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Teatro

- Publicada em 08 de Março de 2018 às 22:52

Duas histórias de amor

Na abertura formal da nova temporada teatral na cidade, a coincidência de dois diferentes espetáculos, estreando na mesma noite, focarem, de certo modo, tema semelhante: de um lado, o diretor Márcio Azevedo, também autor do texto, nos trouxe A noiva de cristal, fortemente interpretado por Ana Guasque, atriz de Porto Alegre, atualmente radicada no Rio de Janeiro. Do outro lado, o diretor Ernesto Picollo assina a montagem do texto de Lícia Manzo, dramaturga de televisão, para as interpretações da dupla Alexandra Richter e Bruno Garcia, igualmente vinculados à televisão. O primeiro resultado imediato: a sala teatral da Santa Casa com uma pequenina plateia e o Teatro Bourbon absolutamente lotado. São os tempos de hoje...
Na abertura formal da nova temporada teatral na cidade, a coincidência de dois diferentes espetáculos, estreando na mesma noite, focarem, de certo modo, tema semelhante: de um lado, o diretor Márcio Azevedo, também autor do texto, nos trouxe A noiva de cristal, fortemente interpretado por Ana Guasque, atriz de Porto Alegre, atualmente radicada no Rio de Janeiro. Do outro lado, o diretor Ernesto Picollo assina a montagem do texto de Lícia Manzo, dramaturga de televisão, para as interpretações da dupla Alexandra Richter e Bruno Garcia, igualmente vinculados à televisão. O primeiro resultado imediato: a sala teatral da Santa Casa com uma pequenina plateia e o Teatro Bourbon absolutamente lotado. São os tempos de hoje...
A noiva de cristal parte alegadamente de um acontecimento verídico: em 1935, uma jovem noiva é abandonada à porta da igreja e o noivo desaparece. Ela perde a razão, é internada num manicômio e ali permanece durante 15 anos, até a verdade ser descoberta. O dramaturgo, que é também o encenador, concebeu um espetáculo claramente vinculado às convenções cinematográficas. Trata-se de uma narrativa eminentemente poética, com cerca de hora e meia de duração, marcada de maneira incisiva pela trilha sonora, que amplia ainda mais a sensação de que aquilo a que assistimos seria mais um filme do que propriamente uma peça de teatro. Para o bem e o para mal. O andamento da peça está muito bem marcado, mas ao menos na sala da Santa Casa, como as caixas de som estão à frente da boca de cena do palco, acabam atrapalhando a fala dos intérpretes que não dispõem de microfones e, portanto, usam sua voz natural.
O enredo se desdobra, enquanto poeticidade, de maneira lenta, incluindo aqui e ali passagens de poemas e outras peças teatrais. Ana Guasque incorpora com profunda verdade sua personagem, a quem se doa de coração. Mas nem sempre a direção de ator ajuda: nos poemas, sente-se que há uma espécie de suspensão da ação dramática para a entrada do segundo texto, e isso quebra o ritmo do espetáculo. A cenografia de Zoé Degani é excelente, composta por alguns elementos de cena, como a cama e a escrivaninha, mas sobretudo aquelas folhas de plátano, espalhadas por todo o chão do palco, a visualizarem o outono explicitado no texto, torna a imagem profundamente emotiva e tocante. O enredo cria uma clara expectativa em relação aos acontecimentos pretéritos, até o final do espetáculo, quando se descobre a verdade. Acho que o dramaturgo tem dificuldades em resolver o nó dramático e este ápice se torna um pouco piegas. Mas já ouvi algumas mulheres que defendem o final sob a lógica feminina.
O elenco de apoio, Joana Izabel, Caroline Vetori e Fabrício Zavareze, tem pequenas entradas, não chegando a provocar maiores consequências.
Quanto a A história de nós 2, o tema já motivou aquele que, para mim, é o texto mais significativo de Vianinha, Mão na luva, que assisti num espetáculo inolvidável, muitos anos atrás. O casal, depois de alguns anos, acaba se separando. Num momento de reencontro, para ultimarem a distribuição dos objetos, já que ele deixará a casa, recordam seu convívio anterior e os motivos da crise. Na peça de Vianinha, esta ação era distribuída em dois atos, falsamente repetitivos, mas, ao mesmo tempo, com ênfases diversas, o que transformava o texto e o espetáculo como que em um poema vivo. Lícia Manzo, a autora da peça agora apresentada, é menos pretensiosa e mais prosaica.
O casal tem um filho, já em idade escolar, e o reencontro, que permite as rememorações, é cômico e talvez um pouco lugar-comum demais, mas permite reconhecimentos e identificações dos espectadores com as situações mencionadas, de modo a provocar reações da plateia. Os dois intérpretes desenvolvem suas ações com naturalidade e empatia. A peça, em ato único, guarda um ritmo acelerado, numa boa direção de Ernesto Picollo e o espetáculo, enfim, embora não seja nenhuma obra-prima, agrada a uma plateia menos exigente, que foi lá para conhecer ao vivo os dois intérpretes da televisão.
Têm razão aqueles que dizem que todo o romance é sempre uma história de amor. Algumas peças de teatro também.
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