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relações internacionais

- Publicada em 06 de Maio de 2018 às 23:02

Empresas gaúchas ampliam apostas na China

Tradicional importador de soja e minério de ferro do Brasil, mercado consumidor chinês tem se tornado mais atraente a novos investimentos

Tradicional importador de soja e minério de ferro do Brasil, mercado consumidor chinês tem se tornado mais atraente a novos investimentos


/PETER PARKS/AFP/JC
Ainda que com atraso em relação a grandes multinacionais estrangeiras, empresas brasileiras vêm em um crescente movimento de olhar a China não mais como um polo para produção barata, mas sim como um vasto e importante mercado consumidor. E entre as companhias que já abriram os olhos para esse mercado estão empresas gaúchas de diferentes setores.
Ainda que com atraso em relação a grandes multinacionais estrangeiras, empresas brasileiras vêm em um crescente movimento de olhar a China não mais como um polo para produção barata, mas sim como um vasto e importante mercado consumidor. E entre as companhias que já abriram os olhos para esse mercado estão empresas gaúchas de diferentes setores.
Uma delas é a Fras-le, que em 2019 completará uma década de presença na China em franca expansão. Mas bons exemplos também abarcam outras marcas importantes, com Marcopolo, Tramontina e Calçados Bibi. Com diferentes estratégias, cada uma delas pode ser um norte para quem almeja alcançar o país, que, segundo especialistas, em menos de 10 anos, poderá se tornar a maior economia do mundo.
Diretor das Unidades Fras-le Brasil e Fras-le Ásia, Anderson Pontalti é um entusiasta dos investimentos na China e também um bom conselheiro para quem quer seguir os passos da empresa do grupo Randon no país asiático. Pontalti fala com propriedade de quem vai à China em média quatro vezes por ano e que capitaneia a ampliação da empresa por lá. Estabelecida na China com uma unidade fabricante de lonas para caminhões desde 2009, o executivo comandou a ampliação da fábrica, que, em novembro de 2017, praticamente duplicou a área de produção.
"Diferentemente de muitas empresas, optamos por fazer voo solo, sem a parceria com empresas locais. E foi uma grata surpresa ter dado muito certo, porque o mercado estava carente de produtos com custos menores e boa qualidade", comemora Pontalti.
O executivo ressalta que serão aplicados lá cerca de US$ 4 milhões em automatização e novos equipamentos. A meta é dobrar a capacidade de produção, que hoje é de 5 milhões de lonas para caminhões. Isso após ter aplicado US$ 2,5 milhões em 2017 para modernizar sua produção. A justificativa para o apetite é que o retorno do projeto, que era previsto para ser alcançado em até cinco anos, levou apenas três anos e meio. A produção tem como destinos Europa, África, Oriente Médio e, cada vez mais, o próprio mercado chinês.
"Se formos analisar onde erramos mais no começo, eu diria que foi na dificuldade de entender corretamente o mercado local pela falta de um parceiro de lá que nos ajudasse em questões culturais do negócio. Isso prejudicou as vendas domésticas, o que revertemos em 2017, com mudanças na gestão comercial", analisa o diretor da Fras-le.
Também da serra gaúcha para a China, a Marcopolo começou sua trajetória asiática em 2001 com um contrato de fornecimento de tecnologia para produção de três modelos de carrocerias de ônibus para a joint venture entre a Iveco e a CBC (fabricante local). Depois, a partir de meados dos anos 2000, deu início com a produção de peças, componentes e carrocerias de ônibus completas para atender ao mercado de exportação e não vendidas no mercado chinês. Desde então, as novidades não desaceleram: em março deste ano, a empresa obteve a licença do governo da cidade de Changzhou e abriu uma planta industrial para fabricar e montar os ônibus.
"Estrutura, serviços e políticas da Zona Franca de Comércio de Changzhou podem ajudar a Marcopolo a reduzir o ciclo de produção e custos. E decidimos registrar a Marcopolo (Changzhou) Bus Manufacturing Co. Ltda. e iniciar a fabricação e comercialização de componentes e carrocerias de ônibus", explica André Armaganijan, diretor de Estratégia e Negócios Internacionais da Marcopolo.
De forma mais tímida, mas também entre as precursoras, a Tramontina iniciou em 1999 suas atividades no mercado chinês através da Guangzhou Trading, com o objetivo de atender às necessidades de componentes e matérias-primas da unidade fabril da marca. Em 2009, passou a atender também às demandas de componentes de algumas fábricas da Tramontina no Brasil. Os principais produtos negociados por lá são componentes para panelas (cabos, alças, tampas de vidro, válvulas para panelas de pressão), aço para produção de ferramentas, motores elétricos, parafusos, rodas de náilon para carros, entre outros.

