Desapego de roupas, curadoria de usados, moda sustentável, design autoral e artigos feitos à mão dão vida às feiras independentes e aproximam pequenas marcas dos consumidores

Feiras de bairro em Porto Alegre trazem uma alternativa ao consumo (e ao rolê)


Desapego de roupas, curadoria de usados, moda sustentável, design autoral e artigos feitos à mão dão vida às feiras independentes e aproximam pequenas marcas dos consumidores

Foi em 2011 que a publicitária Natália Guasso, 35 anos, e umas amigas juntaram o excedente de roupas que tinham sem usar e resolveram fazer um evento aberto para vendê-las, chamado de Brick de Desapegos. O resultado foi tão legal que Natália teve vontade de fazê-lo uma vez por mês. E fez. Há sete anos, o Brick engloba brechós itinerantes especializados em garimpo de peças, marcas autorais e pessoas que querem passar adiante suas vestes. "Quanta gente tem roupas não usadas, com etiqueta, guardadas no armário?", pondera.
Foi em 2011 que a publicitária Natália Guasso, 35 anos, e umas amigas juntaram o excedente de roupas que tinham sem usar e resolveram fazer um evento aberto para vendê-las, chamado de Brick de Desapegos. O resultado foi tão legal que Natália teve vontade de fazê-lo uma vez por mês. E fez. Há sete anos, o Brick engloba brechós itinerantes especializados em garimpo de peças, marcas autorais e pessoas que querem passar adiante suas vestes. "Quanta gente tem roupas não usadas, com etiqueta, guardadas no armário?", pondera.
Bem, o desapego virou negócio. Ou melhor, virou o negócio da vida de Natália. Com média de 50 expositores, 15 deles fixos, o Brick se remunera a partir das inscrições deles. São preços variáveis conforme o espaço usado, seja uma arara, uma mesa ou as duas opções, que podem ser compartilhadas por mais de uma marca também.
FÁBIO ALT/DIVULGAÇÃO/JC
Foto: Fábio Alt/Divulgação/JC
Com o tempo, começaram a entrar conteúdos no Brick, como pequenas palestras e workshops em torno da moda sustentável. Natália também diversifica os atrativos com a presença de araras convidadas e uma arara comunitária, que oferece espaço gratuitamente para pessoas experimentarem se desfazer de até 10 peças. E o que era para ser um momento de compra e venda vira um passeio de domingo. É o fenômeno que acontece.
Ao que Natália assumiu a feira como sua principal função e fonte de renda, veio a hora de diversificar o desapego. Hoje, a empreendedora comanda, além do Brick, a Tour Desapegos, que vai até outros municípios do Rio Grande do Sul, e o Brechó Desapegos, que transita entre bares e locais de Porto Alegre.
Acaba tendo, portanto, três eventos mensais, em diferentes datas. O brique fixo, que aconteceu muitas vezes no Bar Ocidente, neste ano, terá datas na Hebraica, também no bairro Bom Fim.
A tour, por sua vez, já tem agendas programadas até junho, em cidades como Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Canela. "Acho que muitas pessoas se deram conta que o mundo está se esgotando por conta das grandes indústrias, entre elas, a do fast fashion", contextualiza.
O brique acaba virando um momento de troca, onde, não raro, se vê pessoas contando as histórias das próprias roupas, relembrando e compartilhando momentos. "Diferentemente dos shopping centers, nas feiras, as coisas acontecem de outra maneira. É um ambiente mais livre, é outro universo, com outra energia e outra construção." A do consumo, inclusive. Na trajetória, até agora, Natália aprendeu a amar moda, a ser mais sustentável. "E isso foi uma revolução na minha vida. Aprendi a ser organizada, porque tem que ser organizada para produzir três feiras por mês, né?", ri.
FÁBIO ALT/DIVULGAÇÃO/JC
Foto: Fábio Alt/Divulgação/JC
Sobre empreender em um ramo que é, por natureza, colaborativo, considera libertador. "É muito bom botar ideias em prática e vê-las acontecer conforme a tua vontade. É uma luta que me trouxe muito incentivo, um apoio direto das pessoas. Assim, tu vais em frente feliz", conta.
Hoje, há diversas feiras em Porto Alegre, que movimentam marcas menores e propõem outro tipo de consumo. Cada uma com um nicho específico. Vejamos, abaixo, outros exemplos.

