Da tecnologia à gastronomia, onde essas pessoas investem sua energia profissional

A experiência de empreender após os 40 anos


Da tecnologia à gastronomia, onde essas pessoas investem sua energia profissional

A figura do empreendedor do Vale do Silício, nos Estados Unidos, de 20 e poucos anos, circulando de bermuda pelo escritório se torna cada vez mais comum. Tão comum que chama atenção ver pessoas com mais de 40 se aventurando em novos negócios. Pois, só no Rio Grande do Sul, há muita gente fazendo isso - inclusive com soluções que podem ser úteis aos jovens.
A figura do empreendedor do Vale do Silício, nos Estados Unidos, de 20 e poucos anos, circulando de bermuda pelo escritório se torna cada vez mais comum. Tão comum que chama atenção ver pessoas com mais de 40 se aventurando em novos negócios. Pois, só no Rio Grande do Sul, há muita gente fazendo isso - inclusive com soluções que podem ser úteis aos jovens.
O gaúcho Luís Henrique Rodrigues, 52 anos, e o grego Dimitrios Bessas, 43, provam que a tecnologia pode ser explorada, sim, por quem não se assemelha tanto ao estilo de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook.
A dupla lançou, no início do mês, em Porto Alegre, um aplicativo que permite compartilhar corridas de táxi. O Splitaxi defende como propósito a sustentabilidade, gerando benefícios para todos os usuários. "O passageiro ganha desconto, e o motorista aumenta sua receita", diz Luís.
Dividir um carro com outra pessoa gera 25% de desconto; enquanto, com outras duas, o trajeto chega a sair 35% mais barato. E essa redução no valor, ressalta Luís, não sai do bolso do motorista - como ocorre em outros apps do mercado.
Uma corrida de R$ 20,00 para apenas uma pessoa, custará R$ 15,00 para cada se compartilhada entre duas. Há, ainda, configurações de preferências. Mulheres, por exemplo, podem optar por andar só com outras mulheres. Uma das perguntas mais frequentes respondidas por Luís e Dimitrios é em relação à segurança, uma vez que as pessoas estarão nos veículos com desconhecidos.
Eles explicam que é realizada uma checagem do motorista, do veículo e do cartão de crédito do usuário. Para o futuro, ainda deve funcionar um botão de pânico, e a ferramenta saberá identificar quando houver desvios de trajeto fora do padrão. Luís conta que a taxa de crescimento semanal de adesão ao aplicativo está em 10%. A startup recebeu um aporte inicial de US$ 1,7 milhão de investidores nacionais e, agora, deve entrar em novas rodadas de investimento.
Ao longo de 2017, a plataforma foi testada em Belo Horizonte, por isso chega à capital gaúcha rodeada de expectativas. "Nosso algoritmo identifica pessoas em rotas comuns. Esse é o grande diferencial e nosso segredo industrial", expõe Luís.
Nos primeiros dias de maio, a marca participará de uma feira de startups, a Collision Conference, na cidade norte-americana de Nova Orleans, mirando o mercado internacional. A empresa também já se reuniu com empreendedores da Índia.
A inspiração para a solução foi trazida do país de Dimitrios. Na Grécia, conta ele, é comum táxis serem divididos com estranhos. A diferença é que lá as pessoas ficam nas esquinas gritando seus destinos finais, tornando o processo dependente da habilidade auditiva do motorista.
"O passageiro pode estar numa rua mais para dentro", brinca Dimitrios, sobre a facilidade que a tecnologia trará em relação à versão grega.
Luís considera que poder lançar um projeto como esse aos 52 anos lhe dá vantagens. "É uma startup jovem, mas com pessoas experientes. Foi uma série de pontos ligados que culminaram em maturidade para ofertar uma solução distinta", orgulha-se o engenheiro de produção.

