêm diminuindo suas compras brasileiras desde 2017. No ano passado, as exportações para os EUA já haviam caído 14% (tanto em pares como em valores). O terceiro destino do trimestre foi a França, para onde foram embarcados 2,76 milhões de pares por US$ 18,26 milhões, altas de 52,4% e de 19,3%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado.