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- Publicada em 18 de Abril de 2018 às 22:13

Sê o que és

Numa peregrinação ao templo de Apolo, em Delfos, Sócrates encontrou, no seu frontispício, esta mensagem: "Conhece-te a ti mesmo". Voltou para casa com a incumbência de divulgá-la, como seu testamento para a humanidade. Descobriu que o ser humano conta com duas dimensões para se realizar, não necessariamente coincidentes: aquilo que se é e aquilo que pensa de si. Isto equivale a dizer que se nasce ontologicamente humano, mas deve ainda tornar-se tal psicologicamente. Daí a necessidade de conhecer-se e de acolher-se como se é.
Numa peregrinação ao templo de Apolo, em Delfos, Sócrates encontrou, no seu frontispício, esta mensagem: "Conhece-te a ti mesmo". Voltou para casa com a incumbência de divulgá-la, como seu testamento para a humanidade. Descobriu que o ser humano conta com duas dimensões para se realizar, não necessariamente coincidentes: aquilo que se é e aquilo que pensa de si. Isto equivale a dizer que se nasce ontologicamente humano, mas deve ainda tornar-se tal psicologicamente. Daí a necessidade de conhecer-se e de acolher-se como se é.
Para se estabelecer a harmonia e garantir a verdade, o conhecimento de si deve adequar-se à realidade. Só assim se evitará a tensão, que se tornaria insuportável entre o que se é e o que se deseja ser, o que equivale a uma falsidade, quando o que se pensa de si discorda do que verdadeiramente se é. Na concepção semita, que embasou a Revelação judaico-cristã, o contrário da verdade é a mentira. Envolve a vontade. A pessoa conhece a verdade, mas se opõe a ela. Não que apareça. Interpõe-lhe algum empecilho. A Escritura define, por isso, o diabo como o pai da mentira.
Na concepção grega, ao invés, o contrário da verdade é a falsidade. Situa-se no plano da inteligência. Quer-se a verdade, mas, por algum engano ou erro, se resvala, caindo na falsidade. A filosofia define, por isso, a verdade como adequação entre o intelecto - o que se pensa - e a realidade - o que é pensado. Daí o imperativo filosófico: "sê o que és". Cristo garante que só a verdade liberta. Leva cada um a acolher o que realmente é, superando tanto a mentira, que vem do maligno, como a falsidade, que surge do erro. Não há dúvida que os seres se dividem em muitas categorias: minerais, vegetais, animais e humanos. Mais especificamente, distinguimos os animados dos inanimados. Entre os animados, subdistinguimos os sexuados dos assexuados. A verdade obriga-nos a acolher cada um de acordo com o que é, sem lhe atribuirmos o que gostaríamos que fosse.
Por uma convenção a nos proporcionar um conhecimento social mais apurado, projetamos o gênero em todos os substantivos. Depois, nos obrigamos, por coerência e ortografia, a fazer concordar os adjetivos e provérbios com o gênero dos substantivos. Nossas línguas-mães, o grego e o latim, obras certamente primas da cultura humana, distinguem três gêneros: masculino, feminino e neutro. As línguas neolatinas suprimiram o neutro, mantêm apenas alguns pronomes neste gênero, como "isso" e "aquilo". Na concordância, porém, são assumidos como masculinos, de modo que se deva dizer que "isto é belo" e estaria errado quem falasse "isto é bela".
Acontece que a sexualidade marca de tal modo nosso modo de ser, pensar e falar que, na língua portuguesa, todos os substantivos, tanto minerais como vegetais e animais, devem ser enquadrados em algum gênero. Quem o erra só pode ser estrangeiro ou estranho à nossa linguagem. Soa mal e dói no ouvido dizer "a sol é clara" ou "o lua é bonito". O que não seria nada estranho ao alemão para o qual o sol "die Sonne" é feminino, e a lua "der Mond" é masculino. Na verdade, o gênero dos inanimados é puramente convencional. Não pode, porém, ser tomado indiferentemente sem trair a índole da língua. Trocar o gênero de seres animados sexuados, porém, constitui ignorância tanto linguística como biológica. Se alguém, desconhecendo a diferença entre pinheiro macho e fêmea, derrubasse os que não produzem pinhão, condenaria certamente todo seu pinhal à esterilidade. Se desconhecesse a qualidade do pólen, que fecunda as flores, e tentasse evitar a polinização, acabaria tornando infecundas as plantas.
Se, no plano vegetal, é difícil distinguir macho e fêmea, no plano animal, abstraindo de alguns, a questão é fácil: galinha e galo têm características diferentes, boi e vaca se distinguem com facilidade, o mesmo se diga do cordeiro e da ovelha. No plano humano, além dos hormônios próprios de cada gênero e de suas características físicas, a cultura marcou ulteriormente, com sinais convencionais, a distinção entre masculino e feminino para facilitar a identificação e evitar tanto o erro e a mentira quanto desagradáveis surpresas. Na língua italiana, não soa mal os pais designarem seus filhos como macho e fêmea, o que, para nós, no português, certamente soaria mal. Temos um conceito mais respeitoso do humano. Não duvidamos identificar e discernir homens e mulheres, nem moços e moças.
Quanto às crianças, a questão é mais difícil, o que não impede uma identificação aprimorada dos banheiros. Por incrível que pareça, o gênero masculino afeta também a maioridade e a aposentadoria. Na ideologia de gênero, há, pois, algo de falso ou de mentiroso. Não corresponde à realidade nem à cultura em que vivemos. Daí o imperativo: procura ser o que és!
 
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