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Outro bom e emblemático exemplo de indústria gaúcha presente na China é o da Calçados Bibi, de Parobé, que já vende cerca de 50 mil pares por ano no país. A empresa é apontada como um dos grandes exemplos a serem seguidos por outras calçadistas gaúchas. Marlin Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi, destaca que o volume ainda é pequeno, mas mira o futuro. E ressalta especialmente a procura por qualidade por parte dos consumidores chineses. "Eles são extremamente detalhistas e exigentes, e procuram por calçados especialmente de couro e com alto valor agregado", assegura Kohlrausch.
A situação calçadista, no que se refere à China, evoluiu muito nos últimos anos, ressalta o presidente da Associação Brasileira das Indústris de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, fazendo referência à invasão histórica de calçados chineses no Brasil nos anos 2000. "Em boa parte o cenário mudou porque, desde 2010, está em vigor a medida antidumping, com taxa de US$ 10,22 por par de calçado importado, até 2021. Com isso, as importações da China caíram muito nos últimos anos, apesar de terem aumentado as compras do Vietnã e da Indonésia, por exemplo", diz Klein.
Por outro lado, ressalta o representante, há uma ação forte do setor para se fortalecer e colocar mais calçados brasileiros na China, com produtos de maior valor agregado e qualidade. Não é algo ainda muito expressivo, destaca o executivo, mas que, em médio prazo, será reforçado e com possibilidade de crescimento e de valorização da marca nacional.
"O avanço pode ser lento, mas importante, porque é um mercado importante e elevado consumo, mas claro que com suas características peculiares e riscos", alerta o presidente da Abicalçados.

Especialistas alertam para erro do foco na mão de obra barata

Baixo custo operacional já não é mais atrativo na China, uma vez que os salários sobem rapidamente

Baixo custo operacional já não é mais atrativo na China, uma vez que os salários sobem rapidamente


STR/AFP/JC
O baixo custo da mão de obra não é mais um atrativo nem uma realidade para as companhias brasileiras que pretendem se estabelecer na China. A empresa que estiver em busca disso como um diferencial estratégico para se desenvolver em terras chinesas terá problemas, alertam empresários e especialistas no país oriental.
Para ter um baixo custo com pessoal, as companhias estão buscando outros países, como por exemplo a Índia, destaca o diretor das unidades Fras-le Brasil e Fras-le Ásia, Anderson Pontalti. A empresa possui uma unidade fabricante de lonas para caminhões no país desde 2009.
"Por isso mesmo estamos nos focando em modernização e automatização da unidade chinesa, onde os custos de operação têm crescido bastante, como da mão de obra. Um exemplo é o dissídio dos trabalhadores, que tem variado entre 10% e 15% ao ano", exemplifica Pontalti.
O alerta sobre a questão dos baixos custos de produção também é feito por Túlio Cariello, coordenador de análise e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), e por Larissa Wachholz, sócia-diretora da Vallya, consultoria de negócios internacionais com atuação também na China.
"Quem quer produzir com foco nos baixos custos agora se volta agora para o Sudoeste Asiático, como para o Vietnã. Os salários na China sobem rapidamente, e quem tem esse foco e quer produzir lá terá dificuldades. Mas, se o foco da empresa for logístico, encontrará um sistema eficiente interno quando para exportações", destaca Cariello.
Entre os empecilhos para o ingresso de empresas no mercado chinês, destaca Larissa, além da língua, está a já elevada concorrência interna com muitas multinacionais lá instaladas, como no ramo de alimentos (com presença marcante de gigantes como Nestlé e Kraft Foods), além da burocracia para estruturar um negócio no país.
Outro ponto importante a ser levado em conta pelos empresários brasileiros sãos os interesses do governo chinês, que vai facilitar mais a entrada de empresas em setores nos quais busca obter desenvolvimento, como tecnologia, e frear em área em que quer proteger os interesses das companhias nacionais, em setores considerados estratégicos, como por exemplo o de petróleo.
"Mas existe uma classe média ascendente muito grande na China e bem afeita ao consumo dentro dos padrões ocidentais, com consumo de carne sendo elevado, por exemplo", pondera Larissa.