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Teatro

- Publicada em 03 de Maio de 2018 às 22:25

Adriana Mottola retorna com provocação argentina

Rodrigo Garcia, dramaturgo autor de Espalhem minhas cinzas na Eurodisney, é argentino, nasceu em 1964, tendo-se radicado na Espanha, em 1986 (ou seja, deixou seu país de origem com apenas 22 anos de idade). Sua primeira formação aproximou-o do chamado teatro do absurdo, recebendo especial influência do dramaturgo argentino Eduardo Pavlovsky e do dramaturgo polonês Tadeusz Kantor. Na Europa, aproximou-se especialmente das obras de Samuel Beckett e de Thomas Bernhardt. Estreia como dramaturgo nos anos 1993 (Los três cerditos) e 1996 (El dinero) e, dali para cá, já produziu mais de três dezenas de obras. Espalhem minhas cinzas na Eurodisney é a versão brasileira de Arrajod mis cenizas sobre Mickey, de 2006, que estreou no Teatro Nacional da Bretanha e também foi montada no Teatro de la Carniceria, de sua propriedade (alusão ao fato de ele ser filho de um açougueiro ou referência ao conteúdo de sua própria obra? Eis uma polêmica para os interessados neste tipo de discussão...)
Rodrigo Garcia, dramaturgo autor de Espalhem minhas cinzas na Eurodisney, é argentino, nasceu em 1964, tendo-se radicado na Espanha, em 1986 (ou seja, deixou seu país de origem com apenas 22 anos de idade). Sua primeira formação aproximou-o do chamado teatro do absurdo, recebendo especial influência do dramaturgo argentino Eduardo Pavlovsky e do dramaturgo polonês Tadeusz Kantor. Na Europa, aproximou-se especialmente das obras de Samuel Beckett e de Thomas Bernhardt. Estreia como dramaturgo nos anos 1993 (Los três cerditos) e 1996 (El dinero) e, dali para cá, já produziu mais de três dezenas de obras. Espalhem minhas cinzas na Eurodisney é a versão brasileira de Arrajod mis cenizas sobre Mickey, de 2006, que estreou no Teatro Nacional da Bretanha e também foi montada no Teatro de la Carniceria, de sua propriedade (alusão ao fato de ele ser filho de um açougueiro ou referência ao conteúdo de sua própria obra? Eis uma polêmica para os interessados neste tipo de discussão...)
Espalhem minhas cinzas na Eurodisney é formada por 26 pequenas cenas, aparentemente sem grande relação umas com as outras. Fica claro, contudo, com o desenvolvimento do espetáculo, de pouco menos de uma hora de duração, que o tema central que preocupa o dramaturgo é a questão do consumismo da sociedade contemporânea capitalista. Se formos atentar apenas para o texto apresentado, temos um longo e até certo ponto tedioso discurso em torno e contra tal consumismo, lembrando muito de perto a perspectiva do teórico Frances Guy Débord contra a sociedade espetáculo. Contudo, o espetáculo em si quebra esta discursividade e transforma o texto num curioso e provocante espetáculo, radicalmente poético, graças à simbiose do cenário e dos figurinos, que neste caso usam como material básico o plástico, sem dúvida, um dos elementos mais simbólicos da sociedade de consumo e da deletéria destruição do meio ambiente.
Não tive a oportunidade de ler o texto de Garcia, portanto, não sei se existem rubricas relativas a estes dois aspectos, cenário e figurino. De qualquer modo, entre a indicação e sua concretização sempre existe um enorme risco de se trair o dramaturgo e, portanto, mérito possuem Ricardo Vivian, que assina o cenário, a iluminação e a videografia - também fundamental no desenvolvimento do espetáculo - ao lado de Duda Cardoso, que responde pelos figurinos, meio futuristas e, ao mesmo tempo, ao serem constituídos fundamentalmente de plástico, evidenciarem certo artificialismo das figuras que os vestem.
O elenco deve ter sido escolhido a dedo por Adriane que, depois de um bom tempo, nos dá a alegria de assinar um novo trabalho em nossa cena: Janaína Pelizzon, Lauro Ramalho, Duda Cardoso, Geórgia Reck e Áquila Mattos, que se alternam em diferentes figuras que ocupam a cena e, de certo modo, ilustram as diferentes situações e comportamentos que são discutidos pelo dramaturgo.
A organização do texto, curiosamente, em que pese sua discursividade aparente, remete-nos, sem dúvida, a um oratório sacro, o que transforma o espetáculo, em última análise, numa espécie de ritual que parece, contraditoriamente, dessacralizar aquele mesmo discurso, na medida em que, muitas vezes, o texto contradiz o que está sendo apresentado em cena. Mais que isso, muitos dos movimentos realizados pelos personagens/tipos (coreografia de Douglas Jung) parecem traduzir certo estado de letargia ou de sonambulismo que invade a cena, de modo que aquilo a que assistimos não chega a ser conscientizado pelo personagem/tipo.
O resultado final provoca uma curiosidade constante, um tensionamento permanente entre a cena e a plateia: à curiosidade sobre o que aparecerá em seguida segue-se a necessária atenção ao que é dito pelo intérprete. Assim, o espetáculo se constrói como que em dois registros, o cênico e o textual, completando-se ambos, no entanto, enquanto uma unidade que é exatamente o efeito pretendido pelo dramaturgo. Um excelente espetáculo, inquietante, inteligente e sensível, provocador, para mexer com a cabeça e a sensibilidade do público.
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