Empreendedorismo feito à mão

Com a mãe artesã, Fernanda Trindade, 30 anos, sempre conviveu, valorizou e consumiu artesanato. Em 2011, realizar uma pequena feira de bairro com o tema tornou-se uma válvula de escape da vida de publicitária em agência.
Sempre na companhia de cafés e bistrôs, o Café com Bazar, hoje, também é o negócio próprio e a principal atividade dela, que, desde o ano passado, largou os afazeres de publicitária para dedicar-se, integralmente, a dar espaço para marcas de produtos feitos à mão.
O objetivo é gerar renda e criar um ambiente leve e descontraído para tardes de sábado, bimestralmente, em Porto Alegre. "Comecei com 10 marcas de amigas. Hoje, vêm muitas pessoas do Interior, e a feira tem cerca de 35 expositores", conta.
Fernanda Trindade/Divulgação/JC
Foto: Fernanda Trindade / Divulgação / JC
Em edições especiais, chegam a 50, com profissionais de Porto Alegre e de outros cantos do Rio Grande do Sul. Já participaram expositores de São Leopoldo, Santa Cruz do Sul, Garibaldi, Novo Hamburgo e Bento Gonçalves. A cada edição, Fernanda tem o compromisso de manter o bazar com 30% de marcas inéditas.
Ao entrar de cabeça neste universo, ela também acabou diversificando seu negócio, com a realização de workshops para instrumentalizar as artesãs e os artesãos, como precificação, valorização do trabalho autoral e cópia versus referência.
Segundo a empreendedora, a feira é um programa para toda a família e vai além do cunho comercial, vira passeio. Por conta disso, sempre tem música ao vivo - usualmente, jazz -, cerveja artesanal e alimentação proveniente dos estabelecimentos do entorno.
A cada edição, acontecem, gratuitamente, oficinas de artesanato - normalmente voltadas para o público infantil. E tem o Chico, o cachorro da Fernanda e mascote da feira. "As pessoas cumprimentam primeiro ele do que eu no bazar", ri. Para comprovar que a feira é lucrativa aos expositores, a cada bazar, Fernanda aplica uma pesquisa de satisfação. "Reduzir a distância entre quem faz e quem compra é o principal. Existe muita vida fora dos centros comerciais", avisa ela.

'Consumidores querem coisas exclusivas'

Diferentemente de outras, a Open Feira de Design não é uma iniciativa independente, e sim um dos projetos da agência cultural Maria Cultura. A empresa começou a fazer muitos eventos de Design em Porto Alegre, como o Pixel Show e o Cut & Paste, e se aproximou do tema, somado à urbanidade. Foi em uma viagem a Palermo, na Itália, que a publicitária e professora universitária Camila Farina, 36 anos, dona da agência, viu como os bairros se ocupavam de feiras com os temas do design. E achou aquilo genial. Por que não fazer em Porto Alegre?
Em dezembro de 2015, a Open virou realidade, com o posicionamento de ser uma feira premium, com artigos pensados nos preceitos do design. "Não é um feira de artesanato ou de arte", diferencia Camila. Ela considera o sucesso das feiras em Porto Alegre uma decorrência da insegurança do ambiente urbano. As pessoas querem estar onde se sentem seguras. "Por isso os shopping centers estão cheios de gente", exemplifica.
A Open ocupa o Pátio Ivo Rizzo, no bairro Moinhos de Vento, com 40 expositores. Quando se alastra até a Casa Prado, são 70, e, em edições maiores (uma acontecerá na Unisinos, em junho), engloba até 120 marcas de design autoral. Em dezembro de 2017, o evento recebeu 10 mil pessoas.
Fabiano  Martins/Divulgação/JC
Foto: Fabiano Martins/Divulgação/JC
"O consumidor está querendo coisas mais inteligentes e exclusivas. E, na contramão da indústria, incentivar o novo, o que está começando. Na nossa feira, ocorre uma procura por curadoria. Muita gente vai já sabendo o que quer encontrar", aponta, sobre as marcas de roupas, sapatos, acessórios, joias, bolsas, objetos de decoração, papelaria, madeira, vasos, sabonetes, luminárias, entre tantos outros que habitam o evento.
Camila diz acreditar que o período de economia em baixa também contribui para o surgimento de iniciativas autorais. Soma-se isso ao perfil porto-alegrense de gostar de estar na rua compartilhando momentos, e o resultado é um modelo que dá resultados positivos. "Porto Alegre sempre foi muito cultural, tem muito público para arte e cultura", sublinha.

Como participar:

Desapegos: Os eventos da Natália não têm curadoria prévia de expositores, basta estar dentro da proposta de garimpos de roupas ou peças de desapego em bom estado. É possível fazer a inscrição on-line, rezar para ter vaga e pagar a taxa de R$ 100,00 ou R$ 120,00.
Café com Bazar: Por conta da demanda, Fernanda realiza curadoria dos participantes. O formulário para participação está sempre aberto, com um banco de dados de cerca de 3 mil artesãos. O pré-requisito é já ter uma marca estruturada com canais de comunicação/redes sociais e, claro, produção artesanal feita com originalidade. "Não deve ser apenas um hobby, e sim algo com foco em atividade profissional", explica ela. Não entram produtos de revenda, representações de marcas ou brechó. A inscrição custa R$ 220,00 à vista e R$ 250,00 parcelado.
Open Feira de Design: A Open também tem curadoria. Para fazer parte, é preciso seguir a proposta de design autoral e também já ter os canais de comunicação ativos e estruturados. Para descobrir o valor e se inscrever, é preciso entrar em contato com a Open.
 

Para conhecer as feiras, confira as próximas datas e locais:

14 de abril - Open Feira de Design, no Pátio Ivo Rizzo. Rua Félix da Cunha, 1.213. Das 11h às 19h
15 de abril - Brick de Desapegos, na Hebraica. Rua General João Telles, 508. Das 12h às 20h
21 de abril - Brick de Desapegos em Caxias do Sul com Mercado Chic, na Fabbrica. Rua Nelson Dimas de Oliveira, 11.
28 de abril - Open Feira de Design, no Pátio Ivo Rizzo e na Casa Prado. Rua Dinarte Ribeiro, 148. Das 11h às 19h
5 de maio - Brechó Desapegos, na Casa Prado. Rua Dinarte Ribeiro, 148.
12 de maio - Café com Bazar, no Box Interativo. Rua Anita Garibaldi, 1.763. Das 14h às 19h
Fabiano  Martins/Divulgação/JC
Open Feira de Design tem produtos variados | Foto: Fabiano Martins/Divulgação/JC