Publicitário aposta em alimentos para intolerantes

Em algumas profissões, a experiência acumulada só joga a favor. Na Publicidade, segundo Fernando Mão, 48 anos, de Porto Alegre, a idade desvaloriza o profissional. Depois de ser demitido de uma agência, em 2014, ele viu que podia usar da maturidade para criar seu próprio negócio. A Cozinha do Mão é onde ele se encontrou com uma antiga paixão, a Gastronomia. E com um detalhe: sua produção é toda voltada para celíacos e intolerantes à lactose.
Mão, como era conhecido na Publicidade, faz quiches, muffins, tortas, pizzas, cachorrinhos e outras iguarias, que são vendidas por encomenda e nas principais cafeterias da Capital. Entre elas, Press Café, Agridoce, Lupita Cake Shop, Santíssimo. Só de quiches, carro-chefe do negócio, são comercializados entre 150 e 200 por semana.
Além de cozinheiro, Mão é quem faz as entregas, o marketing, as finanças, tudo. Participar de workshops do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) lhe ajudou a montar uma cozinha conforme as regras de mercado, no bairro Floresta.
A formalização demandou investimento de R$ 13 mil (que em um ano se pagou), para a compra de equipamentos, e veio depois de um período trabalhando em casa. Como sua esposa tem a doença celíaca, os cuidados para não haver contaminação já faziam parte da família.
Mão explica que produtos para intolerantes, muitas vezes, acabam ficando com uma consistência dura, devido às substituições de farinha. Para evitar isso, ele testou várias receitas - e considera que a maciez seja uma de suas marcas registradas.
Embora tenha uma rotina corrida, Mão diz que o empreendedorismo lhe garante qualidade de vida. Nos últimos anos como funcionário, conta, chegou a desenvolver síndrome do pânico. Seu empreendimento, hoje, gera quase a mesma renda de quando era publicitário, mas o ganho maior vem em saúde. "Estou um pouco mais pobre, porém mais feliz", diverte-se. "As lambadas da vida fazem a gente aprender", afirma, sobre o perfil de pessoa mais organizada que se tornou ao mesmo tempo em que virou empresário. Mão vê potencial no ramo em que atua, pois a doença celíaca não tem cura. "É um trabalho que tem futuro, diferentemente do publicitário, que vive numa agência só até os 50 anos", expõe. Uma torta de 24 fatias produzida pela Cozinha do Mão custa, em média,
R$ 135,00. No Instagram instagram.com/cozinhadomao, dá para acompanhar imagens do que ganha vida nas mãos dele.

Outra experiência para acalmar a inquietação

A médica Ana Beatriz Escobar, 44 anos, tem uma vida estabilizada, atuando na área de Medicina do Trabalho, em Porto Alegre. Sua inquietação, no entanto, fez com que empreendesse num ramo totalmente diferente.
Ao lado da atriz e cunhada Daniela Escobar, abriu o Empório Mediterrâneo, após uma viagem inspiradora à Califórnia, nos Estados Unidos, em 2016.
"Têm pessoas que vão chegando aos 40, 45, 50 anos e já estão contando o tempo para ir para casa. Eu ainda quero viver muita coisa", diz ela, que tenta passar, através de sua versão empreendedora, inspiração aos filhos. "Eles pensam 'a mãe já conquistou a vida profissional dela e ainda assim tem energia, está disposta, tem vontade de trilhar outros caminhos'", reproduz, com orgulho.
A experiência no atendimento ao público, que a Medicina proporcionou, é usada também no negócio próprio. "Aprendi que a gente está sempre se renovando ao conviver com pessoas. Ali (na sua empresa), estou buscando outro tipo de renovação. Estou aprendendo e vivendo num outro mundo de experiências que nunca tinha tido", detalha.
O Empório Mediterrâneo (instagram.com/emporiomediterraneopoa) funciona como loja e bistrô na Casa Prado, rua Dinarte Ribeiro, nº 148, loja 3. O carro-chefe do empreendimento são as saladas, as bruschettas e os azeites - tudo baseado na dieta mediterrânea, praticada pela dupla.