A tolerância e a manipulação (É Realizações Editora, 304 páginas, R$ 59,90, tradução de Gabriel Perissé), do grande e consagrado professor Alfonso López Quintas, prestigiado catedrático da Universidade de Madri e membro da Real Academia Espanhola de Ciências Morais e Políticas, da Academia Internacional da Arte (Suíça) e da Sociedade Internacional de Filosofia (Armênia), é desses livros que vêm em muito boa hora.
Neste mundinho polarizado, nervoso, cheio de preconceitos e com manipuladores, arrogantes, autoritários e fanáticos em cada esquina, é bom que um pensador do quilate de López Quintas, nascido em 1928, traga sua importante contribuição para a tentativa de estabelecermos relacionamentos nos quais possamos, quem sabe, expressar nossos sentimentos e opiniões, e, ao mesmo tempo, respeitar os dos outros e até aproveitar e aprender com eles.
Para López Quintas, a ideia de que "toleremos uns aos outros porque, afinal, todos os valores são relativos" merece ser endossada, mas não como simplificação relativista. López Quintas entende que é importante praticar a tolerância na medida em que os valores são relacionais, isto é, se revelam em encontros intersubjetivos, e seu livro é capaz de indicar o caminho para uma nova teoria das relações humanas.
Não por acaso esta obra serviu de texto-base à Escola de Pensamento e Criatividade, fundada por López Quintas na Espanha e continuada pelo Núcleo Pensamento e Criatividade da Faculdade de Educação da USP. Hoje, pessoas são transformadas em meios, conceitos são deliberadamente distorcidos, e a capacidade criativa dos outros é subestimada. Vitórias retóricas são celebradas mesmo quando não envolvem convencimento pessoal.
O livro de López Quintas serve como um antídoto à perversão da intolerância. Devemos estar atentos, pensarmos com vigor e vivermos criativamente, para, quem sabe, construirmos uma sociedade na qual não seja preciso manipular e acabar com os parentes, amigos, vizinhos e quem mais estiver por perto.
Boa leitura para esses tempos de fanatismos religiosos, nacionalistas, políticos, partidários, ideológicos e futebolísticos. Quem sabe não é melhor dialogar com qualidade com o outro, e, aí, talvez, todos ganhem no jogo da vida.